O que essa cidade esconde além das igrejas barrocas?
Descubra o lado menos conhecido de São João del Rei e explore festas, trilhos, sabores e histórias que vão além das igrejas barrocas
No Campo das Vertentes, a cerca de 185 km de Belo Horizonte, São João del Rei é uma das cidades turísticas mais emblemáticas de Minas Gerais. Conhecida por seu patrimônio barroco, ela vai além das igrejas e revela um cotidiano vibrante, onde festas populares, trilhos ferroviários, quitandas e tradições afrodescendentes convivem em harmonia.
Conjunto arquitetônico barroco preservado com autenticidade
Cultura popular viva em festas, congadas e bandas
Natureza e distritos que ampliam a experiência turística
Como a tradição religiosa molda a identidade da cidade?
O barroco é a porta de entrada para quem visita São João del Rei. Igrejas como a de São Francisco de Assis e a Catedral Basílica do Pilar impressionam pela arquitetura e riqueza artística. Mas a fé vai além dos templos.
Durante a Semana Santa, moradores organizam procissões e encenações que tomam as ruas de pedra, criando uma atmosfera única. As congadas, presentes em bairros como Matosinhos, celebram santos negros com música, dança e religiosidade afrodescendente. São eventos que não se transformaram em espetáculo turístico, mas permanecem como parte do dia a dia da comunidade.
Trilhos e memória no coração de São João del Rei
O som da Maria Fumaça continua ecoando entre São João del Rei e Tiradentes. O passeio de trem é uma das atrações mais queridas da cidade, mas a ferrovia guarda muito mais do que nostalgia. O Museu Ferroviário, anexo à estação, preserva locomotivas, documentos e objetos que contam como a região foi estratégica para o transporte e o desenvolvimento de Minas.
Ao redor da estação, ruas como a Rua da Prata e o Largo São Francisco mostram outra São João, menos explorada por turistas, mas rica em detalhes: portas antigas, jardins escondidos e moradores que compartilham causos e histórias de família.
Experiências ligadas ao passado ferroviário
Passeio de Maria Fumaça até Tiradentes
Visita ao Museu Ferroviário com peças originais
Caminhada pelo entorno da estação, com casario preservado
Escuta de histórias locais, transmitidas de geração em geração
Quais belezas naturais surpreendem fora do centro?
São João del Rei não é feita só de igrejas e ruas históricas. O distrito do Rio das Mortes guarda colinas verdes, vista para a Serra do Lenheiro e sítios arqueológicos com inscrições rupestres. Esse cenário atrai tanto turistas quanto pesquisadores interessados na pré-história brasileira.
Regiões como São Miguel do Cajuru e São Sebastião da Vitória oferecem hospedagens rurais, trilhas leves, córregos cristalinos e boa comida de fogão a lenha. Para quem busca descanso, esses distritos são refúgios perfeitos, com contato direto com a vida simples da roça mineira.
Gastronomia que mistura tradição e memória
Sem dúvida. Comer em São João del Rei é mergulhar nos sabores de raiz. O frango com quiabo, o feijão tropeiro, a vaca atolada e os doces caseiros fazem parte do repertório cotidiano. Nas quitandas antigas, receitas de família ainda resistem, como o pastel de angu e o bolinho de feijão com pimenta.
A feira de sábado, na Avenida Leite de Castro, é um espetáculo à parte: biscoitos de polvilho, broas de milho e pães de queijo feitos com queijo curado enchem bancas e atraem moradores e visitantes. Comer em São João não é apenas se alimentar, mas experimentar a memória coletiva de uma cidade.
Sabores que marcam São João del Rei
Quitandas tradicionais: broa, biscoito de polvilho, pão de queijo
Pratos típicos: frango com quiabo, tropeiro, vaca atolada
Doces caseiros: leite, figo, abóbora
Receitas antigas: pastel de angu e bolinho de feijão
Onde a cultura continua viva além das igrejas?
Nos bairros, o artesanato resiste com força. Em Tijuco e Tejuco, bordadeiras e artesãos produzem crochê, madeira e ferro, mantendo viva a tradição. O Teatro Municipal, com espetáculos de música e eventos culturais, reforça o papel da cidade como centro artístico regional.
Exposições em casarões históricos, especialmente em datas como o Festival de Inverno e o Natal, mostram como São João del Rei não é apenas guardiã do passado, mas também palco para expressões contemporâneas. É uma cidade que se reinventa sem perder suas raízes.
Por que São João é ponto estratégico para conhecer mais?
Além de seu patrimônio, São João del Rei serve de base para explorar a região. A vizinha Tiradentes, a apenas 15 minutos, é quase extensão natural da experiência turística. Mas há surpresas em cidades menores, como Santa Cruz de Minas e Coronel Xavier Chaves, onde o visitante encontra alambiques artesanais, trilhas e festas religiosas.
Esse papel de cidade-base amplia as possibilidades de viagem e mostra que São João del Rei é muito mais do que um destino único: é porta de entrada para uma rede de experiências.
Quanto tempo é ideal para aproveitar a cidade?
Três a quatro dias são suficientes para explorar bem São João del Rei. Nesse período, o visitante pode conhecer o centro histórico, participar de eventos religiosos ou culturais, fazer o passeio de trem, visitar distritos rurais e ainda degustar a rica gastronomia.
Para quem deseja vivências mais profundas, como participar de festas populares ou oficinas de artesanato, uma estadia maior pode ser ainda mais enriquecedora. Em qualquer tempo, a cidade oferece momentos que ficam na memória.
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Encante-se com o que São João del Rei revela aos poucos
São João del Rei é um convite à descoberta. É nas procissões da Semana Santa, nos ensaios das congadas, nos cheiros das quitandas e nos silêncios das serras que ela mostra sua verdadeira grandeza. Não é uma cidade que se revela de imediato, mas uma que se deixa conhecer devagar, como um livro que pede leitura atenta.
Quem chega disposto a ouvir, caminhar e conversar descobre um destino que não se resume ao barroco, mas que respira história em cada detalhe. É essa mistura de tradição e vida cotidiana que transforma São João del Rei em uma das cidades mais fascinantes de Minas Gerais.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


São João del Rei/MG - Foto: Igor Souza