São João del Rei revela segredos coloniais que o turismo moderno ignora
Reveja São João del Rei em Minas Gerais: igrejas barrocas, maria-fumaça, ruas de pedra e segredos históricos
São João del Rei em Minas Gerais desperta no visitante a sensação de atravessar uma cena de filme colonial. Aqui, sinos tocam, ruas de pedra serpenteiam entre casarões e a história pulsa em cada detalhe.
• Arquitetura barroca e patrimônio religioso que resistem ao tempo
• Passeio de maria-fumaça e museus que revelam a vida no passado
• Festividades culturais, comidas tradicionais e vivência local
Por que São João del Rei parece um cenário de novela histórica?
Desde o momento em que se pisa nas pedras irregulares da rua, a cidade evoca eras anteriores. Os casarões coloniais adornados com janelas de sacada, os paralelepípedos originais e as igrejas seculares criam uma ambientação visual que remete ao Brasil setecentista.
Mas não é só estética: a cidade possui profundo acervo arquitetônico, tombado e preservado, e uma tradição viva que mantém vivas as memórias do passado.
Qual a origem de São João del Rei e sua relação com o ouro?
A gênese de São João del Rei está ligada às incursões dos bandeirantes à bacia do Rio das Mortes, que revelaram cascalhos auríferos nas encostas das serras. Povoados surgiram no início do século XVIII a partir dessas descobertas.
Com o avanço da mineração, estabeleceu-se uma rede de vilas e arraiais, e São João del Rei emergiu como cidade entre os anos 1730 e 1740, articulando rotas de ouro e comércio na região de Minas Gerais.
Quais igrejas e monumentos compõem o roteiro histórico?
No centro de São João del Rei, algumas construções não podem faltar no roteiro de quem busca essa atmosfera histórica:
Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar: iniciada em 1721, com influências neoclássicas e altíssimos retábulos.
Igreja de São Francisco de Assis: estilo barroco marcante, interna ornamentação rica, e túmulo de Tancredo Neves no cemitério adjacente.
Igreja de Nossa Senhora do Carmo: interior claro, detalhes dourados e episódios curiosos como uma escultura inacabada.
Museu Regional: peças sacras, mobiliário antigo e recortes dos modos de vida nos séculos XVIII e XIX.
Estação Ferroviária e Maria-Fumaça: o trem histórico que liga São João del Rei a Tiradentes atravessa paisagens e remonta o tempo.
Esses monumentos são pontos indispensáveis para quem quer sentir o filme que é a memória de Minas.


São João del Rei/MG - Foto: Igor Souza
O que esperar do passeio de maria-fumaça entre cidades históricas?
O trajeto de 12 km entre São João del Rei e Tiradentes é uma viagem no tempo. A locomotiva a vapor, restaurada e operante, corta o vale em ritmo lento, revelando paisagens que parecem não ter pressa. Do apito do trem ao vento que sopra pelas janelas, tudo remete a uma época em que viajar era um ritual.
Ao chegar, o visitante encontra o Museu Ferroviário, que guarda a memória da Estrada de Ferro Oeste de Minas. O passeio é uma das experiências mais simbólicas do turismo mineiro, ligando duas cidades que respiram história. É impossível não sentir nostalgia ao ouvir o som do ferro e da fumaça contrastando com o verde das montanhas.




