Esse destino mineiro está entre os mais procurados do Brasil
A Serra do Cipó, em MG, é um ímã para viajantes. Com cachoeiras e biodiversidade única, descubra por que este destino é tão procurado


Serra do Cipó/MG - Foto: Igor Souza
Perto da capital, mas em um mundo à parte, existe um destino que pulsa com a força das águas e a singularidade da flora. A Serra do Cipó, em Minas Gerais, consolidou-se como um dos refúgios de ecoturismo mais procurados do país. Não é um exagero; é um fato impulsionado por uma combinação de acesso fácil, infraestrutura robusta e uma natureza monumental que define a grandiosidade da Serra do Espinhaço.
O Parque Nacional e sua biodiversidade ímpar.
As cachoeiras monumentais, como a Farofa e a Cachoeira Grande.
A charmosa vila principal e o refúgio rústico de Lapinha da Serra.
Por que a Serra do Cipó atrai tantos viajantes?
A popularidade da Serra do Cipó em Minas Gerais não é um mistério: é um caso clássico de localização estratégica aliada a atributos naturais de primeira grandeza. A menos de 100 quilômetros de Belo Horizonte, o destino se tornou a principal "praia" de água doce dos mineiros da capital, um escape rápido de fim de semana que oferece uma imersão profunda na natureza sem exigir longos deslocamentos.
Essa facilidade de acesso pela rodovia MG-010 (parte da histórica Rota Lund) criou uma infraestrutura turística sólida. A "rua principal", que na verdade é a própria rodovia cortando o distrito de Santana do Riacho, é repleta de pousadas charmosas, restaurantes de comida mineira e lojas de aventura, atendendo desde o aventureiro que busca trilhas longas até famílias que procuram apenas um banho de rio e descanso.
O Berço da Biodiversidade na Serra do Espinhaço
O que realmente torna a Serra do Cipó um destino singular em escala nacional é o seu ecossistema. A região é o coração da porção sul da Serra do Espinhaço, uma cadeia de montanhas reconhecida pela UNESCO como Reserva da Biosfera. A paisagem que o visitante encontra não é de mata atlântica densa, mas de campos abertos, rochosos e repletos de espécies de flora que, em muitos casos, só existem ali.
Botânicos e paisagistas, incluindo o célebre Roberto Burle Marx, consideravam esta área o "Jardim do Brasil". A vegetação predominante é o campo rupestre, um bioma que floresce sobre rochas de quartzito com pouquíssimos nutrientes. É um ambiente de aparência frágil, mas extremamente resiliente, famoso por suas canelas-de-ema, orquídeas raras e, claro, as sempre-vivas, que se tornaram símbolo da região e, infelizmente, alvo de extrativismo no passado.
Quais são as cachoeiras mais emblemáticas da região?
A Serra do Cipó é, acima de tudo, um destino de águas. O Rio Cipó, um dos rios mais limpos do estado, corta a região formando praias fluviais, cânions e, principalmente, cachoeiras espetaculares. O Parque Nacional da Serra do Cipó, administrado pelo ICMBio, é o guardião das nascentes e das quedas d'água mais selvagens, sendo a principal atração para quem busca o ecoturismo em sua forma mais pura.
Duas cachoeiras principais exemplificam a diversidade de experiências do local, e a escolha entre elas geralmente define o tipo de passeio que o visitante procura. Uma exige esforço e planejamento dentro da unidade de conservação; a outra oferece acesso fácil e estrutura privada, mostrando como o destino consegue ser democrático em suas ofertas de lazer.
A Jornada até a Cachoeira da Farofa
Dentro dos limites do Parque Nacional da Serra do Cipó, a Cachoeira da Farofa é a recompensa clássica. O acesso é feito a pé ou de bicicleta por uma trilha de cerca de 8 quilômetros (ida), totalmente plana e bem demarcada, conhecida como Trilha dos Escravos. A caminhada em si já é um passeio, cruzando riachos e os campos rupestres com vista para o Cânion das Bandeirinhas.
Após a jornada, a visão da Farofa, com sua longa queda d'água formando um poço extenso e profundo, ideal para nado, compensa todo o esforço. É uma experiência de imersão total na natureza protegida, sem nenhuma estrutura comercial ao redor, apenas o som da água e a paisagem da serra. É fundamental levar água, lanche e protetor solar, pois não há pontos de apoio no trajeto.
