Minas Gerais revela passeio de trem que parece cena de filme
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Em Minas Gerais, há uma experiência que faz o tempo desacelerar. Entre o vapor, o apito e o balanço dos vagões de madeira, a Maria Fumaça entre Tiradentes e São João del Rei conecta o passado e o presente em uma viagem curta, mas inesquecível. É uma jornada que mistura história, emoção e paisagens que parecem saídas de um filme antigo.
Quem embarca nesse trajeto descobre não apenas o charme do transporte ferroviário, mas também o valor da memória preservada. O percurso é curto, mas cheio de significado: cada curva, cada ponte e cada apito contam um pedaço da história de Minas.
Trajeto histórico de 12 km, ligando duas das cidades mais encantadoras do estado.
Locomotiva a vapor centenária, símbolo da Estrada de Ferro Oeste de Minas.
Paisagens rurais, rio, serra e patrimônio ferroviário em um só passeio.
Qual é a história por trás da Maria Fumaça entre Tiradentes e São João del Rei?
O passeio nasceu de um legado da Estrada de Ferro Oeste de Minas, inaugurada no final do século XIX com o objetivo de integrar o interior ao restante do estado. Na época, os trilhos simbolizavam progresso, transporte e comunicação — elementos essenciais para o crescimento das cidades mineiras.
Com o passar dos anos e a modernização dos transportes, grande parte da ferrovia foi desativada. Mas o trecho entre Tiradentes e São João del Rei sobreviveu como um verdadeiro museu a céu aberto. Hoje, o trem segue movido a vapor, preservando a estética e o ritmo dos tempos antigos.
Por que esse trecho continua ativo há mais de um século?
A resposta está na soma de tradição, cultura e afeto. A bitola estreita — apelidada de “bitolinha” — facilitou a manutenção do trecho, preservando a estrutura original. Além disso, o interesse turístico e o valor histórico do percurso motivaram esforços contínuos de preservação.
As estações de Tiradentes e São João del Rei foram restauradas e seguem com funcionamento ativo. Oficinas, rotundas e locomotivas originais continuam em exibição, atraindo visitantes que desejam reviver o charme do passado sobre trilhos.
Como é a experiência de embarcar na Maria Fumaça
Tudo começa nas estações históricas, onde o visitante é recebido pelo som do apito e o cheiro característico da lenha queimando. Ao embarcar, o ritmo muda: o trem avança devagar, o vento entra pelas janelas de madeira e a Serra de São José surge no horizonte.
Durante cerca de 40 a 50 minutos, o trajeto de 12 quilômetros revela paisagens que resumem a essência mineira: fazendas, vales, pontes e o Rio das Mortes acompanhando o percurso. A viagem é curta, mas oferece uma imersão completa no tempo e na história.


Tiradentes/MG - Foto: Igor Souza




Maria Fumaça em MG - Fotos: Igor Souza
Os momentos que mais encantam durante o percurso
O destaque é a rotunda de Tiradentes, onde a locomotiva é girada manualmente para preparar a viagem de retorno. É um espetáculo técnico e histórico que encanta adultos e crianças. O som do vapor, o esforço da equipe e o movimento do maquinário são um verdadeiro show à parte.
Outro momento marcante ocorre nas curvas abertas, quando o apito ecoa pelas colinas. O contraste entre o preto da fumaça e o verde da paisagem cria cenas dignas de fotografia. É o tipo de beleza simples que desperta nostalgia e admiração.
Dica de viajante:
Sentar-se do lado direito de quem sai de Tiradentes garante as melhores vistas do Rio das Mortes e da serra.
Quando o trem funciona e quanto custa o passeio?
O trem opera geralmente às sextas, sábados, domingos e feriados, com horários que variam conforme a temporada. Em épocas de alta demanda, como feriados prolongados, são adicionadas viagens extras. A melhor forma de garantir o embarque é comprar o bilhete com antecedência.
Os valores aproximados são de R$ 86 por trecho (inteira) e R$ 43 (meia), mas confira os valores, eles podem atualizar após essa matéria. Crianças de até 5 anos, no colo, não pagam. É possível adquirir os bilhetes nas estações ou pela internet, e também comprar ingresso à parte para visitar a rotunda e o museu ferroviário.
O que visitar antes ou depois da viagem de trem?
O passeio pode ser combinado com visitas aos atrativos das duas cidades. Em São João del Rei, o Museu Ferroviário guarda locomotivas e documentos da antiga ferrovia, além de maquetes e painéis explicativos sobre o funcionamento da Maria Fumaça.
Já em Tiradentes, o visitante encontra ruas de pedra, ateliês, cafés e igrejas barrocas. Muitos turistas optam por fazer o trajeto apenas de ida, explorar o destino e retornar por transporte alternativo, criando um roteiro mais completo e flexível.
Sugestões de complementos de passeio:
Almoçar em um restaurante de comida mineira próximo à estação.
Visitar o Museu Padre Toledo e a Igreja Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes.
Caminhar pela Rua Direita de São João del Rei e conhecer a Igreja de São Francisco de Assis.
Vale a pena fazer o percurso de ida e volta?
Depende do ritmo da viagem. Quem quer vivenciar a experiência completa, com o trem girando na rotunda e retornando pelo mesmo caminho, pode optar pelo bilhete de ida e volta. É uma oportunidade de observar o cenário sob uma nova luz, especialmente no fim da tarde.
Mas quem prefere aproveitar mais tempo nas cidades pode fazer apenas um trecho. Muitos visitantes escolhem ir de trem e voltar de carro ou van, aproveitando para explorar com calma as atrações locais, cafés e lojinhas de artesanato.
Quais cuidados práticos e curiosidades tornam o passeio mais agradável
Chegar com antecedência é essencial, pois o embarque costuma encerrar 30 minutos antes da partida. Levar documento com foto garante o direito à meia-entrada. Nos dias quentes, recomenda-se levar água e protetor solar, já que os vagões não têm ar-condicionado.
Outro detalhe curioso é que as locomotivas ainda utilizam lenha e água para gerar vapor, o que explica o ritmo lento e as paradas técnicas durante o trajeto. Essa característica é justamente o que torna a viagem mais autêntica e inesquecível.
A paisagem realmente parece saída de um filme?
Sim. A luz dourada refletindo nos trilhos, o vapor subindo lentamente e as colinas ao fundo criam uma atmosfera que lembra as produções antigas de cinema. A Maria Fumaça avança em meio ao verde das fazendas e ao brilho do Rio das Mortes, compondo um cenário único.
O som do apito e o balanço suave completam a experiência sensorial. É como se, por alguns minutos, o visitante deixasse o presente para viver uma cena do passado — uma lembrança que fica guardada na memória de quem embarca.
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Um apito que ecoa pela história
Viajar na Maria Fumaça entre Tiradentes e São João del Rei é mais do que um simples passeio turístico: é uma imersão na história e na identidade mineira. Cada estalo dos trilhos e cada sopro de fumaça revelam a força da memória preservada.
Ao fim da viagem, o visitante entende que o trem não transporta apenas pessoas — ele carrega o tempo, a cultura e o encanto de um Minas que ainda resiste. É o tipo de experiência que prova que a história pode, sim, continuar viva e em movimento.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.