A história curiosa por trás do nome de um dos lugares mais tranquilos de Minas

Morro D'Água Quente, em MG, já teve águas termais, mas a mineração as secou. Conheça a história e a tranquilidade deste refúgio em Catas Altas

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
14/11/2025

Existe um pequeno distrito em Minas Gerais cujo nome promete uma experiência termal, mas entrega o oposto: águas refrescantemente frias. Morro D’Água Quente, um pacato refúgio pertencente a Catas Altas, é um local de tranquilidade absoluta e de uma história fascinante. Seu nome não é um engano de marketing, mas sim um "fóssil linguístico", uma cicatriz que conta a história de como a febre do ouro pôde alterar a própria geologia de um lugar, fazendo desaparecer suas fontes termais para sempre.

  • O paradoxo do nome: um local famoso por águas... frias.

  • A história das fontes termais que foram destruídas pela mineração de ouro.

  • O Balneário Municipal como o atual centro de lazer do distrito.

O que há de tão curioso no nome "Morro D'Água Quente"?

A curiosidade que define o Morro D'Água Quente em Catas Altas em Minas Gerais é a primeira pergunta que todo visitante faz ao mergulhar no seu famoso Balneário Municipal: "Mas onde está a água quente?". A resposta, para a surpresa de muitos, é que ela não existe mais. O distrito, aninhado em um vale cercado pelas montanhas da Serra do Espinhaço, é um local de águas abundantes, mas todas elas são geladas, descendo direto da serra.

O nome do local, portanto, é a principal atração histórica. Ele é um vestígio de um passado longínquo, uma memória oral que se manteve mesmo após a característica que o batizou ter sido permanentemente apagada. Visitar este distrito não é sobre encontrar águas termais, mas sim sobre descobrir a história dramática de por que elas desapareceram, e o que o local se tornou após essa transformação.

Como a mineração de ouro apagou a principal característica do local?

Para entender o que aconteceu, é preciso voltar ao início do século XVIII. O arraial, fundado por volta de 1718, surgiu justamente por causa de suas fontes de águas mornas, que brotavam no sopé da serra, uma raridade geológica que atraiu os primeiros moradores. No entanto, o distrito está localizado em uma das regiões mais ricas do Ciclo do Ouro, vizinho de potências como Catas Altas, Santa Bárbara e não muito longe de Mariana e Ouro Preto.

A febre do ouro na região foi devastadora e intensa, praticada principalmente pelo método do "desmonte hidráulico". Garimpeiros e grandes companhias de mineração desviavam cursos inteiros de rios e córregos para usá-los como jatos de água, lavando as encostas dos morros em busca do metal precioso. Essa atividade, realizada por décadas sem qualquer controle, alterou drasticamente o relevo, o lençol freático e a pressão geológica subterrânea, resultando no soterramento e desaparecimento completo das fontes termais.

Um refúgio de tranquilidade no sopé do Caraça

Hoje, livre da agitação da mineração e ainda pouco explorado pelo turismo de massa, Morro D'Água Quente é um dos lugares mais tranquilos de Minas. O distrito, com suas poucas ruas de calçamento antigo e um casario colonial singelo e colorido, é a definição de "sossego mineiro". A paisagem é dominada pelo verde intenso da vegetação e pela silhueta imponente da Serra do Caraça ao fundo, um cenário que convida à pausa.

O distrito funciona como um excelente ponto de apoio para quem visita Catas Altas (a sede municipal fica a apenas 8 quilômetros) ou o próprio Santuário do Caraça. A atmosfera bucólica, o ar puro da montanha e o ritmo lento da vida local são os principais atrativos para quem busca se desconectar do caos urbano, oferecendo uma hospitalidade genuína em pequenas pousadas e restaurantes familiares.

O que o visitante encontra no Balneário Municipal?

Sem as águas termais, o distrito de Morro D'Água Quente em Catas Altas, Minas Gerais, reinventou sua vocação hídrica. O principal ponto de encontro e lazer é o Balneário Municipal, uma estrutura pública que capta as águas (frias) que descem da serra para formar uma grande piscina natural. É um local muito procurado por famílias da região, especialmente nos dias quentes de verão, para se refrescar.

