Um passaporte que não leva para fora do país, mas para o coração de Minas

Descubra o passaporte que guia viajantes por trilhas históricas, cidades coloniais e paisagens surpreendentes no interior de Minas Gerais

Escrito por:
Igor Souza

Publicado em:
06/08/2025

Uma forma única de viajar por Minas Gerais

Em um estado tão vasto e plural como Minas Gerais, cada cidade parece contar sua própria história. Mas há um jeito especial de costurar essas narrativas numa única jornada: com o Passaporte da Estrada Real. Longe de ser apenas um documento turístico, ele se tornou um símbolo de pertencimento e descoberta, conectando quem viaja aos caminhos que moldaram o interior do Brasil.

Ao percorrer os quatro trajetos da Estrada Real — Caminho Velho, Caminho Novo, Caminho dos Diamantes e Caminho de Sabarabuçu — o viajante se depara com cidades coloniais, vilarejos preservados, tradições centenárias e paisagens naturais de tirar o fôlego. Tudo isso com a chance de colecionar carimbos e, mais importante, memórias autênticas.

O que é e como funciona o Passaporte da Estrada Real

Criado pelo Instituto Estrada Real, o passaporte é gratuito e pode ser solicitado online ou retirado presencialmente em pontos parceiros. Seu objetivo é incentivar o turismo consciente e valorizar a cultura local ao longo dos caminhos históricos que ligavam o interior de Minas ao litoral na época do ciclo do ouro e dos diamantes.

A cada cidade visitada, é possível carimbar o passaporte em locais autorizados como centros culturais, lojas, igrejas, pousadas e pontos de apoio ao turista. O processo é simples, mas simbólico: cada carimbo representa um passo em direção a uma Minas que poucos conhecem, fora do circuito tradicional e com histórias vivas em cada esquina.

As rotas da Estrada Real: muito além do ouro

Os quatro caminhos oficiais da Estrada Real percorrem mais de 1.600 quilômetros e passam por dezenas de cidades e distritos de relevância histórica, cultural e ambiental. O Caminho Velho, que liga Ouro Preto (MG) a Paraty (RJ), é um dos mais procurados, com suas ladeiras, igrejas barrocas e paisagens serranas marcantes.

O Caminho dos Diamantes parte de Ouro Preto rumo a Diamantina, cruzando cidades como Serro, Conceição do Mato Dentro e distritos como Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras. Já o Caminho Novo conecta Ouro Preto ao Rio de Janeiro, passando por regiões de transição entre Mata Atlântica e cerrado. O menos conhecido, mas igualmente belo, é o Caminho de Sabarabuçu, que percorre áreas montanhosas entre Cocais, em Barão de Cocais, e Sabará, revelando paisagens pouco exploradas.

Cidades e distritos onde o passaporte ganha vida

Um dos grandes méritos do Passaporte da Estrada Real é levar os viajantes a destinos fora do óbvio. Em Santa Bárbara, por exemplo, o centro histórico revela casarões bem preservados e tradições religiosas ainda presentes no cotidiano. Em Catas Altas, além da imponência da Serra do Caraça, é possível visitar a Capela de Santa Quitéria e saborear vinhos artesanais produzidos na região.

Já em distritos como Ipoema, pertencente a Itabira, o passaporte conduz os turistas ao encontro de museus de tropeirismo, cachoeiras escondidas e festas que ainda celebram santos padroeiros com procissões e música ao vivo. Em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto, os carimbos ganham o charme das pousadas rústicas e das trilhas que levam a mirantes naturais.

Um impacto positivo nas comunidades mineiras

Ao estimular o turismo responsável e distribuído, o passaporte tem papel fundamental no fortalecimento das economias locais. Comércios familiares, guias comunitários, artesãos e produtores rurais são diretamente beneficiados pela presença de turistas interessados em conhecer, consumir e valorizar o que cada lugar tem de mais genuíno.

Em lugares como Milho Verde, distrito de Serro, o movimento crescente de viajantes tem ajudado a preservar a identidade cultural e proporcionar renda para moradores que abrem suas casas como hospedagem, vendem doces caseiros ou conduzem visitas guiadas a igrejinhas centenárias e mirantes naturais da Serra do Espinhaço.

