O que está por trás da ascensão silenciosa desse distrito no turismo mineiro?
Descubra por que Acuruí, um distrito histórico de Itabirito, está ganhando o coração de viajantes que buscam natureza, memória e autenticidade mineira
Acuruí, distrito de Itabirito, Minas Gerais, vem surpreendendo quem busca destinos tranquilos, com natureza preservada e um forte elo com o passado. A pouco mais de 70 km de Belo Horizonte, o vilarejo andava esquecido, quase adormecido. Mas, aos poucos, sem alarde, tem se tornado um dos segredos mais bem guardados do turismo mineiro.
Cercado por serras, córregos e trilhas, Acuruí preserva o que muitos lugares perderam: o silêncio das manhãs, o cheiro de terra molhada, a conversa na varanda e o som da água correndo entre as pedras. É um lugar onde a simplicidade encanta e cada detalhe tem um significado.
O patrimônio histórico, com ruínas e construções de pedra, que guarda as memórias de um passado ligado à mineração.
As belezas naturais, com cachoeiras, matas e trilhas, que oferecem um turismo ecológico e autêntico.
O modo de vida simples e a hospitalidade dos moradores, que garantem uma experiência de turismo mais humana e acolhedora.
O que o patrimônio histórico revela sobre a vila?
A presença de antigas construções coloniais ainda visíveis em meio à vegetação é um dos traços mais marcantes do distrito. Ruínas de muros de pedra, restos de fundações e estruturas parcialmente preservadas contam parte da história local — herança de tempos de mineração, agricultura familiar e religiosidade.
A Capela de Nossa Senhora do Rosário, situada no alto de uma elevação, é um símbolo do legado espiritual do distrito. A arquitetura simples e o entorno natural criam uma atmosfera de paz e recolhimento, mostrando a força da fé que moldou a comunidade.
A fé local se manifesta em tradições vivas?
Sim. A comunidade ainda realiza ali festejos tradicionais, com procissões, rezas e encontros em datas religiosas. Esses eventos, longe do brilho de grandes produções, carregam a autenticidade de quem mantém a fé e as tradições mesmo sem plateia.
É esse tipo de vivência que faz Acuruí tocar fundo no coração de quem chega, pois o visitante testemunha o valor que a comunidade dá às suas raízes.
O que a natureza oferece aos visitantes?
O crescimento do turismo em Acuruí está fortemente ligado ao apelo ecológico da região. Situado entre áreas de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica, o distrito é rodeado por matas, córregos e cachoeiras que ainda conservam um alto grau de preservação.
A Cachoeira do Oroló, por exemplo, é uma das mais procuradas por visitantes. Suas águas escorrem suavemente por rochas e formam poços ideais para banho. O acesso pode ser feito a pé ou por estrada de terra, e a caminhada já vale pela beleza do percurso.
Existem outras belezas naturais escondidas por lá?
Além da Cachoeira do Oroló, outras quedas menores e trilhas pouco conhecidas oferecem experiências para quem busca aventura leve, banhos de rio e contemplação. Moradores da região já começaram a atuar como guias informais, levando visitantes para conhecer belezas escondidas sem agredir o meio ambiente.
Essa busca por uma experiência mais autêntica e conectada à natureza tem impulsionado a redescoberta do vilarejo.
As paisagens de Acuruí são ideais para quem busca tranquilidade e um refúgio da rotina.
A vegetação do local é rica e diversificada, oferecendo um espetáculo à parte.
O distrito tem atraído amantes de trilhas leves, banhos de rio e contemplação da natureza.
Como é a estrutura rústica do distrito?
Embora o distrito ainda não possua uma infraestrutura turística robusta, é justamente esse traço que preserva seu valor. Pequenas pousadas, casas de temporada e hospedagens familiares surgem aos poucos, mantendo o clima rural e o atendimento personalizado.
Quem escolhe pernoitar em Acuruí vive uma experiência diferente: acorda com o canto dos pássaros, toma café com pão de queijo quentinho feito no fogão a lenha e conversa com os donos da pousada sobre as histórias da vila.
O que a gastronomia local revela?
Na gastronomia, o destaque vai para a cozinha simples e saborosa. Pratos com raízes na roça, como feijão tropeiro, frango caipira e angu, ganham espaço nos cardápios de bistrôs, cafés e almoços caseiros. A produção local também se fortalece com queijos, hortaliças e compotas vendidos diretamente por moradores.
Essa culinária afetiva, que remete à memória e às tradições, é uma das experiências mais marcantes para quem visita o distrito.
Quais as melhores dicas para a visita?
O acesso a Acuruí pode ser feito a partir de Itabirito, por uma estrada de cerca de 25 quilômetros. O trajeto alterna trechos asfaltados e de terra, passando por paisagens rurais, matas e mirantes naturais.
O ideal é visitar o distrito durante o período seco, entre abril e setembro. Nessa época, as trilhas ficam mais seguras e as paisagens ganham tons dourados.
É bom lembrar que o sinal de celular pode ser instável em vários pontos da região.
Levar dinheiro em espécie, calçado apropriado e protetor solar são precauções simples.
Durante os períodos festivos, o visitante pode mergulhar nas tradições locais e participar da rotina da comunidade.
O que impulsiona a nova fama de Acuruí?
A ascensão de Acuruí no turismo não é fruto de uma campanha de marketing nem de uma grande obra de infraestrutura. Ela nasce da redescoberta do que é real, da busca por lugares autênticos, do desejo crescente de viajar de forma mais sensível e menos acelerada.
Cada vez mais, os visitantes se encantam com o que encontram no distrito: a paisagem intocada, o patrimônio cultural ainda preservado, a relação respeitosa entre moradores e visitantes. É um tipo de turismo que valoriza o tempo, a escuta e a experiência.
O que Acuruí aponta para o futuro do turismo?
Enquanto muitos lugares se rendem à lógica do turismo em massa, Acuruí aponta para outra direção. O visitante que chega ali encontra mais do que um cenário bonito — encontra um convite à pausa, à observação e à reconexão com valores que andam esquecidos.
A comunidade, por sua vez, começa a perceber o valor de seu território. Iniciativas locais, como oficinas de artesanato, rotas de turismo rural e trilhas interpretativas, estão em crescimento e mostram que é possível gerar renda sem perder a identidade.
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Um modelo de turismo mais humano e duradouro
Essa troca respeitosa entre quem vive e quem visita é a base para um turismo mais ético, mais sustentável e mais transformador. E talvez por isso Acuruí esteja crescendo tanto — sem precisar de pressa, mas com tudo o que realmente importa.
É um modelo que valoriza o essencial e que conquista o viajante pela autenticidade de sua história, da sua natureza e, principalmente, de sua gente. É um refúgio que brilha de forma discreta, mas que fica na memória para sempre.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


Acuruí/MG - Foto: Igor Souza