Esse cantinho de Minas vai te fazer voltar no tempo
Um vilarejo encantador em Minas Gerais que parece ter parado no tempo. Descubra por que esse destino cativa corações com arte, história e um clima de aconchego
Escondido entre as montanhas da região do Campo das Vertentes, a apenas 7 km de Tiradentes, está um vilarejo que parece ter parado no tempo — no melhor dos sentidos. Vitoriano Veloso, mais conhecido como Bichinho, é um daqueles lugares que cativam pela simplicidade, pelas cores das fachadas e pelo acolhimento de quem mora ali.
Com ruas de terra batida, casas coloridas, ateliês charmosos e cheiro de comida feita no fogão a lenha, Bichinho é uma imersão no que Minas Gerais tem de mais autêntico. Visitar o vilarejo é como abrir uma janela para o passado, mas com pitadas criativas do presente que transformam a experiência em algo único.
Um distrito com alma e apelido carinhoso
Bichinho é o nome popular do distrito de Vitoriano Veloso, pertencente ao município de Prados, em Minas Gerais. O nome oficial homenageia um ex-escravizado que lutou na Inconfidência Mineira, mas o apelido “Bichinho” — dado pelos moradores de forma carinhosa — acabou se tornando mais conhecido e querido entre os turistas.
Apesar do tamanho reduzido, o vilarejo esbanja personalidade. Seu crescimento como destino turístico aconteceu de forma orgânica, com base em iniciativas locais ligadas ao artesanato, à cultura e à preservação da tradição mineira.
Artesanato que ganhou fama nacional
Bichinho se consolidou como um dos maiores polos de artesanato mineiro. O vilarejo abriga dezenas de ateliês que trabalham com madeira, ferro, cerâmica, tecidos e pintura. Móveis rústicos, esculturas sacras, objetos de decoração e obras contemporâneas saem das mãos de artesãos que colocam amor em cada detalhe.
É comum ver caminhões saindo de Bichinho carregados de móveis e peças encomendadas por lojistas de todo o país. Mas mais do que um centro produtor, o distrito é também um destino para quem quer conhecer o processo de criação de perto. Muitos ateliês recebem visitantes com portas abertas, permitindo que o turista converse com os artistas e veja como tudo é feito.
A Casa Torta: arte, fantasia e afeto
Entre os pontos mais visitados de Bichinho está a Casa Torta, um espaço cultural que mistura arte, ludicidade e arquitetura inusitada. Sua construção assimétrica e colorida chama atenção logo de longe, despertando sorrisos e curiosidade.
Mais do que um espaço instagramável, a Casa Torta abriga exposições, café, loja e áreas interativas voltadas para todas as idades. O ambiente estimula a imaginação e oferece um respiro divertido em meio ao roteiro mais tradicional do vilarejo.
Além da Casa Torta, Bichinho também abriga outros espaços criativos, como cafés temáticos, lojinhas personalizadas e pousadas decoradas com obras locais. A sensação é de estar num cenário encantado, onde cada canto foi pensado com afeto.
Gastronomia afetiva com sabor de Minas
Em Bichinho, a comida é simples, mas inesquecível. Os pequenos restaurantes e bistrôs da região mantêm a tradição da culinária mineira feita no fogão a lenha, com ingredientes frescos, receitas de família e aquele tempero que só o interior sabe oferecer.
Entre os pratos mais procurados estão o frango com quiabo, feijão tropeiro, costelinha com ora-pro-nóbis, angu e torresmo crocante. Para adoçar, goiabada cascão, doce de leite, compotas caseiras e broas de fubá saem direto das cozinhas para aquecer o coração dos visitantes.
A experiência gastronômica vai além do sabor: muitas vezes é o próprio dono que atende, conta histórias e serve o prato. Comer em Bichinho é como sentar à mesa da avó — uma vivência cheia de memórias e acolhimento.
Um vilarejo que abraça com silêncio e beleza
Se o seu desejo é fugir da correria, Bichinho é o lugar ideal. As ruas de terra, a natureza ao redor, os sons dos passarinhos e o clima de montanha criam um ambiente perfeito para quem busca descanso e introspecção.
As pousadas locais mantêm o estilo rústico, com redes na varanda, lareiras, varandas com vista e atendimento familiar. Muitas são decoradas com peças produzidas ali mesmo, pelos artesãos locais — o que reforça o conceito de turismo integrado à cultura.
À noite, o céu estrelado e o silêncio absoluto convidam à contemplação. É o tipo de lugar onde a gente se reconecta consigo mesmo.
Um destino que valoriza a cultura local
Além do artesanato e da gastronomia, Bichinho também preserva tradições culturais que se expressam em festas, celebrações religiosas e manifestações artísticas espontâneas. A comunidade participa ativamente da Festa de Nossa Senhora da Penha, padroeira do vilarejo, que ocorre geralmente no mês de setembro.
As ruas ganham vida com procissões, missas, barraquinhas e música ao vivo. É uma oportunidade para os visitantes conhecerem o lado mais religioso e afetivo da cultura mineira.
Como chegar a Bichinho
Bichinho está a apenas 7 km de Tiradentes e 13 km de Prados, com acesso por estrada de terra em boas condições. Quem vem de São João del-Rei ou Belo Horizonte pode chegar de carro com facilidade. O trajeto entre Tiradentes e Bichinho, embora curto, é repleto de paisagens bucólicas, com colinas, cercas de madeira, pastos verdes e casinhas que parecem pinturas.
Há estacionamento disponível ao longo da rua principal do vilarejo, que é pequena e pode ser explorada a pé.
Quanto tempo ficar e quando visitar
O ideal é reservar ao menos um dia inteiro para conhecer Bichinho com calma. Mas para quem deseja desacelerar de verdade, passar a noite no vilarejo é uma escolha acertada. Dormir ali permite ver o pôr do sol entre as montanhas, caminhar sob o céu estrelado e acordar com o canto dos galos e o cheiro de pão de queijo assando.
Primavera e inverno são as estações mais charmosas, com flores nas janelas e clima fresco ideal para aproveitar os cafés e as pousadas com lareira.
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Bichinho é muito mais do que parece
Bichinho pode ser um distrito pequeno, mas tem o dom de tocar quem o visita. Entre artesanato, natureza, boa comida e sorrisos sinceros, ele mostra que os lugares mais especiais nem sempre estão nos grandes mapas — mas nas pequenas descobertas.
Para quem quer um destino mineiro autêntico, sensível e encantador, Bichinho é a escolha certa. Um cantinho que convida a voltar no tempo — e talvez, a voltar para dentro de si.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


Bichinho/MG - Foto: Igor Souza