O trem que uniu Bahia e Minas e deixou marcas no interior brasileiro
Descubra a história da Estrada de Ferro Bahia–Minas em Ladainha, Minas Gerais, e entenda como o trem ligou cidades e transformou o interior
As ferrovias marcaram profundamente a história do Brasil, conectando regiões e transformando cidades que antes viviam isoladas. A Estrada de Ferro Bahia–Minas, que também passou por Ladainha, em Minas Gerais, é um exemplo de como os trilhos foram capazes de aproximar culturas, dinamizar economias e deixar um legado que ainda ecoa na memória de muitas comunidades.
Conectava o nordeste mineiro ao sul da Bahia.
Transformou cidades pequenas em polos de comércio e convivência.
Deixou estações, memórias e histórias preservadas no interior brasileiro.
O que foi a Estrada de Ferro Bahia–Minas?
A Estrada de Ferro Bahia–Minas foi uma linha ferroviária criada para integrar o estado da Bahia ao interior de Minas Gerais. O objetivo principal era transportar produtos agrícolas e minerais, além de passageiros que dependiam de melhores rotas para circular entre as duas regiões.
A ferrovia ligava Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais, até Ponta de Areia, no município de Caravelas, na Bahia, cortando diversas cidades pelo caminho. Ao longo de seus mais de 500 quilômetros de trilhos, o trem se tornou elo vital para comunidades interioranas, permitindo o escoamento de produtos agrícolas e minerais, além de aproximar o sertão mineiro do litoral baiano. Essa rota reforçava a importância da Estrada de Ferro Bahia–Minas como um dos projetos de integração regional mais marcantes de sua época.
Como a ferrovia mudou a vida em Ladainha, em Minas Gerais?
A presença da linha férrea em Ladainha foi decisiva para a transformação do município. Antes, a região dependia basicamente da agricultura e da pecuária em pequena escala. Com a ferrovia, tornou-se possível comercializar produtos com maior facilidade, recebendo insumos e exportando o que era produzido no campo.
Além disso, a chegada do trem modificou a paisagem urbana. A estação se tornou um ponto de encontro, onde moradores se reuniam para esperar mercadorias, viajar ou simplesmente acompanhar a movimentação que passava a dar um novo ritmo à cidade.
O simbolo que era viajar de trem pela Estrada de Ferro Bahia–Minas
Viajar de trem era mais do que um meio de transporte — era um acontecimento. A cada apito que ecoava pelos vales, as famílias se aproximavam das estações, acenando para quem partia ou esperando ansiosas quem chegava. Dentro dos vagões, viajantes de diferentes cidades mineiras e baianas compartilhavam histórias, risadas, esperanças e o cheiro do café recém-passado que acompanhava longas conversas. Era uma convivência que ia muito além do trajeto físico: unia culturas, sotaques e modos de vida.
Para muitos, a Estrada de Ferro Bahia–Minas simbolizava o progresso. Era o elo entre o interior e o litoral, o campo e a cidade, a rotina simples e as novidades que vinham nos vagões de carga e nos jornais trazidos de longe. Os trens transportavam sonhos, mercadorias e notícias — e com eles, o sentimento de pertencimento a algo maior, uma rede que ligava comunidades antes isoladas.
Em Ladainha, o embarque no trem representava mais que deslocamento: era a ponte entre o cotidiano rural e o “mundo lá fora”. A ferrovia ligava os moradores a Teófilo Otoni, onde muitos buscavam comércio, estudos e atendimento médico, e também seguia rumo ao sul da Bahia, abrindo caminhos para novas oportunidades. O trem era a esperança em movimento, levando e trazendo pessoas, produtos e histórias que marcavam a vida da cidade.
Nos dias de chegada do trem, o som dos trilhos se misturava ao burburinho da estação. Crianças observavam curiosas, vendedores ambulantes ofereciam quitandas e os adultos se reuniam para conversar. Aquele era o ponto de encontro da comunidade, o lugar onde o tempo parecia correr diferente. A cada parada, mais que passageiros, o trem transportava a própria alma do interior mineiro — com sua mistura de saudade, simplicidade e encanto.
Quais marcas a ferrovia deixou no interior de Minas e Bahia?
Embora não esteja mais em operação, a Estrada de Ferro Bahia–Minas deixou marcas visíveis e invisíveis. Em muitas cidades, antigas estações ainda resistem, algumas em ruínas, outras adaptadas para novos usos.
Mas as memórias também permanecem vivas: o apito do trem, as despedidas nas plataformas e a expectativa da chegada de novidades são lembranças que compõem a identidade coletiva das cidades ligadas pela ferrovia.
Em Ladainha, uma das marcas físicas mais expressivas é o pontilhão, estrutura construída para permitir a passagem do trem sobre áreas de desnível e cursos d’água. Mesmo após o fim das operações, o pontilhão segue de pé, como testemunho silencioso da época em que os trilhos cortavam o município. Ele se tornou um símbolo da presença ferroviária e da engenhosidade que o período representou.
Entre os legados mais citados estão:
Integração regional, unindo localidades antes isoladas.
Crescimento econômico, com maior circulação de mercadorias.
Memória cultural, preservada em relatos de moradores e em documentos históricos.
Patrimônio material, como o pontilhão e as antigas estações, que ainda resistem ao tempo.


