Trilha pouco conhecida leva a uma das paisagens mais raras do Brasil

Explore um cânion escondido entre montanhas de Ouro Preto. Natureza bruta, trilha e paisagem rara te esperam em Santo Antônio do Salto

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
08/09/2025

No silêncio das montanhas mineiras, a poucos passos do movimento histórico de Ouro Preto, existe um lugar que a maioria dos turistas nem imagina que existe. É um tesouro geológico escondido, uma paisagem rara onde a própria natureza, com paciência milenar, desenhou um corredor entre paredões de pedra. No distrito de Santo Antônio do Salto, o Cânion da Passarela do Funil é mais do que um destino; é uma jornada para uma Minas Gerais que se revela aos poucos, apenas para quem se atreve a buscá-la.

  • Um cânion raro, esculpido pela ação da água e do tempo.

  • Uma trilha que te leva a uma experiência de imersão total na natureza.

  • A chance de conhecer uma vila autêntica, fora dos roteiros convencionais.

Como um tesouro geológico pode ficar tão escondido?

O Cânion da Passarela do Funil é um daqueles segredos que o interior de Minas guarda para si. Sem placas ou qualquer tipo de infraestrutura, ele não tem a intenção de ser um destino de massa. Sua beleza está na sua inacessibilidade e na sensação de descoberta. A falta de sinalização e de estrutura turística, longe de ser um problema, é o que garante que a paisagem permaneça intocada, um convite para os trilheiros e amantes da natureza que buscam uma experiência autêntica, longe da agitação e das multidões.

A jornada começa em Santo Antônio do Salto, um distrito de Ouro Preto que respira uma vida pacata. Com suas ruas de terra batida e a serra como cenário constante, o local é um retrato de uma Minas rural e genuína. A Capela dedicada ao santo padroeiro, ponto de referência e de fé para os moradores, adiciona um toque de tranquilidade a um lugar que parece ter parado no tempo. É aqui que se sente a essência da hospitalidade mineira.

O que faz a formação rochosa do cânion ser tão única?

O Cânion da Passarela do Funil é um espetáculo geológico. Ao longo de incontáveis milênios, a água fluindo entre as rochas moldou um caminho estreito e sinuoso, criando um corredor natural. As paredes verticais, com suas reentrâncias e texturas, são um registro vivo da interação poderosa entre a água e a pedra. A luz que penetra na fenda desenha sombras que mudam a cada hora, transformando a paisagem em um show de luz e forma.

Essa "passarela" natural, composta por rochas escuras e resistentes, revela a força da natureza e a passagem do tempo. A sensação de caminhar por entre esses paredões é de total imersão, um contato direto com uma obra-prima milenar. É o tipo de lugar que arrepia e emociona, especialmente por ser uma descoberta tão pessoal e inesperada, que recompensa cada gota de suor e cada passo da trilha.

Qual a melhor época para a visita e o que você precisa levar?

A melhor época para explorar o cânion é durante a estação seca, entre os meses de maio e setembro. Nesse período, as trilhas ficam mais firmes e seguras, e o nível da água nos corredores de pedra baixa, facilitando a caminhada. Além disso, a paisagem se revela com mais nitidez, e a possibilidade de chuva é menor, tornando a aventura mais tranquila e agradável.

Para a sua mochila, alguns itens são essenciais para garantir uma experiência segura e confortável:

  • Água potável em abundância, para se hidratar durante todo o percurso.

  • Lanches leves e energéticos, como frutas secas ou barras de cereal.

  • Protetor solar, chapéu ou boné para se proteger do sol.

  • Repelente, já que a trilha é em meio à mata.

  • Um calçado adequado para trilha, com solado antiderrapante.

É importante lembrar que a área não possui sinal de celular, então é fundamental avisar alguém sobre o seu roteiro antes de começar a trilha. A aventura se torna mais segura e você pode aproveitar cada momento com mais tranquilidade.

Como chegar a essa joia escondida no interior de Minas?

