Trilha pouco conhecida leva a uma das paisagens mais raras do Brasil
Explore um cânion escondido entre montanhas de Ouro Preto. Natureza bruta, trilha e paisagem rara te esperam em Santo Antônio do Salto
No silêncio das montanhas mineiras, a poucos passos do movimento histórico de Ouro Preto, existe um lugar que a maioria dos turistas nem imagina que existe. É um tesouro geológico escondido, uma paisagem rara onde a própria natureza, com paciência milenar, desenhou um corredor entre paredões de pedra. No distrito de Santo Antônio do Salto, o Cânion da Passarela do Funil é mais do que um destino; é uma jornada para uma Minas Gerais que se revela aos poucos, apenas para quem se atreve a buscá-la.
Um cânion raro, esculpido pela ação da água e do tempo.
Uma trilha que te leva a uma experiência de imersão total na natureza.
A chance de conhecer uma vila autêntica, fora dos roteiros convencionais.
Como um tesouro geológico pode ficar tão escondido?
O Cânion da Passarela do Funil é um daqueles segredos que o interior de Minas guarda para si. Sem placas ou qualquer tipo de infraestrutura, ele não tem a intenção de ser um destino de massa. Sua beleza está na sua inacessibilidade e na sensação de descoberta. A falta de sinalização e de estrutura turística, longe de ser um problema, é o que garante que a paisagem permaneça intocada, um convite para os trilheiros e amantes da natureza que buscam uma experiência autêntica, longe da agitação e das multidões.
A jornada começa em Santo Antônio do Salto, um distrito de Ouro Preto que respira uma vida pacata. Com suas ruas de terra batida e a serra como cenário constante, o local é um retrato de uma Minas rural e genuína. A Capela dedicada ao santo padroeiro, ponto de referência e de fé para os moradores, adiciona um toque de tranquilidade a um lugar que parece ter parado no tempo. É aqui que se sente a essência da hospitalidade mineira.
O que faz a formação rochosa do cânion ser tão única?
O Cânion da Passarela do Funil é um espetáculo geológico. Ao longo de incontáveis milênios, a água fluindo entre as rochas moldou um caminho estreito e sinuoso, criando um corredor natural. As paredes verticais, com suas reentrâncias e texturas, são um registro vivo da interação poderosa entre a água e a pedra. A luz que penetra na fenda desenha sombras que mudam a cada hora, transformando a paisagem em um show de luz e forma.
Essa "passarela" natural, composta por rochas escuras e resistentes, revela a força da natureza e a passagem do tempo. A sensação de caminhar por entre esses paredões é de total imersão, um contato direto com uma obra-prima milenar. É o tipo de lugar que arrepia e emociona, especialmente por ser uma descoberta tão pessoal e inesperada, que recompensa cada gota de suor e cada passo da trilha.
Qual a melhor época para a visita e o que você precisa levar?
A melhor época para explorar o cânion é durante a estação seca, entre os meses de maio e setembro. Nesse período, as trilhas ficam mais firmes e seguras, e o nível da água nos corredores de pedra baixa, facilitando a caminhada. Além disso, a paisagem se revela com mais nitidez, e a possibilidade de chuva é menor, tornando a aventura mais tranquila e agradável.
Para a sua mochila, alguns itens são essenciais para garantir uma experiência segura e confortável:
Água potável em abundância, para se hidratar durante todo o percurso.
Lanches leves e energéticos, como frutas secas ou barras de cereal.
Protetor solar, chapéu ou boné para se proteger do sol.
Repelente, já que a trilha é em meio à mata.
Um calçado adequado para trilha, com solado antiderrapante.
É importante lembrar que a área não possui sinal de celular, então é fundamental avisar alguém sobre o seu roteiro antes de começar a trilha. A aventura se torna mais segura e você pode aproveitar cada momento com mais tranquilidade.
Como chegar a essa joia escondida no interior de Minas?
O ponto de partida para a sua jornada até o cânion é a cidade histórica de Ouro Preto. De lá, a rota segue em direção a Santo Antônio do Salto, em um percurso de cerca de 130 km de Belo Horizonte. O trajeto é feito por estradas de terra que, dependendo da época do ano, podem exigir veículos com tração. Ao chegar ao distrito, a caminhada até o cânion é de nível moderado e se inicia por áreas de campo aberto e terrenos pedregosos.
Como a região ainda carece de sinalização, a recomendação é buscar a ajuda de guias locais ou moradores que conheçam bem o caminho. Eles não apenas garantem a segurança do trajeto, mas também enriquecem a experiência com o conhecimento sobre a flora, a fauna e as lendas da região. A trilha, embora desafiadora, se torna uma oportunidade de aprendizado e de conexão com a comunidade local.
Uma experiência completa: natureza e cultura se misturam.
A viagem a Santo Antônio do Salto e ao Cânion da Passarela do Funil não se resume apenas à trilha. A cultura e as tradições da comunidade são uma parte fundamental da experiência. A Capela de Santo Antônio, encravada entre as montanhas, é o local onde a fé e a vida comunitária se entrelaçam. A simplicidade e a acolhida dos moradores são um convite para desacelerar e viver o momento, apreciando o ritmo calmo da vida no interior.
Algumas casas oferecem hospedagem simples e familiar, com o aconchego da comida mineira feita em fogão a lenha. É uma chance de saborear o autêntico café coado na hora, os queijos frescos e os doces caseiros, além de fortalecer o vínculo com a economia local. Essa integração cultural enriquece a jornada e transforma o viajante em um participante, e não apenas em um observador. Entre os produtos que podem ser encontrados, destaque para:
Quitandas caseiras: biscoitos, bolos e pães feitos em receitas que passam de geração em geração.
Queijo artesanal: produzido com o leite fresco da região, com sabores e texturas únicas.
Doces de compota: feitos com frutas locais e preparados de forma tradicional.
O que a preservação do cânion exige de seus visitantes?
Por ser um local ainda intocado pelo turismo de massa, o Cânion da Passarela do Funil depende diretamente do ecoturismo consciente. A ausência de lixeiras ou estruturas de apoio significa que cada visitante é responsável por manter o local limpo e intacto. A regra é simples: não deixe nada além de suas pegadas, e não leve nada além de boas lembranças. A preservação da paisagem e do ambiente natural é uma responsabilidade compartilhada.
É fundamental não riscar as rochas, não alterar o curso da água e não danificar a vegetação. Cada ação conta. Esse tipo de turismo, focado no respeito e na responsabilidade, garante que o cânion continue sendo uma joia rara e um refúgio para as futuras gerações. Afinal, a verdadeira beleza de um lugar como esse está em sua integridade, em sua capacidade de resistir ao tempo e de se manter puro.
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Um destino que fica guardado na memória.
A trilha que leva ao Cânion da Passarela do Funil revela um tipo de beleza que vai além da paisagem: é a beleza da simplicidade, da surpresa e do respeito à natureza. Não é um destino para quem tem pressa, mas para quem aprecia o caminho, o silêncio e a força silenciosa da terra. Minas Gerais, com sua riqueza histórica, também esconde esses cantinhos de natureza quase intocada.
Para quem se aventura por ele, a recompensa é a certeza de ter conhecido algo único, um lugar que se sente e se vive antes de se ver. A experiência é de total reconexão, uma pausa na vida corrida para se reconectar com a terra e com a alma. E a vontade, no final da trilha, é a de voltar a esse paraíso escondido, antes que o mundo o descubra e ele perca um pouco de sua magia secreta.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


Santo Antônio do Salto/MG - Foto: Igor Souza