O que ninguém te conta sobre as estações ferroviárias de Minas e seu valor turístico

Descubra o papel surpreendente das estações ferroviárias em Minas Gerais e como elas estão transformando o turismo em várias regiões do estado

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
07/08/2025

Um passado que ainda pulsa nos trilhos mineiros

As estações ferroviárias em Minas Gerais guardam muito mais que histórias antigas: elas abrem portas para novas formas de turismo, conectadas à memória, à paisagem e à identidade mineira. Discretas à beira das linhas de trem desativadas ou restauradas, essas construções continuam exercendo papel central na valorização cultural de diversos municípios.

Por trás de suas estruturas de tijolos aparentes e plataformas silenciosas, pulsa um passado de progresso, café, minério e encontros. Hoje, enquanto algumas estações são museus ou centros culturais, outras permanecem esquecidas, à espera de olhares sensíveis que entendam seu potencial turístico e comunitário.

Estações que contam a história do desenvolvimento de Minas Gerais

A presença das ferrovias foi crucial para a interiorização do progresso em Minas Gerais. Cidades inteiras se formaram ou cresceram a partir da instalação de linhas férreas, principalmente entre o final do século XIX e o início do século XX. Essas estações não eram apenas pontos de embarque e desembarque: eram centros de convivência, marcos de identidade local.

A importância histórica dessas estações vai além da arquitetura. Elas testemunharam o escoamento de café no Sul de Minas, a movimentação de minério na Região Central, e a chegada de famílias inteiras que buscavam uma vida nova. Muitos desses espaços, hoje tombados ou em processo de revitalização, mantêm viva a memória de um tempo em que os trens cruzavam o estado levando desenvolvimento.

A estação de Raposos e o elo perdido com a história ferroviária

Um exemplo comovente da presença ferroviária esquecida é a estação de Raposos, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Localizada às margens do Rio das Velhas, a estação fazia parte do antigo Ramal de Raposos, ligado à Estrada de Ferro Central do Brasil. A estrutura ainda resiste ao tempo, embora desativada, e carrega o charme nostálgico da arquitetura da época.

Apesar da ausência de trens, a estação ainda chama atenção de quem passa pela cidade e tem potencial para integrar um circuito turístico regional, conectando memória, natureza e patrimônio. Raposos, com sua forte ligação com o ouro e com o Parque Nacional da Serra do Gandarela, tem tudo para transformar sua estação em um ponto de visitação cultural, caso iniciativas de preservação avancem.

Estações restauradas e rotas que encantam visitantes

Felizmente, algumas estações ferroviárias mineiras vêm sendo restauradas e devolvidas à população com novos usos. Um dos exemplos mais conhecidos é a Estação Ferroviária de Tiradentes, de onde parte a tradicional Maria Fumaça em direção a São João del-Rei. Mais que um passeio nostálgico, a viagem é uma verdadeira imersão na história ferroviária do estado.

Em Lavras, a antiga estação foi restaurada e hoje abriga eventos culturais. Em Mariana, a estação de onde sai o trem turístico para Ouro Preto também foi revitalizada, recebendo visitantes diariamente. Essas iniciativas mostram que é possível unir turismo, cultura e economia criativa em torno de um patrimônio que é, ao mesmo tempo, material e simbólico.

Estações esquecidas, mas cheias de potencial

Muitas outras estações permanecem esquecidas, mas não menos importantes. Em cidades como Leopoldina, Além Paraíba e Conselheiro Lafaiete, é comum encontrar estruturas fechadas, tomadas pelo mato, mas com valor histórico inegável. A reativação desses espaços — mesmo que não para trens — pode revitalizar o entorno, criar centros de interpretação, cafés, feiras e exposições.

Projetos de turismo ferroviário e de memória poderiam, por exemplo, integrar essas estações a roteiros locais, associando trilhas, gastronomia e história. O resgate não precisa ser total nem imediato — basta começar com ações de reconhecimento, preservação e envolvimento comunitário.

O papel das estações no turismo de experiência

Mais do que atrativos isolados, as estações ferroviárias oferecem a chance de promover o turismo de experiência. Sentar-se em um banco de madeira antigo, ouvir histórias dos ferroviários, caminhar pelos trilhos abandonados e observar a paisagem sob o mesmo ângulo de quem viajava décadas atrás são vivências que tocam a alma.

Além disso, há um público crescente interessado nesse tipo de turismo afetivo. Viagens com foco em patrimônio e memória têm ganhado espaço, especialmente entre os que buscam mais que fotos: buscam sentido. Minas, com sua rede extensa de estações, tem tudo para liderar esse movimento.

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Perguntas frequentes sobre as estações
  • Ainda existem trens turísticos ativos em Minas Gerais? Sim, como a Maria Fumaça entre Tiradentes e São João del-Rei, e o trem turístico entre Ouro Preto e Mariana.

  • A estação de Raposos pode ser visitada? Sim, mas está desativada. É possível observá-la externamente. Recomenda-se cautela, pois não há estrutura turística instalada.

  • Existem projetos de revitalização em andamento? Alguns municípios mineiros têm projetos culturais em fase de estudo, mas nem todos contam com apoio financeiro suficiente.

  • Qual o papel dessas estações no turismo local? Elas podem fortalecer a identidade regional, atrair visitantes e impulsionar a economia criativa através de eventos e roteiros culturais.

  • É possível criar rotas turísticas a partir das estações desativadas? Sim. Com planejamento e envolvimento comunitário, muitas estações podem se tornar parte de circuitos culturais e ecológicos.

  • Há estações tombadas pelo patrimônio histórico? Sim. Algumas estações, como as de São João del-Rei, Mariana e Ouro Preto, são tombadas e integram roteiros históricos oficiais.

Um novo olhar sobre os trilhos do passado

As estações ferroviárias em Minas Gerais são mais do que heranças do tempo dos trens — são convites para um turismo que valoriza o território, a história e o afeto. Cada estação, ativa ou não, guarda memórias de chegadas e partidas, de encontros e transformações que moldaram o jeito mineiro de ser.

Reconhecer o valor dessas estruturas é reconhecer o papel do interior, das comunidades e da memória na construção de um turismo mais justo, sustentável e encantador. No compasso lento dos trilhos antigos, Minas revela caminhos que ainda têm muito a dizer. E talvez seja essa a viagem mais rica de todas.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Estação ferroviária que virou ponto turistico em Raposos, pertinho de Belo Horizonte
Estação ferroviária que virou ponto turistico em Raposos, pertinho de Belo Horizonte

Raposos/MG - Foto: Igor Souza

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