A cidade dos rocamboles guarda um centro histórico que poucos conhecem

Explore o lado pouco conhecido de Lagoa Dourada e descubra igrejas, memórias e histórias que resistem no coração de uma cidade doce por natureza

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
13/09/2025

Conhecida nacionalmente por seu doce mais famoso, o rocambole, a cidade de Lagoa Dourada em Minas Gerais esconde um charme que vai muito além do sabor açucarado. Localizada no Campo das Vertentes, a cerca de 180 km de Belo Horizonte, a cidade faz parte de uma rota de municípios que preservam o modo de vida interiorano. Seu maior encanto está justamente na autenticidade de um centro histórico que não foi transformado para o turismo, mantendo as marcas do tempo em suas ruas tranquilas, igrejas centenárias e tradições que atravessam gerações.

  • Um centro histórico que resiste discretamente, com ruas que guardam histórias.

  • A devoção religiosa que molda a vida e a arquitetura do vilarejo.

  • Um destino que convida a um turismo afetivo, feito de conversas e sentimentos.

O que as ruas do centro histórico revelam?

O centro antigo de Lagoa Dourada conserva construções que refletem os modos de vida dos séculos passados. Embora muitas delas tenham passado por adaptações, ainda é possível notar fachadas originais, muros de pedra e janelas com venezianas de madeira, típicas da arquitetura colonial mineira. É uma verdadeira viagem no tempo, onde a história não está apenas em museus, mas nas calçadas e fachadas de cada casa.

Andar pelas ruas do centro é como fazer uma viagem silenciosa por camadas de memória. Não há placas turísticas em cada esquina, nem grandes agências promovendo o lugar. Tudo ali é sutil, e quem observa com atenção nota os vestígios de uma cidade que cresceu em torno da fé, do comércio local e dos saberes manuais — elementos que continuam presentes no cotidiano de seus moradores.

A Igreja Matriz de Santo Antônio e o legado da fé

No coração da cidade, a Igreja Matriz de Santo Antônio é um dos pontos mais emblemáticos do centro histórico. Com traços do barroco mineiro, a construção religiosa ainda preserva sua imponência e carrega marcas do tempo em sua estrutura. Os altares entalhados, as imagens sacras e os sinos que tocam nas celebrações dão o tom da religiosidade que sempre guiou a vida do povo local, de forma simples e constante.

A devoção a Santo Antônio é forte entre os moradores, e a festa dedicada ao padroeiro movimenta o município com missas, barraquinhas e apresentações culturais. Durante esse período, o centro histórico se enche de vida, com moradores e visitantes ocupando as ruas em um clima de fé e celebração. É nesse momento que o passado e o presente se encontram de forma mais vívida.

Que capelas guardam as heranças silenciosas?

Além da matriz, Lagoa Dourada abriga outras capelas espalhadas pela cidade e suas comunidades rurais. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, por exemplo, que permanece preservada e carrega consigo a memória das celebrações religiosas realizadas ao longo dos anos. Muitas dessas capelas foram erguidas por devoção popular e continuam sendo mantidas com cuidado por pequenos grupos de fiéis.

Esses espaços de fé também são importantes do ponto de vista arquitetônico e histórico. Algumas capelas ainda guardam objetos litúrgicos antigos e imagens originais, revelando a arte e a devoção de tempos idos. Visitar essas construções é conhecer o modo como a religiosidade moldou a formação da cidade e continua sendo uma base importante de seu tecido social.

  • A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, um local de fé e história.

  • Comunidades rurais que preservam e mantêm suas pequenas capelas.

  • Objetos litúrgicos e imagens antigas, que contam a história da fé local.

Sabores que nasceram no quintal e ganharam o país

Embora o rocambole tenha se tornado símbolo nacional, ele começou de forma simples, em cozinhas de quintal e padarias de bairro. A tradição doceira da cidade está diretamente ligada às famílias que, geração após geração, foram aprimorando suas receitas e fortalecendo a identidade local. Hoje, a cidade conta com estabelecimentos tradicionais e familiares, onde o visitante pode não só comprar o doce, mas também conhecer um pouco da história por trás de cada receita.

Muitas dessas docerias ficam no centro da cidade e preservam a estética mineira em seus balcões e vitrines. O cenário é o mesmo de décadas atrás: bancos de madeira, paredes simples e aquele cheirinho inconfundível de massa assando. Comer um rocambole recém-feito, acompanhado de um café coado, é uma experiência que sintetiza o sabor e a história do lugar.

Turismo cultural e afetivo: mais do que visitar, é viver

Lagoa Dourada não é destino de turismo em massa — e talvez esteja aí seu maior valor. A cidade acolhe o visitante com o ritmo de quem vive sem pressa. É o tipo de lugar em que um passeio pode virar conversa, e uma parada para café se transforma em um mergulho na história de quem vive ali.

O turismo em Lagoa Dourada é feito de experiências afetivas. Seja acompanhando a missa na matriz, seja ouvindo histórias antigas contadas no banco da praça, tudo convida a permanecer, a observar, a sentir. Não há nada de espetacular em sentido visual, mas há muito de especial no que se vive.

Que paisagens se revelam entre as montanhas?

A geografia do município contribui para criar uma atmosfera pacífica. Entre colinas, campos abertos e vegetação típica do interior mineiro, Lagoa Dourada oferece ao visitante paisagens suaves e agradáveis para caminhar, respirar e contemplar. Trilhas simples e estradas de terra levam a pontos altos de onde é possível observar o casario, as plantações e o horizonte tingido de tons dourados no fim da tarde.

Esse cenário convida à fotografia, ao descanso e à reconexão com o tempo natural das coisas. Não há parques estruturados ou atrativos moldados para o turismo, mas a natureza está ali, acessível, integrada ao cotidiano da cidade, em harmonia com sua história. A paisagem de Lagoa Dourada é um reflexo fiel de sua alma: tranquila, autêntica e cheia de beleza simples.

  • Caminhadas tranquilas por estradas de terra.

  • Vistas panorâmicas de colinas e campos abertos.

  • Pôr do sol com tons dourados que pintam o horizonte.

+ Leia também: Turismo em ascensão, Brumal ganha espaço entre os melhores roteiros mineiros

Um destino que surpreende quem olha com atenção

Lagoa Dourada é muito mais do que a terra do rocambole. Seu centro histórico, com igrejas silenciosas, ruas discretas e costumes preservados, guarda um modo de vida raro nos dias de hoje. Um destino que não precisa se mostrar para encantar — basta se permitir olhar com atenção, ouvir com calma e deixar-se tocar por tudo o que ali ainda permanece vivo.

O verdadeiro patrimônio de Lagoa Dourada está nos gestos simples que continuam sendo repetidos. A troca de receita na feira, o sininho da igreja tocado manualmente, o banco na calçada ao fim da tarde. A cidade não vive de passado congelado, mas de uma tradição que pulsa todos os dias. Quem escolhe conhecer seu centro histórico está em contato com uma forma de viver que segue resistindo.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Rocambole artesanal de doce de leite sobre uma mesa com pano xarez
Rocambole artesanal de doce de leite sobre uma mesa com pano xarez

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