A vila mineira que guarda belezas históricas e virou patrimônio turistico
Conheça Vila do Biribiri, vila operária tombada em Diamantina que mescla história, natureza e charme — descubra por que ela impressiona
Em meio às matas e rios que cruzam o Parque Estadual do Biribiri, surge uma vila que pouco mudou desde o final do século XIX. Vila do Biribiri mostra como a memória industrial sobrevive ao tempo, com casas, igrejas e ruínas que mais parecem cenografia viva. Visitar ali é entrar num recorte real da Minas histórica com natureza pulsante ao redor.
Origem industrial e trajeto da fábrica têxtil
O conjunto arquitetônico preservado e tombado
Cachoeiras, trilhas e cenário natural integrado ao patrimônio
Como nasceu Vila do Biribiri e qual era seu propósito original?
A vila foi criada em 1876 para abrigar uma fábrica de tecidos idealizada pelo então bispo Dom João Antônio dos Santos e seus irmãos. Esse empreendimento buscava dar emprego, estruturar uma comunidade e usar a energia do Rio Biribiri para mover os teares. Em seu auge, abrigou cerca de 600 operários — famílias inteiras que viveram ali com escola, armazém, casas e atividades comunitárias.
A fábrica — chamada Estamparia S.A. — funcionou até cerca de 1972-1973, quando as dificuldades econômicas e mudanças no mercado têxtil provocaram seu encerramento. A partir daí, a vila foi esvaziada aos poucos, muitos moradores saíram, e boa parte das edificações ficou abandonada, embora algumas tenham sido transformadas em hospedagens e restaurantes para visitantes.
O que torna o conjunto arquitetônico de Biribiri especial?
O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico de Biribiri foi tombado em 1998 pelo IEPHA-MG, reconhecendo seu valor histórico e cultural. Esse tombamento engloba casas operárias, galpões industriais, igreja local e o layout da vila em sua relação com o relevo — tudo preservado de modo bastante autêntico.
Nas construções, predominam técnicas como taipa de mão, adobe e estruturas de alvenaria cobertas por telhas francesas. Muitas residências são pintadas de branco com portas e janelas azuis, conferindo ao lugar um visual harmônico e contemplativo. Alguns galpões e maquinários antigos permanecem visíveis como testemunhos da indústria que animou a vila por quase um século.
Em que cenário natural a Vila do Biribiri está inserida?
Vila do Biribiri está dentro dos limites do Parque Estadual do Biribiri, reserva que protege nascentes, matas nativas, campos rupestres e cursos d’água. O parque ocupa uma extensa área da Serra do Espinhaço e é reconhecido pelas cachoeiras da Sentinela e dos Cristais, além de trilhas e panoramas naturais que atraem entusiastas do turismo ecológico.
O rio Biribiri, que corria ao lado da vila, foi essencial não só para abastecimento, mas também para acionar a usina hidrelétrica que fornecia energia à fábrica e à comunidade. Essa interdependência entre natureza e tecnologia é parte do charme singular do lugar.
Histórias pessoais ecoam na vila hoje
Alguns moradores fixos resistem: relatos locais mencionam que atualmente há cerca de três pessoas que vivem o tempo todo na vila, mantido o caráter silencioso e nostálgico do local. Essas figuras se tornaram guardiãs da memória comunitária, contadoras de memórias de quando a fábrica ainda pulsava com vida.
Ao percorrer as ruas quase desertas, é possível vislumbrar antigas placas, relógios de parede, sinos e utensílios que permanecem como eco de épocas em que Biribiri era auto suficiente, com escola, barbearia, clube e comércio interno. Cada objeto parece silenciar e ao mesmo tempo contar histórias de quem viveu ali.


Vila do Biribiri/MG - Foto: Igor Souza




Vila do Biribiri/MG - Fotos: Igor Souza
Qual é o estado atual de visitação e estrutura turística?
Hoje, a Vila do Biribiri oferece estrutura turística reduzida mas significativa: há restaurantes — como o “Raimundo sem Braço” — que servem refeições regionais em fogão a lenha e algumas casas que recebem hóspedes. Embora o número de moradores permanentes seja pequeno, muitos usufruem da vila nos finais de semana ou temporadas.
O acesso se dá por estrada de terra que atravessa o parque estadual. Em períodos de chuva o trecho pode se tornar mais exigente para veículos normais, o que exige cuidado e planejamento. A visitação costuma combinar parada rápida na vila com passeios às cachoeiras próximas.
Por que Biribiri é considerado um patrimônio vivo de Minas?
Apesar de sua condição de vila pobremente habitada, Biribiri vive como testemunho material de um passado industrial e comunitário quase extinto em Minas Gerais. O fato de suas casas, igrejas e maquinários ainda estarem visíveis e integrados ao ambiente natural atrai historiadores, fotógrafos e turistas interessados no Brasil além dos roteiros convencionais.
Além disso, a preservação desse lugar não se limita ao abandono: iniciativas de restauração dos galpões, uso adaptado de casas antigas para hospedagens e museus ao ar livre indicam que Biribiri está em processo de reencantamento. Não é estático, e sim patrimônio que respira.
Quais desafios acompanham a vilarejo no futuro?
Manter as construções frágeis — muitas de taipa ou adobe — numa zona sujeita a intempéries exige constante cuidado e recursos. A erosão, infiltração de água, desprendimento de tijolos e vegetação invasora são ameaças comuns.
Outro desafio está em equilibrar turismo e preservação: aumentar a visitação pode gerar pressões sobre o solo, o entorno florestal e o próprio conjunto arquitetônico. Cabe à gestão ambiental e cultural planejar intervenções que garantam que Biribiri não se torne uma “vila vitrine”, mas sim um local onde a memória e a natureza continuem fazendo sentido.
Quais roteiros são recomendados para quem visita Vila do Biribiri?
Para aproveitar ao máximo a experiência, recomenda-se:
Caminhar pelas ruas da vila e explorar as casas, igreja e galpões históricos
Visitar as cachoeiras da Sentinela e dos Cristais, acessíveis por trilhas leves
Desfrutar da gastronomia local em restaurantes da vila, com pratos típicos e ambiente rústico
Combinar esses elementos permite ao visitante uma imersão que vai além do visual: é sentir o ritmo lento do lugar e entrar no tempo de Biribiri.
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A construção da Vila do Biribiri e o nascimento de uma comunidade operária
A Vila do Biribiri foi construída por volta de 1876, em uma época em que Diamantina começava a diversificar sua economia após o declínio do ciclo do ouro e dos diamantes. O projeto foi idealizado pelo bispo Dom João Antônio dos Santos e seus irmãos, que decidiram aproveitar o potencial hídrico do Rio Biribiri para mover uma fábrica de tecidos. A partir daí, nasceu uma vila planejada, com casas para operários, armazém, escola, capela e até uma pequena usina, formando um raro exemplo de comunidade industrial no interior de Minas Gerais.
A fábrica de tecidos, que funcionou por quase cem anos, tornou-se o coração da vila e símbolo do progresso regional. Por décadas, Biribiri manteve um modo de vida autossuficiente, em que tudo girava em torno da produção têxtil e do convívio entre os moradores. Quando a fábrica encerrou suas atividades na década de 1970, o silêncio tomou o lugar do barulho dos teares, mas as construções permaneceram de pé — testemunhas de uma época em que fé, trabalho e comunidade se uniam em meio às montanhas de Diamantina.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.