Onde o ouro cedeu lugar à tranquilidade: o vilarejo que encanta o Brasil
Em Minas Gerais, um vilarejo onde o ouro deu lugar à paz e à natureza exuberante. Descubra Cocais e seus segredos arqueológicos


Cocais/MG - Foto: Igor Souza
Na vastidão da Serra do Espinhaço, a poucos quilômetros do burburinho histórico de cidades como Ouro Preto e Mariana, existem refúgios que guardam a essência de uma Minas Gerais mais íntima e silenciosa. Um desses lugares é Cocais, um distrito de Barão de Cocais que parece ter parado no tempo, mas de uma forma que acolhe e encanta. Onde antes o som das bateias e a febre do ouro ditavam o ritmo, hoje é o murmúrio das cachoeiras e a tranquilidade de suas ruas que convidam o viajante a uma experiência de profunda reconexão.
Um legado do Ciclo do Ouro, visível em sua arquitetura e história.
Belezas naturais, incluindo cachoeiras e paisagens da Serra do Espinhaço.
Um sítio arqueológico milenar que adiciona uma camada de mistério ao destino.
Como um antigo arraial do ouro se transformou em um refúgio de paz?
A história de Cocais está intrinsecamente ligada à corrida pelo ouro que moldou Minas Gerais no século XVIII. Nascido como um pequeno arraial para abrigar garimpeiros e exploradores, o local prosperou com a extração do metal precioso, tornando-se um ponto de passagem e apoio na famosa Estrada Real. Sua igreja matriz, dedicada a Sant'Ana, e o casario colonial que ainda resiste em suas ruas principais são testemunhas vivas dessa época de opulência e trabalho árduo.
Com o inevitável esgotamento das minas, muitos arraiais da região caíram no esquecimento ou viram sua população diminuir drasticamente. Em Cocais, esse declínio econômico se revelou, com o passar dos séculos, uma bênção para sua preservação. O vilarejo não sofreu as grandes modernizações de outras cidades, mantendo seu traçado original e um ritmo de vida que hoje é seu maior atrativo. A tranquilidade que impera é o legado direto de uma história que trocou a ambição do ouro pela riqueza da simplicidade.
O que as misteriosas inscrições da Pedra Pintada revelam?
Talvez o maior tesouro do distrito de Cocais, em Barão de Cocais, Minas Gerais, não seja o ouro que já foi extraído de suas terras, mas sim os segredos gravados em rocha há milênios. A poucos quilômetros do centro do vilarejo, o Sítio Arqueológico da Pedra Pintada se impõe na paisagem como um grande painel a céu aberto. Trata-se de uma imensa muralha de quartzito com cerca de 3.000 metros quadrados, coberta por enigmáticas pinturas rupestres de cor ocre-avermelhada.
Estudiosos estimam que as inscrições tenham sido feitas por grupos de caçadores-coletores que habitaram a região há aproximadamente 6 mil anos. As pinturas retratam cenas de caça, rituais e figuras que misturam traços humanos e de animais, oferecendo um vislumbre raro da vida pré-histórica no coração do Brasil. O significado exato de muitos desses símbolos permanece um mistério, o que torna a visita ao local uma experiência ainda mais fascinante e instigante.
O que observar nos painéis da Pedra Pintada
As pinturas rupestres de Cocais são variadas e despertam a imaginação. Ao visitar o sítio, com o acompanhamento de um guia local, é possível identificar diferentes tipos de figuras.
Figuras antropomórficas: Representações de seres humanos, muitas vezes em cenas de ação ou rituais coletivos.
Figuras zoomórficas: Imagens de animais, com destaque para cervídeos, que eram parte importante da fauna e da subsistência da época.
Grafismos e símbolos geométricos: Sinais abstratos, como círculos, linhas e pontos, cujo significado ainda é objeto de debate entre arqueólogos.
As belezas naturais que emolduram o vilarejo
A localização de Cocais, distrito de Barão de Cocais em Minas Gerais, é privilegiada, aninhada em um vale cercado pelas montanhas da Serra do Espinhaço. Essa geografia exuberante presenteia os visitantes com uma série de atrativos naturais, sendo as cachoeiras os mais procurados. A mais famosa delas é a Cachoeira de Cocais, um complexo de quedas d'água e poços de águas cristalinas, ideal para um banho refrescante após uma caminhada.
Além da cachoeira principal, a região é repleta de outras quedas menores e trilhas que serpenteiam pela mata, revelando a rica biodiversidade da transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica. Para os adeptos do ecoturismo e do trekking, explorar os arredores de Cocais é uma oportunidade de contato direto com uma natureza preservada, onde o silêncio é quebrado apenas pelo canto dos pássaros e pelo som da água correndo nas pedras.
O charme das ruas e da vida local
Caminhar sem pressa por Cocais é a melhor maneira de absorver sua atmosfera. As ruas de pedra, as casinhas coloridas com suas janelas e portas de madeira, e a imponente Igreja de Sant'Ana no alto de uma pequena colina compõem um cenário bucólico e fotogênico. O ritmo é ditado pela rotina dos moradores, que recebem os visitantes com uma hospitalidade genuína, sempre prontos para uma boa conversa no banco da praça.
A infraestrutura turística é simples, mas charmosa, com pousadas aconchegantes e pequenos restaurantes que servem o melhor da culinária mineira, preparada no fogão a lenha. A experiência de se hospedar em Cocais vai além do simples ato de viajar; é um convite para vivenciar um estilo de vida mais conectado com a terra, com a história e com as pessoas, algo cada vez mais raro e valioso nos dias de hoje.
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Por que Cocais é mais do que uma parada no caminho?
Em uma região tão rica em destinos consolidados, Cocais poderia ser visto como apenas mais um ponto no mapa da Estrada Real. No entanto, o vilarejo oferece uma combinação única de história, natureza e mistério que o torna um destino completo por si só. É um lugar que satisfaz tanto o viajante que busca a tranquilidade de uma cachoeira quanto o explorador fascinado por enigmas do passado, como os da Pedra Pintada.
Visitar Cocais é, portanto, uma decisão de se aprofundar na alma de Minas Gerais, de ir além do óbvio para descobrir um lugar onde o tempo parece ter agido com gentileza. É uma oportunidade de entender como a ausência do ouro pode, no fim das contas, revelar as maiores riquezas de uma terra: sua paz, sua beleza natural e as histórias silenciosas que suas pedras e suas gentes têm para contar.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


