Lugares pouco conhecidos em Ouro Preto que merecem ser visitados
Fuja do óbvio no turismo em Ouro Preto. Descubra igrejas, mirantes e parques escondidos que revelam a alma da cidade. Explore o lado B deste destino
Ouro Preto é instantaneamente reconhecível. A imagem da Praça Tiradentes, cercada pela Igreja de Nossa Senhora do Carmo e pelo Museu da Inconfidência, domina o imaginário de quem pensa no Ouro Preto Turismo em Minas Gerais. No entanto, a antiga Vila Rica, com suas ladeiras íngremes e horizontes montanhosos, guarda segredos que não se revelam ao viajante apressado. Para além do roteiro óbvio, existem capelas, museus e mirantes que oferecem uma experiência mais profunda e silenciosa da cidade.
Capelas e igrejas com detalhes arquitetônicos únicos.
Museus intimistas dedicados a grandes artistas e à ciência.
Mirantes e parques que revelam a geografia da região.
Por que Ouro Preto ainda consegue surpreender seus visitantes?
Mesmo sendo um dos destinos históricos mais visitados do Brasil e reconhecida como Patrimônio Mundial pela UNESCO, Ouro Preto não é uma cidade-museu estática. Ela pulsa com a vida de seus moradores, estudantes da universidade federal e artistas. A verdadeira surpresa da cidade está na sua capacidade de esconder histórias em plena vista, em becos que se abrem para vistas espetaculares ou em portas que levam a mundos inesperados.
A experiência turística mais comum se concentra em um eixo de poucas ruas, entre a Praça Tiradentes e a feira de pedra-sabão. No entanto, basta se dispor a subir uma ladeira diferente ou explorar um bairro adjacente para descobrir que a riqueza da antiga capital de Minas Gerais é muito mais vasta. Sair do roteiro principal é encontrar a cidade em seu estado mais autêntico.
Quais são as igrejas que passam despercebidas no roteiro principal?
Ouro Preto é famosa por suas igrejas monumentais, obras-primas de Aleijadinho e Ataíde. Contudo, algumas das capelas mais antigas e singulares da cidade ficam fora desse circuito imediato. Elas contam histórias de irmandades específicas, de devoções populares e dos primeiros momentos de Vila Rica, muitas vezes com uma arquitetura que foge ao padrão mais conhecido do barroco mineiro.
A arquitetura circular da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
Localizada um pouco abaixo da Praça Tiradentes, no bairro do Rosário, esta igreja é frequentemente ignorada pelos turistas que focam apenas nas atrações do eixo central. Sua forma é seu maior diferencial: a nave é composta por três elipses entrelaçadas, criando uma planta circular incomum para a época. Construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a partir de 1785, ela é um testemunho da fé e da organização da população negra na sociedade colonial.
O interior é mais contido que o de suas contemporâneas mais famosas, mas os altares laterais e o frontispício curvilíneo são de grande beleza. A localização, em um largo tranquilo, proporciona um momento de pausa e contemplação, longe da agitação turística. É um exemplo de como a arquitetura religiosa em Minas foi diversa e adaptada às necessidades e possibilidades de cada irmandade.
Capela do Padre Faria: Um dos pontos de partida de Vila Rica
No bairro Padre Faria, um dos primeiros núcleos de povoamento da cidade, encontra-se a modesta Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, mais conhecida como Capela do Padre Faria. Datada do início do século XVIII, é considerada uma das mais antigas de Ouro Preto. Sua fachada é extremamente simples, quase rústica, o que a faz passar despercebida.
No entanto, ao cruzar a porta, o visitante encontra um interior surpreendentemente rico, com um retábulo-mor em talha dourada e pinturas que remetem às primeiras fases do barroco em Minas. Foi nesta capela que, segundo a tradição, o Padre João de Faria Fialho, figura importante dos primórdios da vila, teria celebrado suas missas.
Mirantes que oferecem novas perspectivas da cidade
A topografia acidentada de Ouro Preto é, ao mesmo tempo, um desafio para as pernas e um presente para os olhos. A cidade está encaixada entre morros, e cada subida revela um novo ângulo do casario colonial e das igrejas que pontuam a paisagem. Enquanto muitos se contentam com a vista da Praça Tiradentes, os melhores panoramas exigem um pouco mais de esforço.
A vista da Igreja de São Francisco de Paula é a mais completa?
Muitos consideram a vista do adro da Igreja de São Francisco de Paula como o panorama definitivo de Ouro Preto. Localizada em um dos pontos mais altos do centro histórico, a igreja em si, de construção mais tardia (século XIX) e estilo neoclássico, não costuma estar no roteiro principal. O que atrai os conhecedores ao local é a vista.
Chegar lá exige fôlego para encarar a íngreme Ladeira de São Francisco de Paula, mas a recompensa é imediata. De seu adro, o visitante tem uma visão frontal e completa do coração da cidade, permitindo identificar e fotografar, em um único enquadramento, um conjunto impressionante de monumentos.
O que se vê do mirante:
Igreja de São Francisco de Assis
Igreja de Nossa Senhora do Carmo
O Museu da Inconfidência (antiga Casa de Câmara e Cadeia)
A Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias
As montanhas e vales que cercam a cidade
Onde encontrar a natureza e a história fora do centro urbano?
