Minas revela cidade pacata que virou queridinha de viajantes curiosos
Descubra por que Casa Grande, em Minas Gerais, tem encantado viajantes com suas paisagens tranquilas, tradições e sabores autênticos do interior.
Em tempos de turismo acelerado e experiências embaladas para multidões, ainda existem lugares que surpreendem pela simplicidade. Casa Grande, cidade localizada a cerca de 130 km de Belo Horizonte, é um desses refúgios que guardam o melhor do interior mineiro: o silêncio das manhãs, o cheiro de café passado na hora e uma hospitalidade que não se ensina, se vive.
Com pouco mais de dois mil habitantes, a cidade pertence à região do Campo das Vertentes e integra o circuito turístico Trilha dos Inconfidentes. Mas, diferente de destinos famosos nesse trajeto, como Congonhas e Ouro Branco, aqui o turista não é multidão; é visita.
A experiência genuína de um destino que valoriza a hospitalidade e o contato humano acima de tudo.
A natureza pacata e os roteiros naturais que convidam a trilhas leves e à contemplação de paisagens autênticas.
Os sabores da culinária feita no fogão a lenha, que preserva as receitas de família e a história em cada prato.
O que torna a alma da cidade tão grande?
Ao chegar em Casa Grande, o que se vê são ruas tranquilas, casas baixas e um clima que remete a outros tempos. O centro da cidade é marcado pela Igreja de Nossa Senhora da Conceição, cuja presença reforça a forte ligação da comunidade com a religiosidade e as tradições locais.
Com arquitetura simples, mas carregada de simbolismo, a igreja ocupa o alto de um pequeno morro. Ela é ponto de encontro em datas litúrgicas importantes e um dos cartões-postais do pacato vilarejo.
A fé ainda pulsa forte por aqui?
Sim. A fé católica se manifesta em celebrações como a Festa do Rosário e a Semana Santa. Nessas ocasiões, moradores se mobilizam para organizar procissões e decorar ruas. É um momento em que os valores da tradição são transmitidos de geração para geração.
Esses eventos não são criados para turistas, mas para a comunidade — e talvez por isso sejam tão autênticos. Quem chega com respeito e curiosidade é naturalmente acolhido, podendo presenciar de perto a força e a beleza da fé popular.
Quais paisagens a cidade esconde?
Embora não esteja no radar das grandes agências de turismo, Casa Grande tem um entorno repleto de paisagens naturais. A cidade fica próxima à Serra do Ouro Branco e a áreas de vegetação preservada.
O relevo suave, os riachos e os campos verdes compõem um cenário ideal para caminhadas, passeios de bicicleta ou contemplação. O turismo de natureza aqui ainda é pouco estruturado, mas é ideal para quem valoriza destinos sustentáveis e com baixa intervenção humana.
As paisagens permitem o contato direto com a natureza e com o modo de vida rural.
O destino é ideal para quem busca riachos e uma pausa da rotina agitada.
Em certos pontos, é possível avistar aves silvestres e espécies da fauna local.
O que a gastronomia revela sobre a cidade?
A gastronomia caseira é parte da identidade da cidade. Em Casa Grande, o fogão a lenha continua sendo o coração das casas. Receitas como o frango com quiabo e os doces de leite ainda são preparados do mesmo jeito que os avós faziam — no olho, na intuição, no tempo certo da lenha.
O visitante que provar uma dessas delícias leva mais do que um sabor — leva uma história. O alimento se torna uma forma de conexão com o passado e com as pessoas que o prepararam.
Como é o turismo de base comunitária por aqui?
Em Casa Grande, não há resorts, nem longas filas para tirar foto de uma fachada famosa. O que há é um modo de vida que tem atraído um novo perfil de viajante. Aquele que busca se reconectar com o essencial, com o humano.
O turismo de base comunitária, mesmo que informal, encontra em Casa Grande um solo fértil para crescer com respeito às raízes locais. A cidade oferece uma oportunidade real de trocar experiências com quem vive ali, transformando a visita em uma imersão cultural.
A hospedagem e a alimentação são simples e autênticas, sem a intervenção do turismo de massa.
O contato com os anfitriões, que oferecem café com pão de queijo, é uma experiência genuína.
O silêncio das montanhas, o calor de uma conversa e a simplicidade são as grandes atrações.
Quais são os sabores e saberes que atravessam gerações?
A cidade preserva receitas que não vieram de livros nem da internet, mas da memória afetiva e da convivência. Em muitas festas locais, é comum encontrar barracas com rosquinhas de nata, broas de milho e bolos, feitos pelas senhoras da comunidade.
Essas receitas são uma herança que a cidade guarda com carinho. Elas mostram a riqueza de uma gastronomia que valoriza o sabor, o afeto e a tradição.
Um guia para a sua viagem: o que saber antes de ir?
O acesso a Casa Grande é feito via BR-040 até Congonhas, seguindo depois pela MG-129. O trajeto dura cerca de duas horas e passa por belas paisagens da Serra de Ouro Branco.
É recomendável levar dinheiro em espécie, já que o comércio local é reduzido e nem todos os estabelecimentos aceitam cartões. Prepare-se também para uma conexão fraca de internet, o que pode ser um alívio, dependendo do seu ponto de vista.
A viagem permite o contato direto com a natureza e o modo de vida rural.
Para garantir o almoço, entre em contato com moradores que oferecem refeições sob reserva.
O destino pode ser combinado com outros locais próximos, como o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça.
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O que torna este destino diferente?
Em um mundo onde tantos lugares se moldam para agradar o olhar do turista, Casa Grande se mantém autêntica. Suas ruas sem asfalto, suas festas discretas e sua natureza intacta são parte de um modo de vida que resiste. Aqui, não há pressa. O café é coado devagar e a trilha é feita com conversa.
Essa cidade pacata vai ganhando espaço entre os destinos mais autênticos de Minas Gerais. Não por tendência, mas por merecimento. E o melhor jeito de conhecê-la é ir sem pressa, com olhos e coração abertos para tudo o que ela tem a oferecer.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


Casa Grande/MG - Foto: Igor Souza