O ponto de partida para a sua jornada até o cânion é a cidade histórica de Ouro Preto. De lá, a rota segue em direção a Santo Antônio do Salto, em um percurso de cerca de 130 km de Belo Horizonte. O trajeto é feito por estradas de terra que, dependendo da época do ano, podem exigir veículos com tração. Ao chegar ao distrito, a caminhada até o cânion é de nível moderado e se inicia por áreas de campo aberto e terrenos pedregosos.

Como a região ainda carece de sinalização, a recomendação é buscar a ajuda de guias locais ou moradores que conheçam bem o caminho. Eles não apenas garantem a segurança do trajeto, mas também enriquecem a experiência com o conhecimento sobre a flora, a fauna e as lendas da região. A trilha, embora desafiadora, se torna uma oportunidade de aprendizado e de conexão com a comunidade local.

Uma experiência completa: natureza e cultura se misturam.

A viagem a Santo Antônio do Salto e ao Cânion da Passarela do Funil não se resume apenas à trilha. A cultura e as tradições da comunidade são uma parte fundamental da experiência. A Capela de Santo Antônio, encravada entre as montanhas, é o local onde a fé e a vida comunitária se entrelaçam. A simplicidade e a acolhida dos moradores são um convite para desacelerar e viver o momento, apreciando o ritmo calmo da vida no interior.

Algumas casas oferecem hospedagem simples e familiar, com o aconchego da comida mineira feita em fogão a lenha. É uma chance de saborear o autêntico café coado na hora, os queijos frescos e os doces caseiros, além de fortalecer o vínculo com a economia local. Essa integração cultural enriquece a jornada e transforma o viajante em um participante, e não apenas em um observador. Entre os produtos que podem ser encontrados, destaque para:

  • Quitandas caseiras: biscoitos, bolos e pães feitos em receitas que passam de geração em geração.

  • Queijo artesanal: produzido com o leite fresco da região, com sabores e texturas únicas.

  • Doces de compota: feitos com frutas locais e preparados de forma tradicional.

O que a preservação do cânion exige de seus visitantes?

Por ser um local ainda intocado pelo turismo de massa, o Cânion da Passarela do Funil depende diretamente do ecoturismo consciente. A ausência de lixeiras ou estruturas de apoio significa que cada visitante é responsável por manter o local limpo e intacto. A regra é simples: não deixe nada além de suas pegadas, e não leve nada além de boas lembranças. A preservação da paisagem e do ambiente natural é uma responsabilidade compartilhada.

É fundamental não riscar as rochas, não alterar o curso da água e não danificar a vegetação. Cada ação conta. Esse tipo de turismo, focado no respeito e na responsabilidade, garante que o cânion continue sendo uma joia rara e um refúgio para as futuras gerações. Afinal, a verdadeira beleza de um lugar como esse está em sua integridade, em sua capacidade de resistir ao tempo e de se manter puro.

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Um destino que fica guardado na memória.

A trilha que leva ao Cânion da Passarela do Funil revela um tipo de beleza que vai além da paisagem: é a beleza da simplicidade, da surpresa e do respeito à natureza. Não é um destino para quem tem pressa, mas para quem aprecia o caminho, o silêncio e a força silenciosa da terra. Minas Gerais, com sua riqueza histórica, também esconde esses cantinhos de natureza quase intocada.

Para quem se aventura por ele, a recompensa é a certeza de ter conhecido algo único, um lugar que se sente e se vive antes de se ver. A experiência é de total reconexão, uma pausa na vida corrida para se reconectar com a terra e com a alma. E a vontade, no final da trilha, é a de voltar a esse paraíso escondido, antes que o mundo o descubra e ele perca um pouco de sua magia secreta.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Passarela ao lado de um rio no ponto turistico Cânion do Funil em Ouro Preto MG
Passarela ao lado de um rio no ponto turistico Cânion do Funil em Ouro Preto MG

Santo Antônio do Salto/MG - Foto: Igor Souza

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