São João del Rei revela segredos coloniais que o turismo moderno ignora

Reveja São João del Rei em Minas Gerais: igrejas barrocas, maria-fumaça, ruas de pedra e segredos históricos

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
16/11/2025

São João del Rei em Minas Gerais desperta no visitante a sensação de atravessar uma cena de filme colonial. Aqui, sinos tocam, ruas de pedra serpenteiam entre casarões e a história pulsa em cada detalhe.

• Arquitetura barroca e patrimônio religioso que resistem ao tempo
• Passeio de maria-fumaça e museus que revelam a vida no passado
• Festividades culturais, comidas tradicionais e vivência local

Por que São João del Rei parece um cenário de novela histórica?

Desde o momento em que se pisa nas pedras irregulares da rua, a cidade evoca eras anteriores. Os casarões coloniais adornados com janelas de sacada, os paralelepípedos originais e as igrejas seculares criam uma ambientação visual que remete ao Brasil setecentista.
Mas não é só estética: a cidade possui profundo acervo arquitetônico, tombado e preservado, e uma tradição viva que mantém vivas as memórias do passado.

Qual a origem de São João del Rei e sua relação com o ouro?

A gênese de São João del Rei está ligada às incursões dos bandeirantes à bacia do Rio das Mortes, que revelaram cascalhos auríferos nas encostas das serras. Povoados surgiram no início do século XVIII a partir dessas descobertas.
Com o avanço da mineração, estabeleceu-se uma rede de vilas e arraiais, e São João del Rei emergiu como cidade entre os anos 1730 e 1740, articulando rotas de ouro e comércio na região de Minas Gerais.

Quais igrejas e monumentos compõem o roteiro histórico?

No centro de São João del Rei, algumas construções não podem faltar no roteiro de quem busca essa atmosfera histórica:

  • Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar: iniciada em 1721, com influências neoclássicas e altíssimos retábulos.

  • Igreja de São Francisco de Assis: estilo barroco marcante, interna ornamentação rica, e túmulo de Tancredo Neves no cemitério adjacente.

  • Igreja de Nossa Senhora do Carmo: interior claro, detalhes dourados e episódios curiosos como uma escultura inacabada.

  • Museu Regional: peças sacras, mobiliário antigo e recortes dos modos de vida nos séculos XVIII e XIX.

  • Estação Ferroviária e Maria-Fumaça: o trem histórico que liga São João del Rei a Tiradentes atravessa paisagens e remonta o tempo.

Esses monumentos são pontos indispensáveis para quem quer sentir o filme que é a memória de Minas.

Kombi, fusca azul e casas históricas do periodo colonial em São João del Rei
Kombi, fusca azul e casas históricas do periodo colonial em São João del Rei

São João del Rei/MG - Foto: Igor Souza

O que esperar do passeio de maria-fumaça entre cidades históricas?

O trajeto de 12 km entre São João del Rei e Tiradentes é uma viagem no tempo. A locomotiva a vapor, restaurada e operante, corta o vale em ritmo lento, revelando paisagens que parecem não ter pressa. Do apito do trem ao vento que sopra pelas janelas, tudo remete a uma época em que viajar era um ritual.

Ao chegar, o visitante encontra o Museu Ferroviário, que guarda a memória da Estrada de Ferro Oeste de Minas. O passeio é uma das experiências mais simbólicas do turismo mineiro, ligando duas cidades que respiram história. É impossível não sentir nostalgia ao ouvir o som do ferro e da fumaça contrastando com o verde das montanhas.

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar em São João del Rei MG
Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar em São João del Rei MG
Igreja de São Francisco em São João del Rei MG
Igreja de São Francisco em São João del Rei MG

São João del Rei/MG - Fotos: Igor Souza

Como a cidade preserva sua cultura e religiosidade?

A fé é uma das forças que mantêm a tradição viva em São João del Rei. Festas como a Semana Santa, o Corpus Christi e as celebrações da Padroeira atraem fiéis e curiosos de várias partes do Brasil. O som dos sinos, tocados manualmente, é patrimônio cultural e faz parte da identidade local.

Além da religiosidade, há também um pulsar cultural. A cidade abriga corais, orquestras e grupos de teatro que se apresentam em igrejas e praças. A Universidade Federal de São João del Rei tem papel fundamental nesse movimento, aproximando juventude e tradição.

