Onde a história e a natureza se encontram em Minas Gerais

Descubra São Gonçalo do Rio das Pedras, um refúgio mineiro onde a história da Estrada Real encontra a paz da natureza

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
11/09/2025

É possível encontrar um refúgio onde a história de séculos passados se mistura com a serenidade da natureza, e onde o tempo desacelera para que a alma possa descansar? Em São Gonçalo do Rio das Pedras, um charmoso distrito de Serro, no Alto Jequitinhonha, a resposta é um sonoro "sim". Este pequeno povoado é um convite para uma viagem sensorial, que reconecta o visitante com o que realmente importa.

  • Um distrito que preserva o espírito colonial e a vida simples do interior mineiro.

  • Um ponto estratégico na Estrada Real, com moinhos de mais de 100 anos ainda em funcionamento.

  • Acolhimento autêntico e gastronomia de raiz, com festivais de tira-gosto e de frango caipira.

Por que São Gonçalo do Rio das Pedras é um refúgio de paz?

Diferente das vizinhas mais badaladas, São Gonçalo do Rio das Pedras resiste bravamente ao frenético ritmo do mundo moderno. O que a torna tão especial é a preservação de sua cultura ancestral e de seu modo de vida tradicional. Não se trata de uma simples estagnação no tempo, mas de uma escolha consciente de manter a autenticidade local, com um povo que se recusa a perder a delicadeza do convívio.

O silêncio, aqui, não é ausência de som; é um patrimônio cultural. Você ouve o canto dos passarinhos nas árvores e o galo cantando à distância, uma melodia que raramente se escuta nas grandes cidades. Essa paz, valorizada até mesmo pelo turismo local, é o que faz o vilarejo ser um paraíso da resistência ativa.

O patrimônio histórico da vila

A arquitetura colonial, com casarios simples e bem caiados, e as ruas de pedras enormes, embora desconfortáveis para carros, são preciosos testemunhos da história. Elas carregam a memória das mãos que as construíram e das famílias que ali viveram. Caminhar por elas é um prazer raro e puro.

A sensação é de estar em um filme. A presença de pessoas dóceis e amáveis, que te olham e dizem "Bom Dia" mesmo sem te conhecer, é a prova final de que a hospitalidade aqui é espontânea e profunda.

Qual a história por trás desse povoado colonial?

O povoado surgiu no início do século XVIII, em decorrência da exploração do ouro na região. No entanto, o ouro extraído por negros escravos ia diretamente para os cofres da Coroa Portuguesa. Por isso, o local não prosperou como as vizinhas Diamantina e Serro. A população, em sua maioria, é descendente dos negros escravizados.

Sua história está intimamente ligada à Estrada Real e ao Caminho dos Diamantes, rota que ligava Diamantina a Paraty. O vilarejo era um ponto de passagem obrigatório para os tropeiros. O Largo do Comércio era o local de fiscalização e descanso, onde ainda hoje se encontra um antigo Rancho de Tropas.

As lendas que construíram a identidade local

A lenda de sua fundação conta que um menino solitário encontrou uma imagem de São Gonçalo na goiabeira. Após a imagem retornar milagrosamente ao mesmo local, a comunidade decidiu homenagear o santo português, erguendo a igreja que hoje é a Matriz. Os registros indicam que a igreja foi construída antes de 1732.

A rica história da cidade se reflete na religiosidade de seus moradores. As festas religiosas, como a Festa de São Gonçalo em janeiro e a Festa do Rosário em outubro, reúnem a população e os turistas em excelentes comemorações que resgatam a cultura afro-brasileira.

Onde a natureza exuberante e a cultura local se misturam?

Cercado pela majestosa Serra do Espinhaço e cortado pelo Rio das Pedras, o vilarejo tem uma beleza cênica de tirar o fôlego. As montanhas, como o Pico do Raio e a Lapa da Igreja, criam um cenário que se mistura com as casas coloniais. A paisagem de campos de altitude e "mares de morros" é digna de um cartão postal.

As cachoeiras são as estrelas da paisagem, convidando a um mergulho em águas refrescantes. O vilarejo é cercado por diversas quedas d'água, algumas de fácil acesso e outras que exigem trilhas, mas todas recompensam o esforço com paisagens deslumbrantes. A população se orgulha de seu patrimônio natural.

Explorando as cachoeiras do distrito

São Gonçalo do Rio das Pedras conta com diversas cachoeiras em seu entorno, cada uma com sua particularidade. Entre as mais conhecidas, destacam-se:

  • Cachoeira do Comércio: Possui uma pequena queda e um paredão de 85 metros, ideal para a prática de rapel. No local, ainda funcionam moinhos de pau-a-pique com mais de 100 anos, usados para a produção de fubá.

