Belo Horizonte revela curiosidade histórica que poucos conhecem

Descubra a curiosidade histórica que poucos conhecem sobre Belo Horizonte e entenda como ela moldou a identidade da capital mineira

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
20/09/2025

Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, foi planejada para simbolizar uma nova era republicana. Porém, há um detalhe pouco lembrado em sua fundação: o arraial do Curral del-Rei, que deu origem à cidade, precisou ser demolido para dar espaço à capital moderna. Essa transição, cheia de contradições, ainda hoje ecoa na identidade da metrópole.

  • A cidade nasceu de um projeto urbanístico ousado, liderado por Aarão Reis.

  • O antigo Curral del-Rei foi apagado do mapa, e seus moradores deslocados.

  • A capital se tornou um símbolo de modernidade, mas também de rupturas sociais.

Como Belo Horizonte foi escolhida para ser capital de Minas Gerais?

No final do século XIX, Ouro Preto já não atendia mais às necessidades de uma capital. Suas ladeiras íngremes e a falta de espaço urbano dificultavam a expansão. Foi nesse contexto que surgiu a ideia de construir uma nova sede administrativa para Minas Gerais.

Entre as localidades estudadas, Belo Horizonte se destacou por sua posição geográfica estratégica e pelo relevo mais favorável. Em 1893, o Congresso Mineiro aprovou a mudança, e em 1897 a nova capital foi inaugurada, ainda em obras, mas carregada de simbolismo político.

Qual foi a curiosidade histórica ligada ao Curral del-Rei?

O terreno escolhido para erguer Belo Horizonte era ocupado por um arraial conhecido como Curral del-Rei. Ali, cerca de 4 mil pessoas viviam em casas simples, com lavouras, comércio e tradições próprias. Para que a nova cidade fosse construída, o arraial foi demolido quase por completo, restando apenas registros e memórias.

A curiosidade é que muitos moradores foram transferidos à força para regiões periféricas, como Venda Nova, sem condições de comprar os lotes valorizados do centro. Esse episódio deixou marcas sociais profundas e explica parte das desigualdades urbanas que a cidade enfrentaria no século XX.

Quais elementos definiram o projeto urbanístico de Belo Horizonte?

O engenheiro Aarão Reis, responsável pelo planejamento, se inspirou em modelos modernos de Paris e Washington. A cidade foi desenhada em uma malha ortogonal, cortada por avenidas diagonais e delimitada pela Avenida do Contorno.

Três zonas compunham o plano: a área urbana central, destinada ao poder e ao comércio; a área suburbana, prevista para crescimento futuro; e a área rural, com colônias agrícolas para abastecimento. Essa organização revelava uma visão de progresso, mas não considerava plenamente o impacto social da remoção dos antigos moradores.

Destaques do plano original
  • Quarteirões regulares de 120 x 120 metros.

  • Avenidas largas, com 20 a 35 metros de largura.

  • Praça da Liberdade como centro político-administrativo.

  • Cinturão verde planejado para abastecer a cidade.

A transformação da cidade após sua inauguração

Apesar do planejamento detalhado, Belo Horizonte cresceu mais rápido do que os idealizadores imaginavam. Em poucas décadas, o limite previsto de 100 mil habitantes foi superado. Já nos anos 1930, a cidade enfrentava problemas de ocupação desordenada e carência de infraestrutura.

Ao mesmo tempo, surgiram novos marcos urbanos. O Conjunto Arquitetônico da Pampulha, nos anos 1940, projetado por Oscar Niemeyer e Burle Marx, simbolizou uma nova fase de modernidade, agora voltada para a arte e a arquitetura modernista.

O que restou do Curral del-Rei na memória da cidade?

Embora o arraial tenha desaparecido fisicamente, sua lembrança ainda resiste. O nome “Boa Viagem”, herdado da antiga matriz, permaneceu como referência. No Museu Histórico Abílio Barreto, localizado em um antigo casarão da Fazenda do Leitão, é possível conhecer acervos e documentos que contam essa transição.

A memória do Curral del-Rei também vive nas narrativas orais, em pesquisas acadêmicas e no interesse recente em resgatar a história dos moradores que foram deslocados. Esse passado esquecido é parte essencial da curiosidade histórica de Belo Horizonte.

O peso da curiosidade histórica na identidade de BH

Especialistas apontam que a demolição do Curral del-Rei e a criação de uma cidade planejada moldaram a dualidade de Belo Horizonte: de um lado, símbolo de modernidade; de outro, espaço de exclusões. Essa contradição aparece até hoje em debates sobre urbanismo, patrimônio e identidade cultural.

Ao mesmo tempo, a cidade se reinventou. O espaço que antes abrigava a sede do poder político, a Praça da Liberdade, hoje é centro cultural. Bairros que nasceram da expulsão de antigos moradores ganharam força própria, criando identidades próprias dentro da metrópole.

Quais são os reflexos desse passado na experiência turística?

Para quem visita Belo Horizonte, compreender essa curiosidade histórica amplia o olhar sobre a cidade. Museus, praças e parques não são apenas cenários, mas fragmentos de um processo que envolveu escolhas, deslocamentos e adaptações.

Roteiro para quem deseja explorar essa história
  • Museu Histórico Abílio Barreto – acervo sobre o Curral del-Rei e a fundação da capital.

  • Praça da Liberdade – símbolo da transição do poder político para a cultura.

  • Bairros antigos como Lagoinha e Santa Tereza, que guardam tradições de migrantes e antigos moradores.

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A curiosidade que revela a alma de Belo Horizonte

A história de Belo Horizonte mostra que a construção de uma cidade vai além de prédios e ruas. O desaparecimento do Curral del-Rei e o surgimento de uma capital planejada revelam tanto o desejo de modernidade quanto as tensões sociais de uma época.

Essa curiosidade histórica, muitas vezes esquecida, ajuda a entender por que Belo Horizonte é como é hoje: diversa, contraditória, mas profundamente ligada à sua gente. Conhecer esse detalhe é olhar para além da superfície e enxergar a cidade em sua complexidade.

Visitar Belo Horizonte, em Minas Gerais, é também revisitar essa memória. Entre museus, praças e conversas com os moradores, cada visitante pode redescobrir fragmentos de um passado que continua vivo. Um convite a compreender não apenas a capital mineira, mas também as transformações do Brasil republicano.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Vista panoramica da grande Belo Horizonte, vista do mirante da Serra do Curral
Vista panoramica da grande Belo Horizonte, vista do mirante da Serra do Curral

Belo Horizonte/MG - Foto: Igor Souza

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