O rocambole que colocou uma cidade inteira no mapa turístico de Minas

Descubra como uma cidade mineira uniu tradição, sabor e história para atrair turistas de todo o Brasil com muito mais do que um doce famoso

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
30/07/2025

Lagoa Dourada em Minas Gerais: onde tradição e sabor caminham juntos

A cerca de 180 km de Belo Horizonte, no coração do Campo das Vertentes, está Lagoa Dourada em Minas Gerais. Embora não seja uma cidade grande ou repleta de atrações badaladas, ela conseguiu conquistar espaço no imaginário nacional com um símbolo tão simples quanto poderoso: o rocambole. Mas esse doce é só a porta de entrada para uma cidade que guarda mais histórias, tradições e paisagens do que se imagina à primeira vista.

Com pouco mais de dez mil habitantes, Lagoa Dourada tem o tipo de charme que não se mede em números, mas em afetos. A cidade soube transformar sua herança culinária em identidade e, com isso, atrair visitantes de diferentes regiões. Mas além das vitrines recheadas de rocamboles, há um cotidiano cheio de nuances, um centro histórico preservado e uma cultura que pulsa no silêncio das igrejas e no movimento das quitandas.

Como o rocambole virou patrimônio afetivo de Lagoa Dourada

O que começou como uma receita de família ganhou as ruas da cidade, depois as rodovias e, por fim, acabou se tornando um dos doces mais emblemáticos de Minas Gerais.. O rocambole de Lagoa Dourada tem uma textura única, com massa leve, recheio generoso e um sabor que evoca memórias de infância. Há quem diga que o segredo está na forma artesanal de preparo, enquanto outros creditam o sucesso à dedicação dos moradores que mantêm viva a tradição.

As versões mais clássicas são recheadas com goiabada ou doce de leite, mas hoje já é possível encontrar variedades com brigadeiro, chocolate branco, maracujá e até opções salgadas em algumas confeitarias locais. O doce movimenta a economia do município, gera empregos e atrai centenas de visitantes nos fins de semana, muitos deles em busca do rocambole “original” — aquele feito à mão, com carinho e história.

Doçarias, vitrines e o sabor da hospitalidade mineira

Ao chegar em Lagoa Dourada, é impossível não perceber o quanto o doce está presente na paisagem urbana. São diversas docerias espalhadas ao longo da avenida principal, cada uma com sua receita própria e seu modo de contar a história do rocambole. Muitas dessas confeitarias são negócios familiares, passados de geração em geração, e ainda funcionam nos mesmos endereços há décadas.

Mais do que comprar um pedaço de doce, visitar essas lojas é mergulhar em um estilo de vida. Donos e atendentes gostam de conversar, contar histórias e até oferecer uma degustação. É uma experiência que envolve todos os sentidos — e que vai muito além da sobremesa.

Patrimônio religioso: fé discreta, mas presente

Lagoa Dourada também preserva traços importantes da religiosidade mineira. No centro da cidade está a Igreja Matriz de Santo Antônio, com arquitetura tradicional e um interior simples, mas acolhedor. Ela continua sendo o ponto de encontro da comunidade, tanto nas missas regulares quanto nas festas religiosas ao longo do ano.

A Festa de Santo Antônio é uma das mais importantes do calendário local. Com procissões, barraquinhas e momentos de oração, ela reúne moradores de toda a região e reforça os laços comunitários. Em outras comunidades do município, capelas como a de Nossa Senhora do Rosário ainda estão preservadas e são mantidas com cuidado por moradores que mantêm a fé ativa fora do circuito turístico.

Centro histórico e o cotidiano que resiste

Ao contrário de outras cidades históricas mineiras, Lagoa Dourada nunca passou por grandes intervenções em seu conjunto urbano. Isso significa que seu centro histórico, embora menos conhecido, carrega um traço de autenticidade raro. As casas, muitas delas com janelas de madeira e muros de pedra, continuam sendo residências e pequenos comércios.

Andar pelas ruas de paralelepípedo é perceber um cotidiano que resiste ao tempo: o som do sino da igreja, o vai e vem das senhoras com sacolas de feira, o banco da praça ainda sendo o ponto principal de encontros no fim da tarde. Não há roteiros turísticos prontos, mas há um convite aberto para quem deseja viver a cidade como ela realmente é.

