Patrimônio de 230 anos atrai olhares no coração de Minas
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Um aqueduto colonial em meio à natureza da Serra do Caraça
Em meio às curvas da Serra do Caraça, no município de Catas Altas, Minas Gerais, está uma construção que atravessou séculos sem perder a sua força: o Bicame de Pedra. Erguido por volta de 1792, o aqueduto ainda se mantém de pé, resistindo ao tempo e atraindo visitantes que buscam mais do que paisagens — buscam sentido, história e conexão.
Essa estrutura, feita com precisão a partir de pedras encaixadas sem argamassa, é um exemplo notável da engenharia colonial. Mas, além do valor técnico, o Bicame de Pedra carrega um simbolismo profundo: ele representa o esforço humano diante das montanhas, a luta por recursos durante o ciclo do ouro e a beleza que nasce da simplicidade.
O que é e por que o Bicame de Pedra impressiona
O Bicame de Pedra em Catas Altas Minas Gerais é um aqueduto construído no século XVIII com o objetivo de conduzir água até a Casa de Fundição da cidade, essencial para o processamento do ouro extraído da região. Sua função era técnica, mas sua forma é poética: sete arcos de pedra cortam um trecho de mata, com cerca de 30 metros de extensão, criando um contraste harmônico entre o cinza do granito e o verde da vegetação.
Acredita-se que tenha sido construído com mão de obra escravizada, como muitas obras da época colonial, o que reforça o peso histórico e simbólico dessa herança e complexa deixada pelo ciclo da mineração. Ainda assim, seu estado de conservação surpreende. A ausência de argamassa e o uso de pedras cuidadosamente escolhidas e posicionadas tornam a estrutura uma aula viva de técnicas construtivas tradicionais.
Como chegar ao Bicame de Pedra
Localizado a cerca de 8 km do centro de Catas Altas, o Bicame de Pedra pode ser acessado por estrada de terra, com trechos que variam de fáceis a moderados, dependendo das condições climáticas. A caminhada a partir de determinados pontos exige preparo físico leve, sendo indicada para quem gosta de trilhas tranquilas com recompensa visual no final.
A cidade de Catas Altas fica a aproximadamente 120 km de Belo Horizonte. Para quem parte da capital mineira, o trajeto pode ser feito pela BR-381 até João Monlevade, seguindo depois por estradas secundárias até o destino. O ideal é programar a visita com tempo, principalmente em períodos de chuvas, quando o acesso fica mais escorregadio.
A trilha: paisagem e contemplação no mesmo caminho
A experiência de chegar ao Bicame de Pedra é tão marcante quanto o monumento em si. O trajeto passa por paisagens variadas, com vista para as montanhas da Serra do Caraça, campos abertos e trechos de mata mais fechada. A presença de animais silvestres e plantas típicas do cerrado e da mata atlântica reforçam a sensação de travessia entre mundos.
O som dos passos sobre o solo, o cheiro da vegetação e o canto das aves tornam o caminho um convite à presença plena. Não é raro encontrar moradores da zona rural ou pequenos grupos de ciclistas que utilizam a trilha para lazer e conexão com a natureza. Ao final do percurso, o Bicame surge silencioso, integrado à paisagem e imponente na sua simplicidade.
Catas Altas e sua relação com o patrimônio histórico
Catas Altas não é apenas o ponto de partida para o Bicame. A cidade preserva um conjunto arquitetônico colonial digno de atenção, com ruas de pedra, casas antigas e igrejas que testemunham o passado minerador da região. Entre elas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição se destaca, com sua localização em um mirante natural que oferece vista panorâmica da serra.
A cidade integra o Circuito do Ouro e faz parte da zona de amortecimento da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Caraça, o que reforça o compromisso local com a preservação do meio ambiente e da memória. Visitar Catas Altas é ter a chance de vivenciar o turismo de experiência, com contato direto com a cultura, a religiosidade e os saberes tradicionais mineiros.
O Bicame e a memória da mineração
A existência do Bicame de Pedra está diretamente ligada ao auge da mineração em Minas Gerais. Durante o ciclo do ouro, estruturas como essa eram fundamentais para a condução de água até as áreas de beneficiamento, especialmente nas casas de fundição, onde o metal era purificado e preparado para envio à Coroa Portuguesa.
Hoje, o Bicame é um elo entre o passado e o presente. Ele ajuda a contar uma parte da história que não está nos livros escolares — uma história de trabalho árduo, de exploração e também de engenhosidade. Caminhar por ali é reencontrar o sentido de uma época que moldou a identidade de Minas Gerais e ainda reverbera nas tradições e no modo de viver do povo local.
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Perguntas frequentes sobre o Bicame de Pedra em Catas Altas
O que é o Bicame de Pedra? É um aqueduto de pedra construído no século XVIII para levar água até uma antiga Casa de Fundição de ouro em Catas Altas.
Onde fica exatamente? Fica na zona rural de Catas Altas, a cerca de 8 km do centro da cidade, próximo à base da Serra do Caraça.
O acesso é fácil? O acesso é por estrada de terra e uma trilha de nível moderado. Durante o período seco, é mais tranquilo para caminhadas.
É necessário guia para visitar? Não é obrigatório, mas recomendado. Guias locais enriquecem a visita com informações históricas e garantem segurança no trajeto.
Tem custo para entrar? O acesso ao Bicame é gratuito. Pode haver cobrança apenas se você contratar um guia ou transporte local.
Posso levar crianças? Sim, desde que estejam acompanhadas e que o trajeto seja feito com calma. Algumas partes da trilha exigem atenção redobrada.
O que mais visitar em Catas Altas? Além do Bicame, vale conhecer a Igreja Matriz, o centro histórico, e cachoeiras como a da Santa e da Pedra Pintada.
Uma viagem entre pedras, tempo e significado
O Bicame de Pedra em Catas Altas Minas Gerais é daqueles lugares que não se explicam apenas com palavras ou fotos. É preciso estar lá, tocar as pedras, ouvir o som da água que corre por perto e sentir a força silenciosa de uma construção feita há mais de dois séculos.
É um destino para quem busca mais do que pontos turísticos — para quem busca experiências que ressoam por dentro. E em tempos em que tudo passa rápido, talvez sejam justamente essas estruturas antigas que nos ensinam a permanecer.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


Catas Altas/MG - Foto: Igor Souza