A história que nasceu do ouro e hoje encanta pelo turismo
Descubra a história de Itabirito, em Minas Gerais, e veja como uma cidade nascida do ouro se transformou em um destino de turismo, cultura e memórias vivas
Entre montanhas e casarões coloniais, Itabirito conta uma história que começou nas minas de ouro e continua nas ruas cheias de vida. Localizada entre Belo Horizonte e Ouro Preto, a cidade soube transformar o passado minerador em uma herança cultural que hoje atrai visitantes de todo o país.
• Surgiu a partir dos ciclos da mineração no período colonial.
• Mantém igrejas, casarões e tradições que atravessaram séculos.
• É hoje um polo turístico que combina história, natureza e gastronomia.
Como nasceu Itabirito e qual foi sua ligação com o ouro?
A origem de Itabirito está diretamente ligada às expedições em busca de ouro no século XVIII. Bandeirantes e mineradores encontraram nas encostas do Pico de Itabirito um ponto promissor, onde se formaram os primeiros arraiais. Aos poucos, o local cresceu, abrigando capelas, comércios e pequenas lavras que movimentavam a economia local.
O nome da cidade vem do tupi “Itabirito”, que significa “pedra que risca vermelho”, em referência ao minério de ferro abundante na região. Com o declínio da extração aurífera, Itabirito se reinventou, mantendo viva sua essência e o traçado colonial que até hoje marca as paisagens do município.
O que restou do período colonial na cidade?
Caminhar pelo centro histórico é como revisitar o século XVIII. A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, com sua fachada barroca e interior ornamentado, é um símbolo dessa herança religiosa e artística. Próximo a ela, casarões coloridos, antigas mercearias e praças preservam o charme das vilas coloniais mineiras.
Outro marco importante é o Complexo Turístico da Estação, onde o visitante pode conhecer a história ferroviária local e ver exposições que retratam a vida cotidiana de Itabirito em diferentes períodos. O local é ponto de partida para roteiros culturais e caminhadas históricas.
Como a cidade se conectou à Estrada Real?
Itabirito integra oficialmente o Caminho Velho da Estrada Real, rota aberta no período colonial para o escoamento do ouro e o transporte de mercadorias entre o interior de Minas e o litoral fluminense. Por sua posição geográfica estratégica, o município se tornou um ponto de passagem obrigatório, servindo de apoio para tropeiros, comerciantes e viajantes que cruzavam o trajeto entre Vila Rica (atual Ouro Preto) e o Rio de Janeiro. Essa vocação de entreposto fez com que a cidade se desenvolvesse em torno das rotas e pontes que ligavam o sertão às grandes vilas mineradoras.
Hoje, o visitante que percorre o caminho histórico encontra em Itabirito um dos trechos mais preservados e autênticos da Estrada Real, onde casarões coloniais, igrejas e ruínas rurais ainda guardam o charme de outros tempos. Além de carimbar o passaporte do viajante, a cidade oferece experiências que unem cultura, fé e natureza. Muitos aproveitam para seguir até distritos como Acuruí, que conserva antigas fazendas e trilhas usadas por tropeiros, ou explorar o entorno do Pico de Itabirito, ponto de observação que permite imaginar como esses caminhos moldaram a história mineira.


Itabirito/MG - Foto: Igor Souza
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem: o coração histórico de Itabirito
Localizada no centro da cidade, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem é um dos maiores símbolos da história e da religiosidade de Itabirito. Sua construção teve início no século XVIII, quando a cidade ainda vivia o ciclo do ouro, e serviu como ponto de encontro para os primeiros moradores e viajantes que passavam pela região. A fachada simples e elegante guarda traços do barroco mineiro, enquanto o interior surpreende pela beleza das talhas douradas, das imagens sacras e dos altares laterais dedicados a santos de devoção popular.
Mais do que um patrimônio arquitetônico, a Matriz representa a fé que atravessou gerações. É ali que acontecem as principais celebrações religiosas, como as festas da padroeira e as procissões que reúnem toda a comunidade. Para quem visita Itabirito, conhecer a igreja é compreender como a espiritualidade se entrelaça à história local, revelando o quanto a devoção ajudou a construir a identidade da cidade.