Ladainha/MG - Foto: Igor Souza
Por que Ladainha guarda um papel simbólico nessa história?
Ladainha representa o elo entre o interior de Minas Gerais e a Bahia, mostrando como cidades aparentemente pequenas tiveram importância em um processo de integração regional. Sua estação e os trilhos que cortaram a cidade marcaram gerações, revelando o quanto a ferrovia alterou destinos e transformou a vida de quem vivia no Vale do Mucuri.
Um dos marcos mais lembrados por quem viajava de trem pela Estrada de Ferro Bahia–Minas é a Pedra Marta Rocha, formação rochosa que se tornou referência visual para os passageiros. Era comum que os viajantes reconhecessem que estavam chegando a Ladainha assim que avistavam a pedra ao longe — um sinal de que o destino se aproximava. Para muitos, aquele momento representava não apenas um ponto no trajeto, mas o reencontro com familiares, amigos e com o ritmo acolhedor da cidade.
Hoje, ao se falar em Ladainha, ainda é comum ouvir moradores mais antigos relatarem como o trem fez diferença na vida cotidiana. Essa memória, passada de geração em geração, mantém viva a relevância da ferrovia na formação do município e reforça o papel da Pedra Marta Rocha como símbolo de identidade local, guardando histórias e emoções de uma época em que os trilhos uniam territórios e pessoas.


Ladainha/MG - Foto: Igor Souza
A ferrovia pode ser considerada um patrimônio cultural?
Sim. Embora muitas estações estejam abandonadas, a Estrada de Ferro Bahia–Minas é considerada parte importante da memória cultural e histórica do interior brasileiro. Ela ajudou a moldar o desenvolvimento de cidades como Ladainha, cuja história não pode ser contada sem mencionar os trilhos.
Projetos de resgate e preservação já foram discutidos em várias localidades, mas a realidade é que grande parte da estrutura física não resistiu ao tempo. Ainda assim, a ferrovia permanece como símbolo da época em que o trem era sinônimo de progresso e de ligação entre diferentes mundos.
Existe turismo ligado à Estrada de Ferro Bahia–Minas?
Atualmente, não há linhas ativas para passeios turísticos regulares nessa ferrovia, como acontece em outros trechos de Minas, a exemplo da Maria Fumaça entre Tiradentes e São João del Rei. No entanto, o interesse pela memória ferroviária tem crescido, e há pesquisadores, moradores e iniciativas locais que buscam valorizar o patrimônio deixado pela Estrada de Ferro Bahia–Minas.
Em Ladainha, essa valorização passa pela lembrança da estação e pelas histórias contadas por quem viveu a experiência do trem. Para o visitante, conhecer essa memória é uma forma de entrar em contato com um capítulo importante da identidade mineira e baiana.
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O que a Estrada de Ferro Bahia–Minas nos ensina?
A Estrada de Ferro Bahia–Minas, que passou por Ladainha em Minas Gerais, mostra como o trem foi mais do que um transporte: foi instrumento de integração, desenvolvimento e transformação cultural. Mesmo desativada, a ferrovia continua presente na memória coletiva, revelando a importância dos trilhos na história do Brasil.
Visitar Ladainha hoje é também revisitar esse passado, enxergando nas ruas, na paisagem e nos relatos das pessoas a marca deixada pelos trens. É um convite a refletir sobre como as conexões entre lugares e pessoas moldam o presente e podem inspirar o futuro.
Quem busca conhecer Minas além dos roteiros mais famosos encontra em Ladainha e na história da Estrada de Ferro Bahia–Minas um capítulo que merece ser lembrado e explorado. Afinal, entender o passado dos trilhos é também compreender a riqueza cultural que ainda pulsa no interior do Brasil.
Sobre o autor:
Igor Souza é criador do Olhares por Minas, fotógrafo e especialista em turismo mineiro. Viaja por cidades históricas, cachoeiras e vilarejos, buscando contar as histórias que Minas tem a oferecer. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.


Ladainha/MG - Foto: Igor Souza