Como Congonhas se tornou dona do maior conjunto barroco do mundo

Conheça a história de Congonhas, a cidade mineira que abriga o maior conjunto barroco do mundo, com 78 esculturas de Aleijadinho

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
09/09/2025

Em meio às serras e colinas de Minas Gerais, uma pequena cidade guarda um tesouro artístico inestimável, capaz de rivalizar com os maiores acervos da Europa. Congonhas se tornou dona do maior conjunto barroco do mundo, um título que ela carrega com a humildade e a grandiosidade de suas obras de pedra-sabão. A jornada para alcançar esse status é uma trama de fé, devoção e o gênio de um dos maiores artistas da história do Brasil.

  • Por que Congonhas tem o maior conjunto de esculturas barrocas do mundo.

  • A história e o gênio de Aleijadinho, autor das 78 esculturas.

  • A importância do santuário para a história, a fé e a arte no Brasil.

O que torna Congonhas tão especial?

Congonhas não é apenas uma cidade histórica, é um santuário a céu aberto. O que a diferencia de outros destinos em Minas Gerais é a concentração de obras-primas no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. É nesse complexo que a cidade detém o título de ter o maior conjunto da arte barroca do Mundo. Diferente de Ouro Preto, onde as obras de Aleijadinho estão dispersas, em Congonhas elas estão todas no mesmo local.

A história da construção do santuário começou em 1757, mas foi apenas com a chegada do Mestre Aleijadinho, décadas depois, que a obra atingiu sua plenitude. Em meio a uma crise econômica, a construção era uma manifestação de fé e prosperidade que perdurou. A cidade, antes um ponto na rota do ouro, se transformou em um polo de peregrinação e arte.

Quem foi o Mestre Aleijadinho e qual sua relação com Congonhas?

Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho, é o nome mais importante da arte colonial brasileira. Sua vida e obra são cercadas de mistério e lendas, mas seu legado é uma realidade tangível, especialmente em Congonhas. A relação entre o artista e a cidade é o cerne de toda a história. Aleijadinho, já debilitado por uma doença degenerativa, dedicou os últimos anos de sua vida e sua genialidade à criação do conjunto escultórico.

Ele era um mestre multifacetado, atuando como arquiteto, entalhador e escultor. Em Congonhas, seu trabalho se concentra em duas partes principais: as Doze Profetas, dispostas no adro da basílica, e as seis capelas dos Passos da Paixão, que abrigam 66 imagens em tamanho natural. Ao todo, são 78 esculturas assinadas pelo Mestre Aleijadinho, embora muitas delas tenham a colaboração de seus assistentes.

A Chegada do Tesouro Artístico

A chegada das esculturas a Congonhas é um testemunho da devoção e do talento de Aleijadinho. O trabalho, que se estendeu por cerca de 10 anos, entre 1796 e 1805, foi financiado por fiéis e devotos, que buscavam cumprir uma promessa. A narrativa visual da Paixão de Cristo, espalhada pelas capelas, é uma forma de catequese e uma demonstração de fé que se mantém viva até hoje. A escolha da pedra-sabão como material, comum na região, permitiu a criação de obras detalhadas e duráveis, capazes de resistir ao tempo e às intempéries.

As 66 esculturas que retratam a Via Sacra foram esculpidas em madeira de cedro. Elas foram depois pintadas por Manuel da Costa Ataíde, outro nome de destaque na arte barroca. Por sua vez, as Doze Profetas foram esculpidas em pedra-sabão e posicionadas de maneira estratégica no adro da basílica. A disposição das obras, pensada pelo próprio Aleijadinho, segue uma lógica narrativa.

As obras se dividem em:

  • As 66 esculturas da Via Sacra, esculpidas em madeira de cedro.

  • As Doze Profetas, esculpidas em pedra-sabão.

  • Os diversos painéis e altares que completam o interior da basílica.

Qual a importância do conjunto para a arte mundial?

A importância do conjunto barroco de Congonhas transcende a beleza estética. Ele é um registro histórico, um documento da fé e da arte do Brasil Colônia. O reconhecimento pela UNESCO atesta a sua relevância para o patrimônio da humanidade desde 1985. É um exemplo singular da capacidade criativa e do estilo do Barroco, com uma identidade puramente brasileira.

O trabalho de Aleijadinho em Congonhas representa a maturidade do artista e a apoteose do Barroco mineiro. As obras são consideradas um ponto alto do estilo, misturando a influência europeia com a interpretação local e a criatividade de um gênio. A forma como o artista utilizou as características da pedra-sabão para criar esculturas fluidas e expressivas é uma prova de sua maestria.

O que a cidade de Congonhas oferece além do santuário?

Embora o santuário seja o principal atrativo, Congonhas oferece mais para o viajante. A cidade, que preserva as características de um típico município mineiro, permite ao visitante mergulhar na cultura e na culinária local. É possível explorar o Museu de Congonhas, que detalha a história do santuário e do artista, além de apreciar as manifestações culturais e religiosas.

  • A cidade oferece a autêntica comida mineira, com seus sabores e aromas característicos.

  • Os arredores também guardam belezas naturais e outras igrejas históricas.

  • A proximidade com Ouro Preto e as demais cidades do circuito do ouro torna Congonhas um ponto estratégico.

Por que a fé e a arte se entrelaçam no santuário?

A história de Congonhas é, antes de tudo, uma história de fé. O Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos nasceu de uma promessa e foi construído com a devoção de um povo. As obras de Aleijadinho não são apenas esculturas; são manifestações de uma fé profunda, pensadas para tocar o coração e a alma dos peregrinos. A própria disposição das capelas, que simulam uma peregrinação, é uma forma de envolver o fiel na narrativa sagrada.

A arte, nesse contexto, serve como um veículo para a espiritualidade. As feições dos profetas e a dramaticidade das cenas da Paixão de Cristo são ferramentas que Aleijadinho utilizou para transmitir emoção e despertar a reflexão. O conjunto de Congonhas é uma prova de que a arte pode ser um dos mais poderosos instrumentos de devoção.

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Por que visitar Congonhas?

Visitar Congonhas é uma experiência de imersão em um dos mais importantes capítulos da arte e da história brasileira. A cidade que se tornou dona do maior conjunto da arte barroca do Mundo é um convite para uma jornada de descoberta, onde cada passo revela uma nova camada de história e devoção.

Ao caminhar pelo adro da basílica e ao se deparar com os olhares expressivos dos Profetas, é impossível não se sentir parte de algo grandioso. Congonhas não é apenas um destino, é uma experiência que ressoa com a alma e a história do Brasil.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Igreja Matriz de Congonhas, com obras do Aleijadinho, maior conjunto barroco do mundo
Igreja Matriz de Congonhas, com obras do Aleijadinho, maior conjunto barroco do mundo

Congonhas/MG - Foto: Igor Souza

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