Cachoeira Grande: Acesso e Estrutura
Fora dos limites do parque, mas igualmente famosa, está a Cachoeira Grande. Localizada em uma propriedade particular (com cobrança de entrada), ela é a antítese da Farofa em termos de acesso. Uma trilha de poucos minutos, muito fácil e bem cuidada, leva o visitante à base da imponente queda d'água, que na verdade são várias quedas formando um complexo de poços.
Sua popularidade se deve a essa facilidade e à sua beleza cênica, sendo um dos cartões-postais da Serra do Cipó em Minas Gerais. É o local preferido por famílias e por quem tem menos tempo, oferecendo uma experiência de cachoeira com infraestrutura de lanchonete e banheiros. É importante notar que, em feriados, costuma ficar bastante movimentada.
A região oferece um leque variado de atividades de natureza:
Canoagem e stand-up paddle no Rio Cipó.
Banhos no Poço Azul e Cachoeira de Baixo.
Passeios a cavalo pelas trilhas.
Observação de pássaros (birdwatching).
Trekking para o Cânion das Bandeirinhas.
Visita à estátua do Juquinha, figura folclórica local.
Rapel e escalada em diversos pontos.
A Serra do Cipó é apenas para quem busca aventura?
Embora as trilhas e cachoeiras sejam o carro-chefe, a Serra do Cipó evoluiu para ser um destino de bem-estar e gastronomia. O vilarejo principal (distrito de Santana do Riacho) tem visto um crescimento no número de restaurantes sofisticados, que mesclam a culinária mineira com técnicas contemporâneas, muitos deles com vistas deslumbrantes para a serra.
A busca por sossego também é um grande atrativo. Muitas pousadas investem em spas, piscinas climatizadas e decks de yoga, atraindo um público que não necessariamente vai fazer trilhas longas. Essas pessoas buscam o ar puro, a contemplação da paisagem ao pôr do sol e o som do rio, encontrando no destino um refúgio para recarregar as energias perto da capital.
Lapinha da Serra: O refúgio rústico dentro do destino
A cerca de 40 quilômetros do centro do Cipó, mas ainda dentro do mesmo contexto geográfico e município (Santana do Riacho), fica o vilarejo de Lapinha da Serra. Este distrito, acessível por uma estrada de terra, é um destino em si, procurado por quem busca uma experiência ainda mais rústica, autêntica e desconectada, com um charme que lembra a "Búzios mineira" de décadas atrás.
O cenário da Lapinha é dominado pela vasta Lagoa da Lapinha (represa de Coronel Afonso Mascarenhas) e pelo imponente Pico da Lapinha. A vila, com suas casinhas simples e ruas de terra, tem uma atmosfera boêmia e tranquila, sendo um polo para escaladores, praticantes de trekking e quem busca o silêncio absoluto.
As principais atrações da Lapinha são:
Pico da Lapinha (considerado um trekking difícil).
Travessia Lapinha-Tabuleiro.
Banhos na Lagoa da Lapinha.
Cachoeira do Rapel.
Qual o legado histórico da região?
Embora a Serra do Cipó seja hoje um sinônimo de ecoturismo, seu território é histórico. A região era parte do Caminho dos Diamantes, um dos traçados da Estrada Real. A serra era uma barreira natural formidável que os tropeiros precisavam cruzar em sua jornada entre o Serro, Diamantina e o litoral, passando por Conceição do Mato Dentro.
Não foi uma área de grande povoamento ou de extração de ouro, como Ouro Preto, mas sim uma zona de passagem e de fazendas de subsistência. O legado que ficou é o da rota, das histórias dos viajantes e da própria paisagem, que foi registrada por naturalistas europeus no século XIX, como Auguste de Saint-Hilaire, maravilhados com a flora exótica que encontravam ali.
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O patrimônio que se renova
A Serra do Cipó conseguiu algo complexo: tornou-se um destino de massa sem perder sua essência selvagem. O Parque Nacional atua como o coração protegido que garante a integridade da paisagem, enquanto a infraestrutura ao redor permite que milhares de pessoas tenham acesso a essa beleza de forma controlada, gerando renda e conscientização.
Visitar a Serra do Cipó é, portanto, entender esse equilíbrio. É a chance de testemunhar um dos biomas mais ricos e antigos do planeta, seja em uma longa travessia de trekking ou em um simples mergulho no rio. É um destino que se renova a cada estação, provando que sua popularidade não é passageira, mas um reconhecimento merecido de sua importância natural e cultural para Minas Gerais e para o Brasil.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