Quais experiências aproximam o visitante da vida local?

Viver São João del Rei é mais do que visitar igrejas: é se permitir observar o cotidiano mineiro. Nas manhãs, o cheiro de café se mistura ao das quitandas que saem dos fornos antigos. À tarde, as praças ganham vida com conversas demoradas e o som dos sinos marcando as horas.

Entre as experiências mais marcantes estão:
• Sentar-se à sombra na Praça Frei Orlando e ver o vai e vem da cidade.
• Entrar em uma loja de artesanato e ouvir histórias contadas pelos próprios artistas.
• Participar de uma procissão ou concerto dentro das igrejas seculares.
Esses momentos simples revelam o verdadeiro espírito do destino — o de uma cidade que vive devagar, mas intensamente.

Onde comer e se hospedar em São João del Rei?

A gastronomia local é um dos prazeres que mais surpreendem o visitante. Restaurantes e bistrôs servem clássicos mineiros, como feijão-tropeiro, frango com quiabo e doces de compota. Há também cafés charmosos e espaços que valorizam produtos artesanais, como queijos e cachaças da região.

Na hospedagem, opções variam entre pousadas em casarões coloniais e hotéis modernos com vista para as serras. Algumas hospedagens mantêm móveis de época e janelas com vista para torres de igreja, oferecendo o tipo de experiência que mistura história e conforto na medida certa.

Quais roteiros e passeios revelam o melhor da cidade?

Para aproveitar bem o destino, o ideal é dividir a visita em etapas. No primeiro dia, explore o centro histórico, visitando o Pilar, São Francisco e o Museu Regional. No segundo, embarque no trem rumo a Tiradentes e volte ao entardecer, quando as luzes da cidade transformam tudo em pintura dourada.

Outras opções incluem visitar o bairro Matosinhos, com a Igreja de Bom Jesus, ou caminhar pela Ponte da Cadeia, de onde se tem uma das vistas mais bonitas do centro. Para os que gostam de fotografia, o pôr do sol visto do alto da Serra do Lenheiro é inesquecível.

Como chegar e se locomover em São João del Rei?

A cidade está a cerca de 185 km de Belo Horizonte, com acesso pela BR-383. A viagem de carro dura pouco mais de duas horas e oferece belas paisagens da Serra de São José. Também há linhas regulares de ônibus, além de transporte local eficiente para quem prefere não dirigir.

Dentro da cidade, tudo é perto. É possível fazer praticamente todo o roteiro a pé, já que os principais atrativos estão concentrados na área central. Essa proximidade faz parte do charme — quanto mais devagar se caminha, mais detalhes se descobrem.

Dicas práticas para aproveitar ao máximo

• Use calçados confortáveis para caminhar nas pedras coloniais.
• Compre ingressos do trem com antecedência, especialmente aos fins de semana.
• Fotografe os sinos e as torres ao entardecer — a luz é perfeita.
• Converse com os moradores, eles adoram contar curiosidades locais.
• Experimente o doce de leite artesanal vendido nas feirinhas.

+ Leia também: Roteiros de ecoturismo que estão virando tendência entre os viajantes

O que mantém o encanto de São João del Rei vivo até hoje?

Talvez seja o equilíbrio entre tradição e vida moderna. A cidade soube preservar suas raízes sem se transformar em cenário congelado. As festas continuam, os sinos tocam, os moradores conversam nas portas, e o visitante percebe que ali o tempo não foi perdido — apenas desacelerou.

Em São João del Rei, a história não está presa aos livros. Ela está nas vozes, nas músicas, nos cheiros e nas pedras que sustentam cada esquina. O passado é presença, e é isso que faz o destino continuar tão vivo e tão real.

O tempo vive aqui

São João del Rei em Minas Gerais é mais do que um retrato antigo: é um organismo vivo de história, fé e arte. Em suas ruas, o visitante encontra não só o passado, mas também a calma e a beleza que o tempo deixou. É o tipo de lugar que não se visita apenas com os olhos, mas com o coração — porque aqui, o tempo vive, e o passado continua respirando.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Maria Fumaça no Museu Ferroviario de São João del Rei MG
Maria Fumaça no Museu Ferroviario de São João del Rei MG

Maria Fumaça - Foto: Igor Souza

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