O que ninguém conta sobre a obra histórica escondida na Serra do Caraça

Descubra a história incomum do Bicame de Pedra em Catas Altas Minas Gerais: arquitetura colonial, mistérios e memória viva

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
24/09/2025

Na Serra do Caraça, em Catas Altas, encontra-se um monumento silencioso, mas de grande relevância: o Bicame de Pedra. Embora esteja entre os bens históricos mais significativos do município, ainda é pouco divulgado diante de outros atrativos da região. Conhecer sua história é desvendar não só a técnica construtiva, mas também as marcas sociais e culturais que ficaram gravadas em suas pedras.

  • Construção datada de 1792, erguida por pessoas escravizadas.

  • Estrutura de pedra com cerca de 251 metros de extensão e 5,10 metros de altura no ponto mais alto.

  • Função de transportar água da serra até áreas de mineração em Brumado.

Quem construiu o Bicame de Pedra e qual seu contexto histórico?

O Bicame de Pedra em Catas Altas Minas Gerais foi construído no final do século XVIII, em 1792, durante o auge do ciclo do ouro. Sua execução se deu com o trabalho de pessoas escravizadas, que utilizaram técnicas tradicionais de encaixe de pedras sem o uso de argamassa. A obra faz parte daquelas construções utilitárias coloniais que não recebem tanto destaque quanto igrejas ou casarões, mas foram fundamentais para o funcionamento da economia mineradora.

O contexto da época explica sua relevância: a extração aurífera demandava grandes quantidades de água, e a solução foi erguer um aqueduto para conduzi-la da Serra do Caraça até o povoado de Brumado. Esse uso mostra como o monumento está diretamente ligado ao cotidiano da mineração e à infraestrutura necessária para o enriquecimento da região.

Qual é a dimensão real dessa estrutura?

As medidas registradas oficialmente pela Prefeitura de Catas Altas apontam que o Bicame tem cerca de 251 metros de comprimento, alcançando 5,10 metros de altura em sua parte mais elevada. Hoje, porém, nem toda a extensão original permanece de pé: estima-se que cerca de 200 metros estejam preservados.

Essa discrepância entre o que foi construído e o que resta é natural em obras com mais de dois séculos de existência. Fatores como erosão, desmoronamentos e a ação do tempo reduziram sua extensão. Mesmo assim, o que ainda pode ser visto transmite a grandiosidade da construção.

Resumo das medidas confirmadas:

  • Comprimento original: 251 metros.

  • Extensão preservada: cerca de 200 metros.

  • Altura máxima: 5,10 metros.

Onde fica o Bicame de Pedra e como chegar até ele?

O monumento está localizado em área rural de Catas Altas, município pertencente à região central de Minas Gerais. O acesso se dá pela MG-129, no sentido de Santa Bárbara, com cerca de 8 km de asfalto e mais 4 km por estrada de terra conhecida como Estrada do Bicame. Em algumas descrições, a distância total a partir do centro da cidade é indicada como aproximadamente 12 km.

O trajeto é considerado de fácil acesso em períodos secos, mas pode exigir maior atenção em dias chuvosos, quando a estrada de terra fica escorregadia. Para os visitantes, recomenda-se planejamento simples: levar água, calçados adequados e tempo para apreciar não apenas o monumento, mas também a paisagem da Serra do Caraça.

Dicas práticas para o visitante:

  • Verificar a condição do tempo antes da visita.

  • Levar calçado confortável para caminhada.

  • Preparar-se para a ausência de infraestrutura turística no local.

Para que servia essa obra de pedra?

O Bicame de Pedra tinha função clara: captar água na Serra do Caraça e conduzi-la até o povoado de Brumado, onde era utilizada na lavagem do ouro. Essa água era essencial para o processo de separação do metal, etapa fundamental no ciclo de mineração.

A construção mostra como a engenharia colonial não se restringia a templos religiosos ou casas urbanas, mas também incluía obras hidráulicas complexas. Sem aquedutos como esse, o sistema produtivo não teria a mesma eficiência, o que reforça sua importância histórica e cultural.

Como está a conservação atual?

Atualmente, a estrutura mantém boa parte de sua imponência. As pedras de quartzito ainda sustentam paredes e arcos, revelando a durabilidade da técnica construtiva empregada. A altura de mais de cinco metros é um dos elementos que mais impressionam os visitantes.

Apesar disso, o Bicame não dispõe de infraestrutura turística consolidada. Não há centro de visitantes ou serviços estruturados, e o acesso depende apenas da estrada de terra e da disposição do viajante em explorar a região. Essa característica, ao mesmo tempo que limita o fluxo de turistas, reforça a sensação de descoberta e autenticidade.

Por que o Bicame de Pedra ainda é pouco conhecido?

A pouca visibilidade se explica por alguns fatores. Em primeiro lugar, a Serra do Caraça tem como principal destaque o Santuário do Caraça, que concentra a maior parte da divulgação turística. Além disso, a ausência de campanhas promocionais específicas para o Bicame contribui para que ele permaneça em segundo plano.

Outro ponto é que a própria localização, em estrada de terra e sem sinalização intensa, torna o monumento menos procurado por visitantes ocasionais. Quem chega até lá, em geral, é alguém que busca experiências mais ligadas à história ou ao turismo cultural.

O que intriga os estudiosos sobre o Bicame?

Mesmo com dados oficiais, ainda existem algumas questões em aberto:

  • Qual era exatamente a extensão inicial preservada?

  • Houve outros usos além do transporte de água para a mineração?

  • Quem foram os responsáveis técnicos pelo projeto, além da mão de obra escravizada?

Essas dúvidas permanecem porque não há documentação detalhada sobre a construção, e o tempo apagou registros que poderiam esclarecer pontos técnicos. O que se sabe, de fato, é que a obra permanece como uma das mais relevantes de Catas Altas em termos de patrimônio histórico.

Qual é a importância cultural e turística desse monumento?

O Bicame de Pedra integra o circuito turístico da Estrada Real, reconhecido por preservar e divulgar a história do ciclo do ouro em Minas Gerais. Em Catas Altas, ele é oficialmente considerado patrimônio histórico, reforçando o valor cultural que possui para o município.

Para o visitante, representa a chance de entrar em contato com um pedaço da história que muitas vezes passa despercebido. É uma oportunidade de ver de perto uma construção do século XVIII, de caminhar por entre seus arcos e de refletir sobre o trabalho que possibilitou sua existência.

+ Leia também: 7 destinos históricos em Minas Gerais que surpreendem qualquer viajante

Um olhar final sobre o Bicame de Pedra

O Bicame de Pedra em Catas Altas Minas Gerais é mais do que uma obra em ruínas. Ele revela a força da engenharia colonial, o esforço de pessoas escravizadas e a ligação direta entre a Serra do Caraça e a mineração que marcou a região. Sua estrutura, ainda preservada em grande parte, continua a impressionar por sua imponência e resistência.

Visitar o Bicame é mergulhar em uma experiência histórica pouco explorada, mas de grande valor. Quem caminha por suas proximidades leva consigo mais do que fotografias: carrega reflexões sobre o passado e sobre a importância de preservar memórias que ajudam a entender a identidade de Minas Gerais.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Bicame de Pedra localizado em Catas Altas, Minas Gerais, ponto turistico e historico de Catas Altas
Bicame de Pedra localizado em Catas Altas, Minas Gerais, ponto turistico e historico de Catas Altas

Bicame de Pedra/MG - Foto: Igor Souza

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