A história esquecida por trás do Parque Municipal em Belo Horizonte
Descubra os segredos pouco contados do Parque Municipal de Belo Horizonte. Uma viagem envolvente pela história esquecida de um dos lugares mais icônicos da capital mineira
No coração pulsante de Belo Horizonte, cercado pelos arranha-céus e pelo ritmo acelerado da cidade, está o Parque Municipal Américo Renné Giannetti. Um refúgio verde que, para muitos, é apenas um lugar de descanso, lazer e encontros. Mas por trás de seus portões de ferro e suas alamedas sombreadas por árvores centenárias, esconde-se uma história rica, marcada por transformações, simbolismos e memórias quase apagadas pelo tempo.
Criado ainda nos primeiros passos da jovem capital mineira, o parque guarda capítulos surpreendentes sobre a construção de Minas Gerais e da própria BH. E entender essa trajetória é uma forma de reconectar-se não apenas com a natureza, mas com as raízes de um povo e de uma cultura que moldaram a cidade como a conhecemos hoje.
Um parque que nasceu junto com a capital
O Parque Municipal foi idealizado como parte do projeto de construção da nova capital mineira, ainda no fim do século XIX. Inspirado no modelo de cidades modernas da Europa, o então presidente do estado de Minas, Afonso Pena, sonhava com uma capital planejada, arrojada e funcional — e o parque era parte essencial desse plano.
Projetado pelo paisagista francês Paul Villon, o espaço foi criado seguindo os moldes dos jardins europeus da Belle Époque. Caminhos sinuosos, lagos artificiais, fontes e espécies de plantas importadas fizeram do parque um símbolo de modernidade e sofisticação. Era, acima de tudo, um lugar pensado para representar a “nova Minas Gerais”: mais urbana, progressista e conectada ao mundo.
O palco da elite e da cultura belo-horizontina
Durante décadas, o Parque Municipal foi o principal ponto de encontro da elite belo-horizontina. Ali aconteciam bailes, concertos, eventos esportivos e até apresentações de ópera ao ar livre. O espaço era mais do que um parque — era uma vitrine da vida social da cidade.
Foi também dentro do parque que surgiu um dos equipamentos culturais mais importantes de Minas Gerais: o Palácio das Artes. Antes disso, outros espaços como o Teatro Francisco Nunes e o antigo coreto já promoviam encontros culturais e artísticos, transformando o parque em um verdadeiro polo de efervescência cultural.
Memórias apagadas pelo tempo
Com o passar das décadas, muitos dos elementos originais do parque foram se perdendo. O antigo zôo, por exemplo, que encantava crianças com suas araras e macacos, foi desativado. Parte dos jardins foi modificada, e monumentos históricos desapareceram sem registro adequado.
A urbanização ao redor, o aumento do tráfego e a negligência em alguns períodos fizeram com que o parque perdesse parte de seu prestígio. Mas mesmo diante desses desafios, ele permaneceu como um dos únicos respiros verdes da região central de Belo Horizonte — e como guardião silencioso de uma história que merece ser lembrada.
A resistência da natureza em meio ao concreto
Hoje, o Parque Municipal é uma das maiores áreas verdes de BH, com cerca de 182 mil metros quadrados e mais de 280 espécies de árvores. Muitos visitantes o veem apenas como um lugar de lazer — para caminhar, andar de pedalinho ou sentar à sombra de uma árvore. Mas cada canto do parque carrega vestígios da história de Minas e da capital.
As árvores centenárias, os canteiros simétricos e os portões de ferro fundido são, por si só, testemunhas vivas de mais de um século de transformações. Em tempos de crescimento urbano desenfreado, sua permanência é um ato de resistência — da memória, da cultura e da própria natureza.
Redescobrindo o passado para valorizar o presente
Resgatar a história esquecida do Parque Municipal não é apenas um exercício de nostalgia. É uma forma de reconhecer a importância do patrimônio urbano e natural de Belo Horizonte. É entender que aquele espaço vai muito além de seus bancos e jardins: ele é um espelho da cidade, com suas glórias, contradições e desafios.
Iniciativas recentes têm buscado revitalizar o parque e aproximá-lo novamente da população. Projetos culturais, visitas guiadas e programas de educação ambiental mostram que há um movimento crescente para devolver ao parque o protagonismo que ele sempre mereceu.
Um convite à curiosidade e ao cuidado
Visitar o Parque Municipal com esse olhar atento à sua história é como entrar em uma máquina do tempo. Cada árvore, cada caminho e cada estrutura nos leva a imaginar como era a vida no início de BH. É um exercício de empatia e consciência — e também um lembrete de que o que é antigo não deve ser esquecido.
Para moradores e turistas, o parque representa uma das melhores oportunidades de vivenciar a história de Minas Gerais de forma viva, sensorial e acessível. Basta atravessar seus portões para perceber que, em meio ao barulho da cidade, ainda ecoam as vozes e os passos de um passado que resiste em permanecer.
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Reencontre BH com outros olhos
Se você já passou pelo Parque Municipal sem notar sua importância histórica, talvez seja hora de voltar. Mas desta vez, com outro olhar — aquele que reconhece a importância dos espaços públicos não só como locais de lazer, mas como páginas abertas da nossa história.
A próxima vez que for ao parque, experimente caminhar devagar. Observe os detalhes, sinta os cheiros, ouça os sons. Porque ali, no meio do caos urbano, ainda vive uma parte esquecida, mas essencial, da alma de Belo Horizonte.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


Belo Horizonte, MG - Foto: Igor Souza