  • Cachoeira da Grota Seca: Localizada nos arredores da Fazenda Grota Seca, possui cerca de 30 quedas d'água, formando poços para banho.

  • Cachoeira do Pacu: Fica no lugarejo de mesmo nome, a 2 km da sede. Tem águas cristalinas, ideais para um banho revitalizante, mesmo com pouco volume.

Os atrativos naturais e culturais que encantam o viajante

Além das cachoeiras, a região conta com trilhas, como a da Serra do Raio (10 km), e belezas naturais como a Pedra da Rapadura e cachoeiras subterrâneas. O Presépio de Dona Lena, exposto de setembro a novembro, também merece uma visita. O trabalho de artesãos locais, com peças de cerâmica, tecidos e madeira, é outro importante atrativo, que reflete a cultura miscigenada da região.

A comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras mantém firme a posição de que seu maior patrimônio como destino turístico reside, exatamente, nessas particularidades culturais. A arquitetura, as ruas de pedra e a hospitalidade do povo são o que a diferencia, atraindo o turista sensível que busca paz e tranquilidade.

Qual o segredo da gastronomia local?

A gastronomia de São Gonçalo do Rio das Pedras é uma celebração da culinária mineira de raiz. Não há luxo, mas há autenticidade e sabor inigualável. O segredo está nos ingredientes frescos, no preparo caseiro e, acima de tudo, na hospitalidade de quem cozinha.

A vila conta com festivais gastronômicos que já se fixaram no calendário regional e atraem turistas de diversas regiões. Os eventos são uma chance de provar a comida mais saborosa e sentir a essência mineira.

Festivais que celebram o sabor da roça

Entre os eventos mais populares, estão:

  • Festival De-tira-em-tira: Em maio, o festival atrai turistas com iguarias típicas, como linguiça caseira com tiras de banana e rolinhos de taioba ao molho de jabuticaba.

  • Festival do Frango Caipira: Em outubro e novembro, o evento homenageia o famoso frango mineiro, com pratos que vão do tradicional frango com quiabo ao disputado frango ao molho pardo.

A produção de doces caseiros, cachaças de frutas e o artesanato local, especialmente o de capim, são produtos que trazem riqueza e guardam um imenso potencial de emprego e renda no distrito. Por todo lado, o cheiro de comida caseira sai pelas janelas, convidando a todos a provar um sabor que realmente vem da terra.

Como chegar a esse destino de paz e sossego?

São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito de Serro, está a 338 km de Belo Horizonte. O acesso mais comum é via Diamantina, mas a estrada de terra de 35 km é acidentada e com declives, levando cerca de 1h30 para ser percorrida. O caminho que liga o Serro ao povoado, mesmo que não seja pavimentado, é bem mais seguro e plano, sendo uma rota preferível para muitos viajantes.

Para os aventureiros, o vilarejo é um ponto de passagem para ciclistas e viajantes que percorrem a Estrada Real, seguindo a mesma rota que no século XVIII era obrigatória para tropeiros. A sugestão é fazer a visita a São Gonçalo do Rio das Pedras e também a Milho Verde no mesmo dia, aproveitando a oportunidade de conhecer dois típicos vilarejos mineiros do interior em um só passeio.

+ Leia também: Uma das cidades mais belas de Minas, ainda fora do radar do turismo de massa

Por que São Gonçalo do Rio das Pedras é um lugar para a alma?

Em um mundo onde as pessoas valem menos que as coisas e a velocidade destrói a delicadeza do convívio, São Gonçalo do Rio das Pedras representa o que há de mais valioso: a resistência consciente de um povo que preserva a sua história e a sua forma de vida tradicional. Mais do que um destino turístico, é um convite para o viajante sensível, aquele que busca paz e tranquilidade para o corpo e a alma.

Aqui, a simplicidade é a maior riqueza, e a grandeza da vida se revela nos pequenos gestos e nos cenários que, de tão bucólicos, parecem pertencer a outro tempo. Visitar este lugar não é apenas conhecer, é se reencontrar.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Cachoeira natural com borda infinita, com vista para a natureza em São Gonçalo do Rio das Pedras
Cachoeira natural com borda infinita, com vista para a natureza em São Gonçalo do Rio das Pedras

São Gonçalo do Rio das Pedras/MG - Foto: Igor Souza

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