Passaporte da Estrada Real/MG - Fotos: Igor Souza
Quais experiências o visitante pode viver em Itabirito
Visitar Itabirito é mergulhar na cultura mineira em sua forma mais genuína. A cidade oferece experiências que unem hospitalidade, tradição e sabor, como experimentar a comida feita no fogão a lenha e os doces típicos produzidos artesanalmente por famílias locais.
Entre as atividades mais procuradas estão o passeio ao Mirante do Cristo, com uma das vistas mais bonitas da região, e o roteiro de cachoeiras em fazendas e propriedades rurais. Esses lugares reforçam o equilíbrio entre turismo histórico e natureza preservada, uma das marcas do município.
O que simboliza o Pico de Itabirito para a cidade?
O Pico de Itabirito é um dos marcos mais emblemáticos do município e um verdadeiro símbolo de sua identidade. Com cerca de 1.600 metros de altitude, o pico servia como ponto de referência para os antigos exploradores que buscavam ouro e caminhos entre as serras. Sua presença imponente domina a paisagem e inspira moradores e visitantes, representando a ligação profunda entre o povo de Itabirito e a terra que sustentou sua história.
Atualmente, o acesso ao topo está restrito por questões ambientais e de segurança, mas o pico continua sendo admirado de vários pontos da cidade e das estradas que cortam a região. Mais do que um monumento natural, ele é um marco afetivo, guardião silencioso das memórias da mineração e testemunha do tempo. Sua silhueta, visível de longe, segue como um lembrete da força, da resistência e da beleza que caracterizam Itabirito e suas origens.
Quais histórias escondidas ainda vivem nas ruas de Itabirito?
Por trás das fachadas antigas, há narrativas que atravessam gerações. Uma das mais conhecidas é a de Ângela, mulher negra que conquistou sua liberdade no século XVIII e se tornou figura importante na vida social e religiosa local, deixando bens à Irmandade do Rosário. Sua trajetória é símbolo de resistência, fé e protagonismo feminino em tempos de escravidão, e até hoje desperta curiosidade entre pesquisadores e moradores.
Esses relatos mostram que Itabirito não é feita apenas de pedras e ouro, mas também de pessoas que moldaram sua identidade. Entre as histórias que ecoam nas ruas estão:
Festas do Rosário, que preservam a cultura afro-mineira e reúnem diferentes gerações;
Procissões antigas, que ainda percorrem os mesmos caminhos de séculos atrás;
Sinos e igrejas, que continuam marcando o tempo e a memória da cidade.
Cada detalhe reforça a ideia de que o passado segue vivo no presente, pulsando no cotidiano de quem vive e visita Itabirito.
Como o turismo vem transformando o presente da cidade?
Nos últimos anos, Itabirito tem investido na recuperação de espaços históricos e na promoção de eventos culturais que resgatam tradições e movimentam a economia local. As praças foram revitalizadas, casarões receberam novas funções e o turismo ganhou força com a chegada de visitantes em busca de autenticidade e hospitalidade.
O calendário anual é um reflexo desse novo momento e inclui:
Feiras gastronômicas que valorizam a culinária mineira feita em fogão a lenha;
Festivais de música e arte, que unem talentos locais e visitantes;
Celebrações religiosas, que mantêm viva a devoção que deu origem ao município.
Essas iniciativas transformam o turismo em um elo entre passado e futuro, mantendo viva a essência de Itabirito e fortalecendo o sentimento de pertencimento da população.
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O que faz de Itabirito um elo entre o passado e o futuro?
Mais do que um lugar de belas paisagens, Itabirito é o retrato da alma mineira. Em suas ruas convivem fé, arte e trabalho, compondo um mosaico que resiste ao tempo. O visitante percebe que a cidade não apenas preserva sua história — ela a vive diariamente, com orgulho e simplicidade.
Conhecer Itabirito é compreender como o ouro deu origem a um patrimônio que vai além do material. É descobrir uma cidade que transforma memória em experiência, tradição em cultura e hospitalidade em valor. Cada viagem por suas ruas é um convite para participar de uma história que continua sendo escrita entre montanhas, fé e sentimento mineiro.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.




Igreja Matriz de Itabirito/MG - Fotos: Igor Souza