O Ouro Preto Turismo em Minas Gerais não se limita ao seu perímetro urbano tombado. A cidade é cercada por natureza exuberante e distritos históricos que funcionam como satélites, preservando um modo de vida mais rural e tranquilo, mas que estão intrinsecamente ligados à história da mineração e da Inconfidência Mineira.
Parque Estadual do Itacolomi: O guardião de Ouro Preto
O Pico do Itacolomi é a sentinela de pedra que domina a paisagem de Ouro Preto, servindo como ponto de referência para os antigos bandeirantes. O parque estadual que o abriga é um refúgio de Mata Atlântica e campos de altitude, oferecendo trilhas que levam a vistas espetaculares. A trilha principal até o cume é uma caminhada de média dificuldade, mas que recompensa com uma visão de 360 graus da região.
Além das trilhas, o parque abriga o Museu do Chá, instalado na sede da antiga Fazenda do Manso. Poucos sabem que a região teve uma das primeiras plantações de chá do Brasil, no século XIX. O museu conta essa história e oferece um contraponto fascinante à narrativa dominante do ouro e dos diamantes.
O que visitar nos distritos próximos?
Para quem tem mais tempo, explorar os distritos é fundamental. Enquanto Lavras Novas se tornou um destino badalado, outros permanecem mais tranquilos. Cachoeira do Campo, por exemplo, foi um importante entreposto administrativo e militar no período colonial. Sua Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré é uma das maiores e mais antigas de Minas, com uma história rica e ligada à Guerra dos Emboabas.
Como a arte e a ciência se escondem à vista de todos?
Alguns dos acervos mais impressionantes de Ouro Preto estão em locais que os turistas veem, mas não necessariamente visitam. Museus que fogem da temática óbvia do ouro e da religião oferecem uma camada extra de conhecimento sobre a cidade e seus personagens.
O Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas
O imponente Palácio dos Governadores, que hoje domina um lado da Praça Tiradentes junto com a Escola de Minas, abriga um dos acervos de ciência e tecnologia mais importantes do país. Fundado em 1876 pelo cientista francês Claude-Henri Gorceix, o museu é um mergulho na história da mineração, metalurgia e geologia.
Milhares de turistas passam pela porta, mas poucos entram para descobrir as salas gigantescas repletas de cristais, minerais raros, fósseis e instrumentos científicos antigos. É um programa que fascina adultos e crianças, mostrando o lado técnico e científico que possibilitou a riqueza de Vila Rica.
O que encontrar no museu:
Setor de Mineralogia (com milhares de amostras)
Coleção de Astronomia (com telescópios históricos)
Setor de Paleontologia (fósseis da região)
Maquetes de minas e equipamentos antigos
Museu Casa Guignard: A intimidade de um mestre
No centro, na tranquila Rua Direita, uma pequena casa colonial preserva a memória de Alberto da Veiga Guignard, um dos maiores pintores do modernismo brasileiro. Guignard se apaixonou por Ouro Preto e se mudou para a cidade, onde viveu e lecionou. O museu não é focado na Inconfidência, mas na sensibilidade de um artista que capturou a alma da cidade.
É uma visita intimista e silenciosa. O acervo conta com obras do artista, objetos pessoais e exposições temporárias. É uma oportunidade de ver Ouro Preto através dos olhos de quem a escolheu como musa, focando nas paisagens, nas brumas e no cotidiano de seus moradores.
A experiência autêntica do turismo em Ouro Preto
Sair do óbvio em Ouro Preto é descobrir que a cidade é mais do que seu passado glorioso; ela é um organismo vivo. A experiência autêntica está em se permitir caminhar sem rumo, encontrar um ateliê aberto, tomar um café em um bairro residencial ou simplesmente sentar em um banco para observar o movimento.
O Horto dos Contos: Um refúgio verde no centro
Muitos visitantes passam pela Casa dos Contos, o museu dedicado à história fiscal e monetária do Brasil, mas poucos sabem que nos fundos da propriedade existe um parque encantador. O Horto dos Contos é um jardim botânico que conecta a Casa dos Contos ao Teatro Municipal, seguindo o curso do Córrego do Funil.
O espaço é um refúgio de silêncio e frescor, com pontes de pedra, vegetação nativa e vistas interessantes da arquitetura dos fundos dos casarões. É o local perfeito para uma pausa entre um museu e outro, oferecendo uma perspectiva completamente diferente do denso centro histórico.
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Um destino que guarda mais do que um nome curioso
Queluzito é mais que uma cidade de nome diferente: é expressão viva da autenticidade mineira. Sua matriz religiosa, seu patrimônio simples, sua cultura cotidiana e suas paisagens tranquilas criam um conjunto difícil de encontrar em destinos turísticos maiores.
Quem chega descobre uma cidade que não grita por atenção, mas conquista pelo silêncio e pela verdade. É aquele lugar que não aparece em grandes propagandas, mas permanece na memória de quem o visita.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


Ouro Preto/MG - Foto: Igor Souza