O balneário oferece uma infraestrutura simples, mas funcional, ideal para passar o dia. A piscina, cercada por gramados e pela mata nativa, proporciona um banho revigorante em um cenário natural muito bonito. É importante frisar: a água é limpa, corrente e de nascente, mas não é termal. É o local perfeito para relaxar após uma caminhada ou simplesmente para curtir o clima serrano.

O Balneário do Morro d'Água Quente oferece:

  • Uma grande piscina de água natural (fria).

  • Vestiários e banheiros.

  • Ambiente familiar e tranquilo.

  • Contato direto com a vegetação local.

  • Quiosques para lanches.

  • Água corrente e limpa.

A história que permanece nas pedras

Apesar da transformação geológica, a história colonial de Morro D'Água Quente sobrevive em sua arquitetura. O marco do distrito é a pequena e charmosa Capela do Senhor do Bonfim (ou Igreja de Nosso Senhor do Bonfim), erguida por volta de 1786. Com uma fachada simples, em estilo barroco, estruturada em barro e com fundação de pedra, a igreja guarda a memória da fé do antigo arraial.

Caminhar pelas ruas do distrito é como fazer uma pequena viagem no tempo. O casario, embora modificado ao longo dos séculos, mantém a volumetria e as características da época colonial, com janelas de madeira e paredes espessas. É um cenário que convida à fotografia e à caminhada sem pressa, absorvendo a atmosfera de um lugar que parece ter parado no tempo, onde cada casa conta um pouco da história local.

Quais são as outras atrações naturais da região?

A localização de Morro D'Água Quente é estratégica para quem busca o ecoturismo. O distrito é cercado por uma natureza exuberante, sendo ponto de partida ou passagem para diversas cachoeiras e trilhas. A proximidade com o Parque Natural Municipal do Caraça (o famoso Santuário) é um grande atrativo, permitindo ao visitante explorar as dezenas de cachoeiras, picos e trilhas daquela que é uma das reservas mais importantes do Brasil.

Nas proximidades do próprio distrito, os viajantes podem encontrar quedas d'água de menor porte, mas de grande beleza, como a Cachoeira do Maquiné, ideal para um banho rápido em meio à mata. Além disso, ao se hospedar ali, o visitante está a poucos minutos de todas as atrações da sede, Catas Altas, incluindo o famoso Bicame de Pedra, outra obra de engenharia do ciclo do ouro, e a icônica Igreja Matriz com vista para a serra.

Atrações próximas ao distrito:

  • Santuário do Caraça

  • Cachoeira do Maquiné.

  • Sede de Catas Altas (8km).

  • Igreja Matriz de Catas Altas.

  • Bicame de Pedra.

+ Leia também: Por que cada vez mais famílias estão escolhendo este cantinho de Minas para descansar?

Um nome que é um monumento

O Morro D'Água Quente nos ensina uma lição poderosa sobre a história de Minas Gerais. O nome do distrito não é uma propaganda enganosa; é um monumento. É o registro histórico, gravado na toponímia, do impacto profundo e, por vezes, irreversível que a busca pelo ouro teve sobre a terra. A ausência da água quente é, ironicamente, a história mais importante que o local tem para contar.

Visitar este refúgio em Catas Altas é, portanto, uma experiência de dupla camada. É a oportunidade de desfrutar de uma tranquilidade absoluta e de águas frias revigorantes, ao mesmo tempo em que se reflete sobre o preço pago pela riqueza que fundou a capitania. É um destino que oferece menos conforto termal e mais densidade histórica.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Casa histórica com corez azul, branca e amarela, em Morro D'Água Quente, distrito de Catas Altas MG
Casa histórica com corez azul, branca e amarela, em Morro D'Água Quente, distrito de Catas Altas MG

Morro D'Água Quente/MG - Foto: Igor Souza

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