Turismo histórico sem sair de perto de BH: esqueça Ouro Preto por um instante

Descubra um destino cheio de igrejas barrocas, festas tradicionais e sabores autênticos, a poucos minutos de BH

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
06/09/2025

A menos de 30 minutos da agitação de Belo Horizonte, o tempo adquire outro ritmo. Sabará não é apenas um refúgio de história; é uma cidade que respira a autenticidade do passado, mas que pulsa com a energia do presente. Longe do turismo de massa, essa joia colonial se revela nos detalhes: no som do sino da igreja que ecoa no final da tarde, nas festas que mobilizam a comunidade e nas ruas de pedra que contam histórias de um povo que soube preservar sua identidade. Uma visita a Sabará é um convite para desacelerar e reencontrar a essência das coisas simples, mas profundas.

  • Um acervo de igrejas barrocas que guarda preciosidades da fé e da arte.

  • A culinária autêntica que celebra ingredientes tradicionais de Minas.

  • Tradições e festas que mantêm viva a cultura do povo sabarense.

O que faz de Sabará um tesouro tão perto da capital?

Sabará tem uma personalidade única, forjada em séculos de história. Sua proximidade com a capital mineira não a transformou em um subúrbio, mas em um contraponto tranquilo e cheio de charme. As ruas e ladeiras, com seu calçamento original, levam a casarios coloniais que parecem ter sido congelados no tempo. As portas em madeira escura, as janelas com guarnições e as sacadas de ferro trabalhado são mais do que arquitetura; são testamentos de um modo de vida que valoriza a calma e a tradição. O que a torna especial é o fato de que a história aqui não está apenas em museus, mas é parte viva do cotidiano de seus moradores.

As igrejas que guardam a alma sabarense

As igrejas históricas de Sabará são verdadeiros tesouros de arte e fé. Construídas no século XVIII, elas refletem a riqueza do Ciclo do Ouro e a profunda religiosidade de seus construtores. A Igreja de Nossa Senhora do Ó, por exemplo, é um dos maiores expoentes do rococó brasileiro. Por fora, sua fachada simples e discreta. Por dentro, um espetáculo de talhas e ornamentos dourados que emocionam pela delicadeza e complexidade. É uma parada obrigatória para quem busca entender a religião e a arte que moldaram a cidade.

Mas a fé em Sabará vai além da beleza. As ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos são um ponto de reflexão e memória. O que resta da estrutura, construída por pessoas negras escravizadas, carrega uma carga simbólica poderosa. Ela fala sobre a busca por um espaço de culto próprio, sobre a força da resistência e sobre a fé inabalável. O local ainda hoje é um símbolo de memória e um lembrete da história que, apesar de dolorosa, é essencial para entender a identidade do povo sabarense.

E como a cultura da cidade se mantém tão viva?

Sabará não vive apenas da história que se vê nas construções. A cultura local é vibrante e se manifesta em tradições que, ano após ano, unem a comunidade. As festas religiosas, que acontecem com regularidade, são uma prova disso. Elas têm cheiro de incenso, som de caixas e cores que vêm das bandeiras, dos andores e das roupas das irmandades. É nesse contexto que se entende como a cidade preserva sua identidade: não apenas pela arquitetura, mas por tudo que nela ainda acontece.

Uma das mais significativas é o Jubileu de Nossa Senhora do Rosário, uma celebração que une rituais litúrgicos, congado e fé popular. Para quem visita, a experiência é uma imersão nos costumes do interior, em uma manifestação cultural que mostra como as tradições resistem à passagem do tempo. Além dele, a Festa do Divino e a Semana Santa também se destacam, atraindo moradores de todos os bairros e visitantes que buscam vivenciar a fé e a cultura autêntica de Minas Gerais.

A história viva de Sabará se manifesta em uma série de festas e celebrações que ocorrem ao longo do ano, como:

  • O Jubileu de Nossa Senhora do Rosário, que une o congado e a fé popular.

  • A tradicional Semana Santa, com suas procissões e rituais religiosos.

  • A Festa do Divino, que celebra a cultura e a religiosidade local.

Quais os sabores que revelam a alma de Sabará?

A culinária em Sabará é uma viagem sensorial ao passado. Os sabores têm raízes profundas e utilizam ingredientes que nascem nos quintais e nas hortas da cidade. O ora-pro-nóbis é um deles, uma planta rica em nutrientes e muito comum na região. Ele se tornou um símbolo da gastronomia local, servido em refogados, com frango ou no angu. A planta ganhou até um festival que celebra a criatividade culinária do povo sabarense, mostrando como a tradição pode se reinventar.

A mesa em Sabará também é farta de sabores caseiros que remetem às cozinhas de lenha das avós. A broa de fubá, o bolo de milho e o pastel de angu são mais do que quitandas; são pedaços de memória. As receitas, passadas de geração em geração, continuam sendo preparadas com o mesmo afeto e cuidado. A culinária aqui é uma forma de carinho, de afeto e de pertencimento, uma experiência que enche o estômago e o coração.

Onde a história se mistura ao cotidiano?

A beleza de Sabará está nos pequenos detalhes, naqueles lugares que parecem simples, mas que dizem muito. O Chafariz do Kaquende, localizado no Largo do Barão de Sabará, é um desses pontos singelos que carregam uma lenda famosa: quem bebe de sua água, volta à cidade. A tradição popular se mistura à história da construção, que serviu para abastecer a população no passado e ainda hoje é um ponto de encontro e contemplação.

A cidade, com suas ladeiras que se abrem para o horizonte e suas praças onde o tempo parece não passar, é um convite para a exploração sem pressa. No coração do centro histórico, a antiga Casa da Intendência abriga o Museu do Ouro. O local conta, por meio de objetos e documentos, a importância de Sabará no Ciclo do Ouro mineiro, um período que ajudou a moldar a cultura, a fé e a economia da região. A visita ao museu não é apenas um passeio, mas um aprendizado sobre as raízes da cidade e de todo o estado.

A riqueza histórica da cidade pode ser explorada de diversas formas, revelando um passado que ainda ecoa em cada canto. Entre os atrativos mais importantes, destacam-se:

  • O Museu do Ouro, que funciona na antiga Casa da Intendência, contando a história do período colonial.

  • O Chafariz do Kaquende, um ponto de encontro histórico e de lendas populares.

  • As ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, um símbolo de resistência e fé.

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Sabará: Quando o passado encontra o presente sem esforço

Sabará não precisa competir com outras cidades históricas. Ela brilha justamente por manter seu ritmo, suas tradições e sua beleza sem maquiagem. Ao visitar a cidade, o turista percebe que não se trata de uma viagem a um destino qualquer, mas a um Brasil que ainda resiste nos rituais cotidianos, nos sons dos sinos e nos sabores das receitas de família.

Com seu patrimônio preservado, sua religiosidade viva e sua culinária cheia de afeto, Sabará oferece mais do que um passeio: oferece sentido. É uma cidade que acolhe sem alarde, que ensina sem pressa e que transforma a visita em lembrança. E talvez seja isso que faz dela um lugar tão especial, uma joia colonial que fica na porta de casa, esperando por você.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Igreja Nossa Senhora do Carmo, no centro histórico e turistico de Sabará
Igreja Nossa Senhora do Carmo, no centro histórico e turistico de Sabará

Sabará/MG - Foto: Igor Souza

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