Esse modelo de turismo promove não apenas a circulação econômica, mas também o resgate e a valorização do patrimônio imaterial de Minas: as histórias, os saberes, os modos de fazer e de acolher que tornam cada canto único.

Como planejar sua experiência com o passaporte

Cada viajante pode traçar sua própria rota pela Estrada Real. O site do Instituto Estrada Real oferece mapas, roteiros sugeridos e a lista atualizada de pontos de carimbo. É possível fazer um trecho em poucos dias ou planejar um percurso longo, com tempo para explorar cada parada com calma.

Alguns preferem viajar de carro, explorando as cidades com conforto. Outros optam por uma abordagem mais imersiva, percorrendo trechos a pé ou de bicicleta, especialmente nas regiões da Serra do Cipó e da Serra do Caraça, onde as trilhas e estradas de terra favorecem a conexão com a natureza.

O importante é respeitar o ritmo de cada lugar. Em cidades como Conceição do Mato Dentro, o visitante é convidado a desacelerar, ouvir causos dos moradores e, quem sabe, assistir a uma apresentação de congada durante alguma festividade local.

O valor simbólico de cada carimbo

Mais do que o acúmulo de registros, o passaporte cria uma relação afetiva com os lugares visitados. Cada carimbo representa uma história: o café com pão de queijo em uma venda de beira de estrada, a conversa com um ancião sentado à sombra da igreja, o cheiro de terra molhada após a chuva na estrada.

Para quem completa uma rota ou as quatro, é possível solicitar um certificado simbólico. Mas, para muitos, o que realmente importa é o sentimento de pertencimento, de ter feito parte de um percurso que é também uma travessia interior. É como se cada cidade carimbasse também o coração de quem passou por ela.

+ Leia também: O passeio que está na lista dos mais inesquecíveis de Minas Gerais

Perguntas frequentes sobre o Passaporte da Estrada Real
  • Como posso solicitar o passaporte? Você pode solicitar gratuitamente pelo site do Instituto Estrada Real ou retirá-lo em pontos de distribuição autorizados nas cidades participantes.

  • Posso começar por qualquer caminho? Sim. Os trajetos são independentes. Você pode iniciar por qualquer um dos quatro caminhos e seguir no ritmo que desejar.

  • Os carimbos têm validade? Não. Você pode colecionar os carimbos ao longo do tempo, sem pressa. O importante é vivenciar cada etapa da sua maneira.

  • Crianças podem participar da jornada? Sim. O passaporte é uma ferramenta educativa e divertida também para crianças, que costumam se encantar com os carimbos e descobertas.

  • Há roteiros acessíveis para quem tem mobilidade reduzida? Sim. Algumas cidades oferecem infraestrutura adaptada, mas é importante verificar com antecedência os trechos e os pontos de carimbo.

  • É necessário reservar hospedagem com antecedência? Em feriados e alta temporada, o ideal é sim. Cidades como Tiradentes, Ouro Preto e Diamantina costumam ter alta demanda.

  • O que acontece quando completo todos os caminhos? Você pode solicitar um certificado de conclusão e, claro, guardar um passaporte cheio de histórias como lembrança da sua jornada.

O carimbo que sela uma conexão com Minas

O Passaporte da Estrada Real não é apenas uma proposta de turismo, mas um convite ao encontro: com o território, com suas histórias e com quem o habita. Ele transforma o jeito de viajar, substituindo a pressa por presença, e o roteiro apressado por experiências que realmente marcam.

Em tempos de viagens cada vez mais rápidas, esse passaporte propõe o contrário: vá devagar, olhe em volta, converse com quem cruza seu caminho. E descubra que o coração de Minas está em cada curva da estrada, em cada porta aberta, em cada carimbo que agora é também um gesto de afeto.

Sobre o autor:

Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.

Passaporte da estrada real com carimbos de cidade mineiras, entre elas Congonhas, Mariana e outras
Passaporte da estrada real com carimbos de cidade mineiras, entre elas Congonhas, Mariana e outras

Glaura/MG - Foto: Igor Souza

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