Fuga perfeita a 100 km de BH, o distrito mineiro que virou tendência entre viajantes
Montanhas, casario colonial e cachoeira: descubra o encanto real de Cocais, um vilarejo mineiro que vem conquistando os amantes de natureza e cultura
Há lugares em Minas Gerais que parecem guardar a pulsação original do estado. Cocais é um desses raros refúgios. Aninhado em um vale cercado por montanhas imponentes, este distrito de Barão de Cocais preserva uma atmosfera onde o tempo corre em seu próprio ritmo, ditado pelo som dos sinos, pelo curso das águas e pela prosa mansa de seus moradores. É um convite para uma imersão profunda em um Brasil de raízes fortes e beleza serena.
Caminhe por ruas de pedra e admire um dos conjuntos arquitetônicos coloniais mais bem preservados da região.
Explore a natureza exuberante em trilhas que levam a cachoeiras e mirantes espetaculares.
Vivencie a cultura popular através de festas religiosas, do som do Congado e da autêntica hospitalidade mineira.
Por que um trajeto de 7 km em estrada de terra pode ser o início de uma viagem no tempo?
A jornada até Cocais começa onde o asfalto termina. A partir do centro de Barão de Cocais, uma estrada de terra de aproximadamente 7 quilômetros serve como um portal entre dois mundos. Longe de ser um obstáculo, o caminho é uma preparação para a alma. A poeira que sobe, a paisagem que se torna cada vez mais rural e o silêncio que gradualmente substitui o ruído urbano são elementos de um rito de passagem para um lugar que vive em outra sintonia.
Este relativo isolamento geográfico foi a bênção que protegeu Cocais do turismo predatório e da descaracterização. O percurso sinuoso, que acompanha os contornos dos morros, antecipa a recompensa: um vilarejo que surge no vale de forma orgânica, perfeitamente integrado à natureza que o abraça. Chegar a Cocais é sentir, antes mesmo de pisar em suas pedras, que você encontrou um lugar que soube esperar.
A Arquitetura que Narra Histórias
Caminhar por Cocais é como folhear um livro de história a céu aberto. O distrito não tem a grandiosidade monumental de outras cidades históricas, mas sua força reside na autenticidade e na harmonia do conjunto. O casario, mantido com esmero pelos moradores, exibe as características clássicas da arquitetura colonial mineira, com suas janelas de madeira colorida, telhados de barro e paredes grossas que guardam o frescor e as memórias do tempo.
O casario colonial preservado: Fachadas alinhadas e coloridas que formam uma paisagem coesa e charmosa, revelando o cuidado da comunidade com seu patrimônio.
As ruas calçadas em pé de moleque: As pedras irregulares sob os pés forçam um caminhar mais lento e atento, conectando o visitante ao modo como se vivia séculos atrás.
A Igreja de N. S. do Rosário em seu adro elevado: Situada em uma pequena elevação, a igreja domina a paisagem e serve como ponto de referência, tanto físico quanto espiritual, para todo o vilarejo.
É possível ouvir o eco das montanhas no silêncio de Cocais?
Sim, e ele se manifesta no som do vento, no farfalhar das folhas e no murmúrio das águas. A natureza em Cocais não é apenas um pano de fundo; é a protagonista. O distrito está envolto por serras, como a da Conceição, que oferecem um labirinto de trilhas para os amantes de caminhadas e ciclismo. Os percursos revelam mirantes naturais com vistas de tirar o fôlego e uma biodiversidade rica, típica da transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado.
O principal convite da natureza local é a Cachoeira de Cocais. Acessível por uma trilha curta e de baixa dificuldade, ela é o programa perfeito para um dia quente. Suas águas geladas e cristalinas formam um poço delicioso para banho, um verdadeiro alívio para o corpo e a mente. É um daqueles lugares onde é possível sentar em uma pedra, fechar os olhos e sentir a energia pulsante da mata ao redor.
Os Sabores que Alimentam a Alma Mineira
A experiência em Cocais não estaria completa sem uma imersão em sua gastronomia. A cozinha local é a mais pura tradução da tradição mineira, baseada em ingredientes frescos, receitas passadas por gerações e, claro, o tempero inconfundível do fogão a lenha. Nos pequenos restaurantes e pousadas familiares, cada refeição é um evento, servido com a simplicidade e o afeto que caracterizam a hospitalidade do interior.
O clássico frango caipira com angu: Preparado lentamente, o prato é um dos carros-chefe e representa a essência da comida de roça, com sabor de memória afetiva.
As quitandas frescas com café coado: Broas de fubá, pães de queijo e bolos saem quentinhos dos fornos logo cedo, compondo um café da manhã que é um abraço.
Os doces de compota feitos no tacho: Doce de leite, de figo, de mamão. Em Cocais, a sobremesa é uma arte levada a sério, finalizando a experiência com doçura e tradição.
O que os tambores do Congado ainda ensinam sobre resistência e fé?
A cultura de Cocais pulsa com vigor em suas manifestações populares. Embora seja um vilarejo tranquilo, sua vida cultural é intensa e profundamente enraizada na fé e na ancestralidade. As festas religiosas, como a dedicada a Nossa Senhora do Rosário, padroeira da capela local, mobilizam toda a comunidade em um ciclo de missas, procissões e confraternizações que fortalecem os laços sociais.
Nesse contexto, o Congado se destaca como uma poderosa expressão de identidade afro-brasileira. Os toques dos tambores que ecoam pelas ruas durante as celebrações não são apenas música; são orações, crônicas de uma história de luta e resistência que se transformou em fé. Assistir a uma apresentação do Congado em Cocais é testemunhar a força de uma cultura que se mantém viva e relevante através da devoção e da arte.
Como a hospitalidade transforma uma visita em uma conexão verdadeira?
O maior patrimônio de Cocais, talvez, não esteja em suas construções ou paisagens, mas em seu povo. A hospitalidade aqui não é um serviço, é um estado de espírito. É ser recebido com um sorriso genuíno, ser convidado para um café sem motivo aparente ou passar horas ouvindo as histórias de um morador que tem orgulho de compartilhar a memória de sua terra. Esse acolhimento transforma turistas em amigos.
Essa vocação para o bem-receber se reflete também no artesanato local. As peças de cerâmica, os bordados e os trabalhos em madeira vendidos no distrito não são produtos em série; são extensões das mãos e das histórias de quem os fez. Comprar uma peça de um artesão local é levar para casa um fragmento autêntico da alma de Cocais, um gesto que fortalece a economia e a cultura da comunidade.
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Cocais não é um lugar para se ver, é um lugar para se estar
Em um mundo que valoriza o grandioso e o espetacular, Cocais nos recorda da beleza que reside no simples, no autêntico e no perene. É um destino que não se esgota em um fim de semana, pois seu principal atrativo é a experiência de viver, mesmo que por poucos dias, um ritmo mais humano e conectado com a terra.
A proximidade com Belo Horizonte faz deste distrito um tesouro acessível, uma fuga perfeita para recarregar as energias e renovar a fé na beleza do mundo. Cocais não precisa de artifícios para encantar, pois ele já possui o que há de mais valioso: uma identidade preservada, uma natureza acolhedora e uma alma genuinamente mineira.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


Cocais/MG - Foto: Igor Souza