São João del Rei/MG - Fotos: Igor Souza
Como a cidade preserva sua cultura e religiosidade?
A fé é uma das forças que mantêm a tradição viva em São João del Rei. Festas como a Semana Santa, o Corpus Christi e as celebrações da Padroeira atraem fiéis e curiosos de várias partes do Brasil. O som dos sinos, tocados manualmente, é patrimônio cultural e faz parte da identidade local.
Além da religiosidade, há também um pulsar cultural. A cidade abriga corais, orquestras e grupos de teatro que se apresentam em igrejas e praças. A Universidade Federal de São João del Rei tem papel fundamental nesse movimento, aproximando juventude e tradição.
Quais experiências aproximam o visitante da vida local?
Viver São João del Rei é mais do que visitar igrejas: é se permitir observar o cotidiano mineiro. Nas manhãs, o cheiro de café se mistura ao das quitandas que saem dos fornos antigos. À tarde, as praças ganham vida com conversas demoradas e o som dos sinos marcando as horas.
Entre as experiências mais marcantes estão:
• Sentar-se à sombra na Praça Frei Orlando e ver o vai e vem da cidade.
• Entrar em uma loja de artesanato e ouvir histórias contadas pelos próprios artistas.
• Participar de uma procissão ou concerto dentro das igrejas seculares.
Esses momentos simples revelam o verdadeiro espírito do destino — o de uma cidade que vive devagar, mas intensamente.
Onde comer e se hospedar em São João del Rei?
A gastronomia local é um dos prazeres que mais surpreendem o visitante. Restaurantes e bistrôs servem clássicos mineiros, como feijão-tropeiro, frango com quiabo e doces de compota. Há também cafés charmosos e espaços que valorizam produtos artesanais, como queijos e cachaças da região.
Na hospedagem, opções variam entre pousadas em casarões coloniais e hotéis modernos com vista para as serras. Algumas hospedagens mantêm móveis de época e janelas com vista para torres de igreja, oferecendo o tipo de experiência que mistura história e conforto na medida certa.
Quais roteiros e passeios revelam o melhor da cidade?
Para aproveitar bem o destino, o ideal é dividir a visita em etapas. No primeiro dia, explore o centro histórico, visitando o Pilar, São Francisco e o Museu Regional. No segundo, embarque no trem rumo a Tiradentes e volte ao entardecer, quando as luzes da cidade transformam tudo em pintura dourada.
Outras opções incluem visitar o bairro Matosinhos, com a Igreja de Bom Jesus, ou caminhar pela Ponte da Cadeia, de onde se tem uma das vistas mais bonitas do centro. Para os que gostam de fotografia, o pôr do sol visto do alto da Serra do Lenheiro é inesquecível.
Como chegar e se locomover em São João del Rei?
A cidade está a cerca de 185 km de Belo Horizonte, com acesso pela BR-383. A viagem de carro dura pouco mais de duas horas e oferece belas paisagens da Serra de São José. Também há linhas regulares de ônibus, além de transporte local eficiente para quem prefere não dirigir.
Dentro da cidade, tudo é perto. É possível fazer praticamente todo o roteiro a pé, já que os principais atrativos estão concentrados na área central. Essa proximidade faz parte do charme — quanto mais devagar se caminha, mais detalhes se descobrem.
Dicas práticas para aproveitar ao máximo
• Use calçados confortáveis para caminhar nas pedras coloniais.
• Compre ingressos do trem com antecedência, especialmente aos fins de semana.
• Fotografe os sinos e as torres ao entardecer — a luz é perfeita.
• Converse com os moradores, eles adoram contar curiosidades locais.
• Experimente o doce de leite artesanal vendido nas feirinhas.
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O que mantém o encanto de São João del Rei vivo até hoje?
Talvez seja o equilíbrio entre tradição e vida moderna. A cidade soube preservar suas raízes sem se transformar em cenário congelado. As festas continuam, os sinos tocam, os moradores conversam nas portas, e o visitante percebe que ali o tempo não foi perdido — apenas desacelerou.
Em São João del Rei, a história não está presa aos livros. Ela está nas vozes, nas músicas, nos cheiros e nas pedras que sustentam cada esquina. O passado é presença, e é isso que faz o destino continuar tão vivo e tão real.
O tempo vive aqui
São João del Rei em Minas Gerais é mais do que um retrato antigo: é um organismo vivo de história, fé e arte. Em suas ruas, o visitante encontra não só o passado, mas também a calma e a beleza que o tempo deixou. É o tipo de lugar que não se visita apenas com os olhos, mas com o coração — porque aqui, o tempo vive, e o passado continua respirando.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


Maria Fumaça - Foto: Igor Souza