Gastronomia mineira além do rocambole

Embora o doce seja o protagonista, a culinária local oferece muito mais para quem decide explorar os sabores da cidade. Restaurantes simples, com cardápios escritos à mão, servem pratos típicos como feijão tropeiro, frango com quiabo, torresmo, angu e couve refogada. Tudo com aquele toque caseiro que só a comida mineira sabe oferecer.

Além disso, é comum encontrar quitandas feitas com receitas de avós, como biscoito de polvilho, broa de fubá e bolos variados. Em feiras e mercados, moradores também vendem queijos artesanais, doces de corte, geleias e outros produtos típicos da roça. É possível montar uma cesta mineira completa sem sair da cidade.

Natureza tranquila e paisagens do interior

A geografia de Lagoa Dourada é marcada por colinas suaves, campos abertos e vegetação típica do interior de Minas. Embora a cidade não seja conhecida por grandes atrativos naturais, seus arredores oferecem paisagens tranquilas, ideais para caminhadas, contemplação e descanso. Estradinhas de terra levam a mirantes naturais de onde se avista o pôr do sol entre as serras.

Essas áreas são especialmente agradáveis para quem busca turismo de experiência. Em sítios e propriedades rurais, é possível conversar com moradores, conhecer o cultivo de alimentos e até acompanhar a produção de quitandas feitas no forno à lenha. Não há parques estruturados, mas há uma natureza que se integra ao modo de vida do lugar.

Onde fica Lagoa Dourada e como chegar

Lagoa Dourada está situada entre dois importantes destinos turísticos: São João del-Rei, a cerca de 40 km, e Tiradentes, a aproximadamente 50 km. Esse posicionamento estratégico permite que a cidade seja incluída em roteiros que combinam história, gastronomia e cultura.

O acesso se dá principalmente pela BR-265, que corta o município. A partir de Belo Horizonte, o trajeto de carro leva cerca de duas horas e meia. Para quem deseja uma experiência mais completa, é possível montar um circuito passando também por Prados, Resende Costa e Coronel Xavier Chaves, cidades vizinhas com perfis semelhantes.

Uma cidade pequena com impacto gigante

Lagoa Dourada em Minas Gerais é um exemplo de como uma tradição local pode transformar a realidade de um município inteiro. O rocambole, mais do que um produto, tornou-se uma ponte entre o passado e o presente, entre a cidade e o mundo. Mas quem aceita o convite de ir além da vitrine descobre que ali há muito mais: fé, história, sabores e uma forma de viver que resiste com doçura e dignidade.

+ Leia também: Turismo em ascensão, Brumal ganha espaço entre os melhores roteiros mineiros

Perguntas frequentes sobre Lagoa Dourada
  • Onde fica Lagoa Dourada? Fica no Campo das Vertentes, em Minas Gerais, a cerca de 180 km de Belo Horizonte e a 40 km de São João del-Rei.

  • Como chegar na cidade? O acesso principal é pela BR-265. De BH, o trajeto de carro leva aproximadamente 2h30.

  • Qual é o doce típico da cidade? O rocambole artesanal, famoso em todo o estado, com recheios como doce de leite, goiabada e outros sabores.

  • O que fazer em Lagoa Dourada? Visitar docerias tradicionais, conhecer o centro histórico, experimentar a culinária local e explorar o entorno rural.

  • Onde se hospedar? A cidade tem pousadas simples e familiares. Também é possível se hospedar em municípios vizinhos.

  • Qual a melhor época para visitar? O clima é agradável o ano inteiro, mas os meses secos (maio a agosto) são ideais para aproveitar o interior mineiro.

Muito mais que um doce: um destino com alma mineira

Em tempos de turismo acelerado, Lagoa Dourada oferece pausa, afeto e verdade. A cidade que ficou famosa por um rocambole revela, aos poucos, outras camadas de encanto — da arquitetura ao tempero, da fé ao silêncio das ruas. E talvez seja justamente essa simplicidade preservada que faz dela um lugar tão especial.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Rocambole de doce de leite, artesanal e uma xicara de café ao fundo
Rocambole de doce de leite, artesanal e uma xicara de café ao fundo

Rocambole de Doce de Leite

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