O segredo barroco que transformou uma cidade mineira em patrimônio mundial

Descubra Congonhas em Minas Gerais, a cidade das obras de Aleijadinho, onde arte, fé e história se unem em um dos patrimônios mais valiosos do Brasil

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
17/11/2025

Congonhas, em Minas Gerais, é uma cidade onde a arte e a fé se encontram de forma monumental. Entre ladeiras, igrejas e esculturas que resistem ao tempo, ela guarda o legado de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e um dos conjuntos barrocos mais admirados do mundo.

  • Berço das obras monumentais de Aleijadinho.

  • Reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Mundial.

  • Símbolo da fé, da arte e da identidade mineira.

Como Congonhas se tornou um símbolo da fé em pedra?

A história de Congonhas se confunde com a devoção. Surgida no século XVIII em torno do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, a cidade nasceu como um centro de peregrinação e rapidamente se tornou um dos polos religiosos mais importantes do país. A fé moldou o traçado urbano e inspirou artistas, escultores e devotos.

A principal referência é o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, um complexo arquitetônico e paisagístico que sintetiza o barroco mineiro. No adro, as esculturas dos Doze Profetas, esculpidas por Aleijadinho, observam o vale com expressão serena e majestosa — um diálogo eterno entre arte e espiritualidade.

Qual é o segredo por trás do título de Patrimônio Mundial?

Em 1985, a UNESCO reconheceu o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos como Patrimônio Mundial, destacando seu valor universal. O conjunto é uma síntese do barroco brasileiro: arquitetura, escultura e religiosidade integradas em perfeita harmonia.

Mas o segredo que faz de Congonhas um caso singular está na força narrativa de suas obras. Aleijadinho e o pintor Manoel da Costa Ataíde criaram um diálogo visual que conduz o visitante da Via Sacra às capelas dos Passos, culminando nos Profetas. A experiência é espiritual, estética e histórica — um roteiro de fé transformado em arte.

O que representa o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos

O santuário é o coração de Congonhas. Além da igreja principal, dedicada ao Bom Jesus, o conjunto inclui seis capelas que retratam as etapas da Paixão de Cristo. Cada capela abriga grupos escultóricos em cedro policromado, elaborados com detalhamento impressionante.

Essas cenas, criadas por Aleijadinho e pintadas (policromadas) por Manoel da Costa Ataíde e sua oficina, dão vida aos episódios bíblicos de forma dramática e realista. As expressões faciais, os gestos e as composições das figuras fazem do local uma das mais extraordinárias manifestações artísticas do período colonial brasileiro.

Elementos que compõem o santuário:
  • Igreja principal do Bom Jesus de Matosinhos.

  • Seis capelas da Via Sacra.

  • Esculturas em cedro e pedra-sabão.

  • O adro com os Doze Profetas de Aleijadinho.

Vista Externa da Igreja dos Doze Profetas na Praça do Santuário em Congonhas
Vista Externa da Igreja dos Doze Profetas na Praça do Santuário em Congonhas

Congonhas/MG - Foto: Igor Souza

Vista externa do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas MG
Vista externa do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas MG
Vista externa do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas MG
Vista externa do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas MG

Congonhas/MG - Fotos: Igor Souza

Por que os Profetas impressionam até hoje?

As esculturas dos Doze Profetas, feitas em pedra-sabão, representam o ápice da genialidade de Aleijadinho. Cada uma delas tem expressão única, movimento próprio e simbologia precisa. A composição do conjunto cria um diálogo entre fé, emoção e proporção, em perfeita harmonia com o cenário das montanhas.

Além do aspecto artístico, há uma mensagem espiritual e social. Os profetas são guardiões silenciosos de Congonhas, lembrando o papel da arte como ponte entre o sagrado e o humano. É por isso que o adro do santuário se tornou o cartão-postal da cidade e um dos cenários mais fotografados de Minas.

Os profetas que compõem o conjunto:
  • Isaías, Jeremias, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oseias, Jonas, Joel, Amós, Obadias, Naum e Habacuque.

O que o visitante pode encontrar além do santuário?

Embora o santuário seja o ponto mais famoso, Congonhas tem muito mais a oferecer. O Museu de Congonhas, inaugurado em 2015, é uma parada indispensável. Ele apresenta acervo interativo sobre o barroco, o trabalho de Aleijadinho e o processo de conservação do patrimônio.

Outro destaque é o Museu da Imagem e Memória, que resgata o cotidiano da cidade e as histórias de fé que atravessam gerações. As ruas do centro guardam casarões coloniais, praças floridas e lojinhas de artesanato, onde o visitante pode sentir o mesmo espírito mineiro que inspira o santuário há séculos.

Outros pontos de interesse:
  • Museu de Congonhas (ao lado do santuário).

  • Museu da Imagem e Memória.

  • Centro histórico e feiras de artesanato.

  • Mirantes naturais com vista para o conjunto barroco.

Como a fé e o turismo convivem em Congonhas?

O turismo religioso é o eixo da cidade, mas ele se equilibra com a devoção genuína da população. Todos os anos, especialmente em setembro, a Festa do Senhor Bom Jesus de Matosinhos (o Jubileu) movimenta o município, atraindo fiéis de várias regiões do país.

Durante o evento, procissões, novenas e apresentações musicais tomam as ruas, reforçando o vínculo entre fé e cultura. Mesmo fora do período festivo, o visitante encontra celebrações menores e o acolhimento típico mineiro. Em Congonhas, a religiosidade é parte do cotidiano — não um espetáculo, mas uma forma de vida.

Qual é o papel de Aleijadinho na identidade da cidade?

A presença de Aleijadinho em Congonhas vai além do aspecto artístico: é também um elemento identitário. A cidade se tornou um símbolo de sua genialidade e um marco de resistência criativa diante das limitações físicas que o escultor enfrentou.

Cada obra reflete uma compreensão profunda do sofrimento e da fé. Essa sensibilidade faz com que Congonhas seja, até hoje, um dos lugares onde o visitante se sente mais próximo do artista e de sua mensagem. Caminhar pelo santuário é, em certa medida, percorrer a trajetória humana e espiritual de Aleijadinho.

O que torna Congonhas única no contexto do barroco mineiro?

Diferente de Ouro Preto, que impressiona pela escala urbana, ou de São João del-Rei, que fascina pela música sacra, Congonhas se destaca pela integração entre arte e paisagem. O santuário se ergue em um ponto alto, dominando o horizonte, e se conecta visualmente à cidade abaixo — uma metáfora do encontro entre o divino e o terreno.

Essa relação entre arquitetura e topografia é um dos motivos pelos quais o local foi reconhecido internacionalmente. Além disso, o conjunto mantém autenticidade rara: as esculturas e as capelas permanecem no mesmo lugar desde o século XVIII, preservando o sentido original da obra.

Aspectos que diferenciam Congonhas:
  • Integração entre arte, fé e geografia.

  • Autenticidade e preservação das obras originais.

  • Roteiro histórico que continua ativo e acessível.

+ Leia também: O vilarejo mineiro que surpreende mais que Lavras Novas e Milho Verde

Um convite para sentir o barroco com o coração

Congonhas é mais que um destino turístico — é uma experiência de introspecção e beleza. A cidade convida o visitante a desacelerar, observar os detalhes e compreender o diálogo entre o homem, a fé e a arte.

Em um tempo em que tudo é efêmero, Congonhas permanece sólida, feita de pedra, madeira e devoção. É um lembrete de que a arte mineira não é apenas patrimônio: é sentimento coletivo, gravado na alma de quem vive e visita esse pedaço singular de Minas Gerais.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Posts que você pode gostar