As Igrejas dessa cidade expõem relíquias do barroco mineiro
Descubra como as igrejas de Sabará exibem relíquias artísticas do barroco mineiro — uma viagem entre talhas douradas, pinturas rarefeitas e arquitetura colonial imperdível
Sabará, cidade turística em Minas Gerais, está a poucos quilômetros de Belo Horizonte e guarda um patrimônio religioso que emociona visitantes. Suas igrejas setecentistas revelam a força do barroco mineiro em altares dourados, pinturas e esculturas, compondo um conjunto arquitetônico que é também memória viva da fé e da arte colonial.
Igrejas do século XVIII com detalhes que mesclam fé, arte e história.
Obras de artistas do barroco mineiro, incluindo talhas e esculturas atribuídas a mestres reconhecidos.
Eventos culturais e religiosos que mantêm viva a tradição ligada a esses templos.
Quais igrejas fazem de Sabará um polo do barroco mineiro?
A fama de Sabará como guardiã do barroco está ligada ao número e à diversidade de igrejas do século XVIII ainda preservadas. Cada uma delas apresenta elementos que ajudam a compreender como o estilo se desenvolveu em Minas Gerais. A Capela de Nossa Senhora do Ó, datada de 1717, é talvez a mais emblemática: com fachada simples, mas interior ricamente decorado, reúne talha dourada, pinturas e influência chinesa nos ornamentos.
Já a Matriz de Nossa Senhora da Conceição representa a imponência do barroco em sua plenitude. Localizada no coração do centro histórico, ela impressiona pelo interior repleto de altares laterais e detalhes artísticos. Tombada pelo IPHAN desde 1938, passou por restauros que revelaram cores originais escondidas sob camadas de tinta, permitindo uma visão mais próxima do que os fiéis viam no século XVIII.
O que diferencia a Igreja do Carmo em Sabará?
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo foi erguida em 1763 pela Ordem Terceira do Carmo. Reconhecida por conter elementos atribuídos a Aleijadinho, como relevos e esculturas, o templo expressa a fase madura do barroco mineiro, já com traços rococós. Seu interior guarda altares laterais, púlpitos e tribunas que evidenciam a riqueza da ornamentação da época.
O frontispício e a talha interna reforçam a importância desta igreja para o conjunto arquitetônico de Sabará. É um exemplo de como o barroco não se limitava apenas à estética, mas também representava a devoção e a identidade das irmandades religiosas que a mantinham.
Qual a importância da Igreja de Nossa Senhora das Mercês?
Localizada no Centro Histórico, em posição elevada, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês foi erguida no final do século XVIII pela Irmandade homônima. Sua fachada discreta contrasta com a imponência das igrejas vizinhas, revelando um barroco mais contido, mas igualmente expressivo.
O interior apresenta ornamentação sóbria, com talha moderada e linhas arquitetônicas que permitem ao visitante observar outra face do estilo colonial. A localização estratégica proporciona uma bela visão do conjunto urbano, reforçando a relevância do templo no cenário cultural e religioso de Sabará.
Relíquias preservadas: onde encontrá-las além do centro histórico?
Embora o centro seja a principal vitrine, distritos de Sabará também abrigam igrejas coloniais. No distrito de Ravena, por exemplo, está a Matriz de Nossa Senhora da Assunção, templo com registros de batismo desde 1727 e reconhecido pelo seu acervo barroco. O distrito de Pompéu guarda a Capela de Santo Antônio, que preserva características da primeira fase do barroco, marcada por simplicidade e simbolismo.
No Arraial Velho, outro marco da ocupação inicial da região, a Capela de Sant’Ana mantém estrutura em pedra e detalhes de estilo Dom João V. Essas construções demonstram que a herança religiosa de Sabará não se limita ao centro, mas se espalha pelo território, ampliando a experiência de quem deseja mergulhar na história do barroco mineiro.
Como essas igrejas revelam a fusão entre fé e arte?
Entrar em uma igreja de Sabará é, ao mesmo tempo, um exercício espiritual e uma experiência estética. A decoração interna dos templos apresenta talha dourada com volutas, motivos florais e colunas torsas. Os tetos pintados exibem cenas religiosas que narram passagens bíblicas, enquanto as esculturas representam santos cultuados desde o período colonial.
Esses elementos mostram como a arte barroca foi utilizada como instrumento de catequese, ensinando a fé por meio da beleza e da dramaticidade visual. O uso de materiais como madeira de jacarandá e o trabalho artesanal detalhado reforçam a conexão entre técnica e devoção.
O que visitar em uma rota pelo centro histórico de Sabará?
Planejar uma caminhada pelo centro histórico é a melhor maneira de conhecer de perto esse patrimônio. Em um percurso relativamente curto, é possível visitar:
Capela de Nossa Senhora do Ó, com interior surpreendente.
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, tombada pelo IPHAN.
Igreja de Nossa Senhora do Carmo, com obras ligadas a Aleijadinho.
Igreja de Nossa Senhora das Mercês, exemplo de sobriedade barroca.
Ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, inacabada após a abolição.
Cada parada revela aspectos diferentes do barroco mineiro, compondo um roteiro que combina contemplação artística e aprendizado histórico.
Como a preservação garante o futuro desse patrimônio?
O tombamento do centro histórico de Sabará pelo IPHAN e as ações de restauração realizadas em várias igrejas foram fundamentais para a conservação desses bens. Processos de restauro removeram camadas de tinta e revelaram cores originais, além de recuperar pinturas e elementos estruturais comprometidos pelo tempo.
Essas intervenções mostram a importância de políticas de preservação para manter viva a memória cultural. Ao visitar uma igreja restaurada, o turista tem a oportunidade de ver mais de perto como eram os espaços de culto durante o auge do ciclo do ouro em Minas Gerais.
A vantagem turística de Sabará
A localização próxima a Belo Horizonte facilita o acesso, tornando a cidade uma opção prática para roteiros culturais e históricos. Além das igrejas, Sabará se destaca por eventos que atraem visitantes durante todo o ano, como o Festival da Jabuticaba e o Festival do Ora-pro-nóbis. Essas festas reforçam o elo entre tradição religiosa, gastronomia e cultura popular.
Outro diferencial está no conjunto de casarões coloniais e chafarizes espalhados pela cidade. O Chafariz do Kaquende, por exemplo, é um dos mais conhecidos e está associado a uma lenda segundo a qual quem bebe de suas águas sempre retorna a Sabará. Esses elementos ampliam o interesse turístico e conectam a experiência religiosa à vivência cotidiana da cidade.
+ Leia também: Trilha pouco conhecida leva a uma das paisagens mais raras do Brasil
Um convite para conhecer Sabará
As igrejas de Sabará não são apenas construções antigas, mas verdadeiros repositórios de história, fé e arte. Cada detalhe — do dourado das talhas às pinturas escondidas nos forros — revela um capítulo da trajetória do barroco mineiro. Ao visitar essa cidade turística em Minas Gerais, o viajante tem a chance de percorrer séculos em poucas ruas, conectando-se a tradições que seguem vivas.
Sabará convida você a descobrir sua herança barroca, caminhar por suas ladeiras históricas e se deixar surpreender por relíquias que ainda hoje emocionam quem chega. Uma experiência que une espiritualidade e cultura em um só destino.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.
Sabará/MG - Foto: Igor Souza